Quatro Vezes Você do Capital Inicial e a Corrupção Humana
História do Brasil e do Mundo

Quatro Vezes Você do Capital Inicial e a Corrupção Humana


   
Estava escutando a música “Quatro Vezes Você” da banda brasileira Capital Inicial, ao ouvir a música foi impossível não pensar naquelas coisas que eu faço somente quando não estou sendo vigiado, ou melhor, quando tenho a certeza de que não há alguém me vendo. Sabe..., coisas que nós fazemos somente em nossa intimidade, como os pensamentos que temos, mas que não podemos colocar para fora.

Apesar da música não tratar, em seu conteúdo, de temas muito polêmicos, o refrão é muito forte “O que você faz quando / Ninguém te vê fazendo / Ou o que você queria fazer / Se ninguém pudesse te ver”.

Como professor, ouço o que os meus alunos falam sobre suas vidas, ouço suas queixas, suas insatisfações com a família, com a vida, com amigos, com os estudos. Mas o mais curioso de tudo é que quase todos se acham injustiçados, são vítimas dos problemas criados pelos outros. Raramente se veem como a causa central dos seus próprios problemas. Mas essa forma de pensar não é exclusividade de meus alunos.

Essa facilidade em enxergar a causa de nossos problemas como algo externo a nós mesmos é uma falha de percepção. Pois se o “outro” é a causa de meus problemas, certamente, eu sou a causa dos problemas de muitos “outros”. Por esta perspectiva todos são a causa do problema de alguém e ninguém é a causa de seus próprios problemas. Obviamente esse raciocínio é equivocado.

Portanto, onde estão as causas de nossos problemas individuais ou das injustiças sociais? Creio que em nós mesmos. Nós somos a causa e o efeito dos problemas que criamos. Entretanto, também somos a solução para esses problemas. Assim, bastaria uma mudança em nossa atitude para que a situação-problema fosse transformada.

Um bom exemplo disso está na política brasileira e no crônico problema da corrupção em nosso país. Com isso, a questão é: Se estivéssemos lá, no Congresso Nacional, faríamos diferente?

Para saber, precisamos identificar algumas coisas a respeito de nós mesmos. Coisas do tipo: como é o nosso comportamento no trânsito quando não há uma autoridade no local, será que respeitamos as sinalizações? E quando exigimos nossos direitos, será que cumprimos com todos os nossos deveres? Quando um caixa de supermercado ou um trocador de ônibus nos dá o troco a menos, conferimos e exigimos o troco correto, certo? E quando o troco é a mais, nos favorecendo? Devolvemos ou ficamos com o dinheiro?

Ou como questiona a música, “o que você queria fazer se ninguém pudesse te ver?” Valendo qualquer coisa!!! Será que realmente somos tão diferentes das pessoas que fazem a política no Brasil? Será que se lá estivéssemos faríamos diferente? Afinal, uma coisa é não se corromper por falta de oportunidade, outra é ter a oportunidade e não se corromper.

Não estou afirmando que todos se corromperiam ou que a corrupção é algo normal, ao contrário, apenas gostaria que todos nós refletíssemos sobre o nosso comportamento frente às oportunidades que nos surgem. Afinal, se a causa dos nossos problemas está em nós mesmos, certamente a solução também estará. Cabendo a cada um refletir sobre seu papel no processo de corrupção da sociedade brasileira, ou será que existe corrupção só na política? Ou será que somente os outros são corruptos?

Isso me lembra de outra música “Vossa Excelência” dos Titãs que faz um desabafo sobre a atuação de muitos de nossos políticos “Sorrindo para a câmera / Sem saber que estamos vendo / Chorando que dá pena / Quando sabem que estão em cena / Sorrindo para as câmeras / Sem saber que são filmados / Um dia o sol ainda vai nascer / Quadrado!” e logo desabafa “Filha da Put...! / Bandido! Senhores! / Corrupto! Ladrão!”.

Somos diferentes deles? Será? Tomara que sim!

Ou será, que como Pilatos, lavamos nossas mãos com a ilusão de que não temos parte na corrupção que assola o nosso país? Mas o que parece que esquecemos é que fomos nós mesmos quem os colocou lá.

Por isso, fica a dúvida, “O que você faz quando ninguém te vê fazendo?

Marcos Faber
www.historialivre.com
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