História Contemporânea, Contemporaneidade, Século XX
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História Contemporânea, Contemporaneidade, Século XX


HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA E SEUS DESDOBRAMENTOS

Falar sobre uma história contemporânea atualmente significa discorrer sobre o uso e a apropriação do termo por parte dos historiadores, entender seu processo, suas delimitações e suas possibilidades. Isso porque, além de trazer consigo significados diversos, cabe a nós problematizarmos a utilização deste termo, que, para muitos, até então, caracteriza uma época seguida da modernidade.
Há uma grande dificuldade em delimitar o início desta era. Há várias datas e períodos[1] que podem ser encarados como término da modernidade e início da contemporaneidade ou pós-modernidade. Porém, esta delimitação é mais política do que histórica, de acordo com Geoffrey Barraclough. Segundo o autor, “a palavra contemporâneo significa, inevitavelmente, coisas diferentes para pessoas diferentes; o que para mim é contemporâneo não o será, necessariamente, para todos vós.” (BARRACLOUGH, 1964, p. 15).
As experiências pessoais têm um peso essencial nessa delimitação. Nossa concepção de mundo modela nossas análises e isso faz com que nossas interpretações sejam carregadas de parcialidades e particularismos. Assim, a demarcar o início da contemporaneidade, nesta perspectiva, torna-se algo subjetivo. De acordo com Eric Hobsbawm,

quando não escrevemos sobre a Antiguidade clássica ou o século XIX, mas sobre nosso próprio tempo, é inevitável que a experiência pessoal desses tempos modelem a maneira como os vemos, e até a maneira como avaliamos a evidência à qual todos nós, não obstante nossas opiniões, devemos recorrer e apresentar. (HOBSBAWM, 1998, p. 245).

Geoffrey Barraclough acredita que o início da era contemporânea pode ser percebido nos anos anteriores e posteriores a 1890. Segundo ele,

Antes de terminar o século XIX, novas forças estavam produzindo mudanças fundamentais em praticamente todos os níveis da existência e em praticamente todas as regiões do mundo habitado, sendo notável, se examinarmos a literatura do período, como havia tanta pessoa com uma noção exata do rumo que as coisas estavam levando. (BARRACLOUGH, 1964, p. 25-6).

Contrário a esta hipótese, Hobsbawm delimita o ano de 1914 – ano em que eclode a Primeira Grande Guerra – como o início da contemporaneidade. O historiador egípcio acredita que o conflito foi o marco da transição de períodos.
Sendo uma luta pela hegemonia mundial, por influências e por territórios, a Primeira Guerra Mundial marca o início também do “Breve Século XX”. “[...] a Primeira Guerra Mundial [...] assinalou o colapso da civilização (ocidental) do século XIX.” (HOBSBAWM, 1995, p. 16). Os grandes impérios que haviam se consolidados durante a Era Imperial foram abalados pelos acontecimentos seguidos da Primeira Guerra.
Em sua análise sobre o “Breve Século XX”, Hobsbawm assim o denomina por este ter sido um período de grandes agitações em um curto espaço de tempo. “[...] duas guerras mundiais, seguidas por duas ondas de rebelião e revoluções globais que levaram ao poder por um sistema que se dizia a alternativa historicamente predestinada para a sociedade capitalista e burguesa [...]” (HOBSBAWM, 1995, p. 16), além dos acontecimentos do final do século: o fim da bipolaridade mundial com a vitória do capitalismo sobre o socialismo, o colapso dos países socialistas e a nova divisão do mapa global são alguns dos acontecimentos que marcaram o breve século XX. “Esse colapso pode assinalar o fim do Breve Século XX, como a Primeira Guerra Mundial pode assinalar o seu início.” (HOBSBAWM, 1995, p. 19).
A dificuldade em nomear a era em que vivemos encontra-se na preocupação dos historiadores em analisar o tempo presente. O presente deve ser analisado por suas próprias características, diferente das de séculos precedentes.
Porém, utilizando as próprias palavras de Barraclough, o termo não pode ser apenas utilizado para afirmar que a contemporaneidade é a história dos que vivem hoje, pois as gerações se sobrepõem e assim o termo terá uma elasticidade exorbitante. Preferimos acreditar que

[...] o caráter de uma época só pode ser percebido por aqueles que olhem para trás, vendo as coisas de fora. Eis por que devemos contentar-nos, para o presente, com um nome provisório para o período “pós-moderno” em que vivemos. (BARRACLOUGH, 1964, p. 24).


Referências Bibliográficas
BARRACLOUGH, Geoffrey. Introdução à História Contemporânea. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964.
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
________________. O Presente como História. In. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.


[1] A Revolução Francesa; a Revolução Industrial; as duas guerras mundiais; as revoltas ocorridas na Europa (principalmente na França) em 1968; a queda do muro de Berlim e a fragmentação da URSS; o atentado às Torres Gêmeas nos EUA em 2001.




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