História do Brasil e do Mundo
Sob a névoa da guerra
Cruzada é uma palavra com conotações bem diferentes para cristãos e muçulmanos. Sobretudo se ela for pronunciada em um país árabe. No Ocidente cristão ela significa campanha com objetivo de alcançar algum bem. Por exemplo: promover uma cruzada contra ´tráfico de drogas’. Já nos países muçulmanos ela tem sentido negativo, pois traz à memoria toda a violência cometida pelos cruzados na luta pela reconquista da Terra Santa. A matéria a seguir faz referência a essa diferença.
“Deus quer assim!” As palavras saíram da boca de Urbano II em 1095, quando papa convocou a Europa cristã a reconquistar a Terra Santa dos “infiéis”, iniciando as Cruzadas. Mas poderiam ter sido ditas por George Bush II, que se declarou “cristão renascido” em 1999. […] [Após os atentados de 11 de setembro de 2001, Bush afirmou que era preciso lançar uma “Cruzada” contra os terroristas muçulmanos responsáveis pela destruição das torres gêmeas do World Trade Center de Nova York. Como os governos de países muçulmanos aliados dos Estados Unidos reagiram mal à utilização da palavra “Cruzada”, Bush passou a falar de “guerra contra o terror”.] Este contexto não-assumido do filme Cruzada [Kingdom of Heaven], superprodução hollywoodiana de 130 milhões de dólares (326,89 milhões de reais) […] Com Cruzada, [o diretor britânico] Ridley Scott completa sua, digamos, “Trilogia do Império”, que começou com Gladiador, em 2000, e teve Falcão negro em perigo, de 2001, no meio. São três filmes em que o britânico louva de maneira incondicional o império norte-americano, primeiro como sucessor […] do Império romano, depois como libertador de selvagens mal agradecidos na África e agora como condutor da nova “guerra santa” que se impõe. […] O diretor, entretanto, discorda dessa análise,] como afirmou em entrevista. […]. Diz que quando se interessou pelo projeto de Cruzada estava apenas em busca da semelhança entre o cavaleiro e o caubói, ambos heróis solitários que fazem justiça com as próprias mãos e respondem apenas a uma ética própria porém guiada por valores maiores e universais. E nega qualquer propósito político […] Desde a virada do século, porém, talvez como gratidão pelo sucesso financeiro alcançado […] nos Estados Unidos (seus 13 filmes norte-americanos renderam quase 800 milhões de dólares, cerca de 2 bilhões de reais), Scott virou uma espécie de braço audiovisual da coalizão anglo-americana formada principalmente a partir do 11 de setembro. DÁVILA, Sérgio. Sob a névoa da guerra. Folha de São Paulo, 04/05/2005 |
Trailer Cruzadas – direção. Ridley Scott, 2005. História de um jovem ferreiro que se torna cavaleiro para lutar por Jerusalém durante uma das Cruzadas.
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