Acredito que todos conheçam a história bíblica do dilúvio. Não, não contarei esta história. Escreverei sobre o que aconteceu depois.
Como todos sabem, ou deveriam saber, Noé e sua família ficaram numa arca cheia de animais por quase cinco meses. Na arca, estavam, além de Noé, sua esposa, os três filhos, Sem, Jafé e o caçula Cam, e suas esposas. E, é claro, de centenas de casais de animais selvagens e domésticos.
Imaginem o cheiro do lugar, o barulho ensurdecedor, o trabalho constante e ainda escutar as reclamações da esposa: “Noé, os macacos estão brigando!”, “Noé, estou com vontade de comer um doce!”, “Noé, acabou o papel!” e, por fim, “Noé, você ainda me ama?”. Que estresse Noé deve ter passado!
Por tudo isso, quando saiu da arca, o patriarca construiu um altar onde realizou um holocausto a Deus. Ali, Noé agradeceu a libertação divina.
Em seguida, o patriarca bíblico plantou uma videira. Quando finalmente colheu a primeira safra de uvas, tratou de fazer vinho. O primeiro vinho pós-dilúvio não deve ter sido muito saboroso. Mas, mesmo assim, Noé recolheu-se em sua tenda, acendeu uma fogueira e encheu a cara.
Cam, um dos três filhos do ancião, viu a sombra do pai na parede da tenda. Provavelmente Noé estava dançando, alegre, feliz e aliviado. Cam foi até onde estava o pai e viu que ele estava nu. Peladão e dançando!
A reação de Cam foi a de pegar o grogue pai pela mão e leva-lo até os irmãos. Cam deveria estar às gargalhadas, debochando do bebum. Mas Sem e Jafé tiveram uma reação bem diferente. Repreenderam a atitude do irmão, cobriram o pai e o levaram de volta à tenda.
No dia seguinte, Noé, provavelmente com a maior ressaca, chamou Cam para uma conversa. O ancião olhou no fundo dos olhos do filho, como não percebeu arrependimento, o amaldiçoou. Segundo Noé, Cam e sua descendência estavam condenados a servir na tenda dos irmãos. Para o patriarca, o filho caçula era, agora, maldito sobre a terra.
Noé foi cruel com o filho? A resposta é simples: não.
Mas, para entender melhor o que aconteceu, precisamos compreender quem realmente era Noé nesta história toda. Esta tudo lá no livro de Gênesis. Noé havia sido escolhido por Deus para preservar a criação divina, pois ele era o único justo sobre a terra. Noé era o representante de Deus entre os homens, na verdade ele era a maior autoridade humana naquele momento. A atitude de Cam, não foi simplesmente a de humilhar o pai, mas a de humilhar e desrespeitar um sacerdote. Quando Cam humilhou o pai demonstrou sua falta de respeito àquele que era a maior autoridade que existia sobre a sua vida. Por isso, foi amaldiçoado.
Hoje, qualquer um pode perceber o desrespeito que existe para com as autoridades, sejam elas de que esferas forem. São pessoas que não respeitam policiais. Professores que são desrespeitados por alunos. Filhos que não obedecem aos pais. Jovens que abusam dos mais velhos. Para alguns, a culpa é da atual geração que cresce com excesso de liberdade, mas a verdade é que os desrespeitados, citados acima, também não respeitam seus pares.
Nas escolas que leciono, converso com pais que justificam a má educação dos filhos, afirmando que eles têm déficit de atenção ou hiperatividade ou outra patologia qualquer que foi lida em uma revista. Mas após consultarem especialistas, fica claro que o problema dos filhos é pura e simplesmente falta de limites. Fazem o que querem, não sabem se sujeitar às autoridades. Na verdade nem os pais sabem!
Presencio constantemente cenas de desrespeito, não só de alunos, mas também de professores que não se dão nem ao trabalho de respeitarem à execução do hino nacional, ao invés de darem o exemplo ficam conversando sobre novela ou Big Broder, tudo para eles é mais importante do que o momento cívico. Como cobrar postura diferente de seus alunos? E o que falar de meninas de 12 ou 13 anos que se vestem, perdoem-me a palavra, como prostitutas (usam micro saias, maquiagem, piercings e tatuagens com conotação sexual), me perdoem se soar conservador, mas essas meninas não respeitam nem as limitações de suas idades e, pasmem, têm a aprovação dos pais.
O que nos falta é educação. Se a sociedade brasileira tivesse um pouco do respeito que Sem e Jafé tiveram pelo pai, talvez nosso país não fosse obrigado a servir na tenda de outras nações.
Marcos Faber
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