Grandiosas e eloqüentes campanhas anti-violência pregam a intervenção federal, a utilização das forças armadas, o endurecimento de penas, a guerra sem tréguas contra os crimes e os criminosos. Mas, que guerra é essa?
Alguns responderiam: a guerra contra o narcotráfico que fere também abusiva e violentamente os mais elementares direitos.
Mas, que guerra é essa? ? continuaríamos perguntando ? que mata, em sua grande maioria, jovens pobres, negros, do sexo masculino, de 15 a 24 anos de idade ? segundo pesquisa do IBGE de 2000? Quem os mata? Alguns casos citados nos principais meios de comunicação de massa apontam para agentes do Estado: policiais militares e civis. Entretanto, nas matérias da imprensa isto não é analisado. Por que? E, quem são esses jovens mortos? Todos traficantes e/ou criminosos? Todos pertencentes ao outro ?exército? que está em luta com ?as forças da lei e da ordem??
Como, efeito da afirmação desse ?estado de guerra? cresce o terror, o pânico, o medo, a insegurança. Quem melhor para guerrear nesta situação? Quem dizem possuir competência, experiência, credibilidade e incorruptibilidade? As Forças Armadas, sobretudo o Exército que se notabilizou na também ?guerra? contra os ?terroristas? dos anos 60 e 70, em nosso país.
Em especial, seus serviços secretos de informações, alardeiam os que, naquele passado recente, aplaudiam as violências contra os que colocavam em risco a ?segurança do regime?. Hoje, a ?democracia? exige também medidas duras e repressivas. Contra quem, efetivamente? Em cima de quem têm recaído essas medidas, esse rigor penal?
Será por mero acaso que as manchetes dos grandes jornais vêm se referindo à situação fluminense como ?subversão da ordem?, ?guerra do tráfico?, ?guerra do Rio?? O que se quer fortalecer com isto? Contra quem, em realidade, essa ?guerra? vem sendo orquestrada?
A militarização da segurança pública vem se fortalecendo em nível planetário. Não por acaso, sua eficiência vem sendo proclamada no contexto atual de Estado mínimo, de desmoralização/corrupção dos poderes públicos, de polítcas públicas ineficazes, de sucateamento dos serviços públicos, em especial saúde e educação. A pesquisa do IBGE já citada mostra que os homicídios cresceram 130% em 20 anos no país. Justamente nesse período os serviços públicos vão sendo esvaziados pela política neoliberal que se implanta.
Não por acaso, a lógica militarista/repressiva vem sendo a grande vencedora nesses tempos. Voltam com força os que pregam penas mais duras, prisão perpétua, baixa da idade penal e até pena de morte. Instala-se o terror penal. Fortalece-se o mito de que penas mais severas seriam a resposta à violência. Entretanto, por que isto não tem ocorrido? Por que tal quadro só tem se agravado?
A adoção do modelo norte-americano de ?tolerância zero?, ?de limpeza policial das ruas e do aprisionamento maciço dos pobres, dos inúteis e dos insubmissos à ditadura do mercado desregulamentado só irá agravar os males de que já sofre a sociedade brasileira?, alerta o sociólogo Lois Wacquant.
Antes de, no calor dos acontecimentos e de forma impulsiva, apontarmos soluções mágicas para a questão da violência, não seria mais prudente fazermo-nos algumas perguntas? Por que não estranharmos algumas informações que nos são passadas de forma dramática e, mesmo, terrorista? Por que a ?guerra contra o tráfico? deverá justificar violações, em muitas situações, até maiores do que as cometidas pelos criminosos?