Para alguns estudiosos, não houve de fato uma ditadura no Brasil entre 1964 e 1985, já que existiam dois partidos políticos e, em algumas circunstâncias, eleições para cargos públicos. Essas pessoas preferem chamar o regime de uma “situação autoritária”, mas não de ditadura. Em todo caso, o governo durante esse tempo esteve centralizado nas mãos de alguns generais.
Contudo, apesar de repressão e da censura, a opinião de alguns setores descontentes com o regime por diversas vezes encontrou formas de aparecer, embora timidamente. Entre esses setores, destacaram-se a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), os advogados que defendiam os presos políticos junto aos tribunais militares e políticos do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição.
A luta do arcebispo e depois cardeal dom Helder Câmara pelos direitos humanos, por exemplo, foi uma referência para todos os que se opunham ao regime militar (é sintomático daqueles tempos que em maio de 1969, o padre Antônio Henrique Pereira Neto, auxiliar de dom Hélder, tenha sido torturado e assassinado no Recife pelo Comando de Caça aos Comunistas, CCC, ligado aos órgãos de repressão).
Dom Hélder Câmara, arcebispo de Recife e Olinda, defensor dos direitos humanos na época da ditadura militar
Seja como for, o certo é que o período militar não foi um bloco homogêneo, sempre o mesmo de 1964 a 1985. Nesses vinte anos que separam as duas datas, em diversos momentos as oposições encontraram formas de protestar e denunciar as arbitrariedades do governo, ou, no caso de setores sindicais, sempre mais reprimidos, de reivindicar melhores salários e condições de trabalho. Nos últimos anos desse período foi possível até manifestar-se pela volta das eleições livres e pelo fim da ditadura militar.
Assim algumas eleições serviram para expressar a insatisfação contra o regime. Nas de 1970, por exemplo, houve 60% de votos nulos e em branco, nas de 1974, o MDB saiu-se vitorioso; em 1978, o governo só obteve maioria graças aos “senadores biônicos” (senadores nomeados e não eleitos) e foi obrigado a manter as eleições indiretas para governador, buscando não perder em muitos estados; nas eleições de 1982 para governador, o poder central foi o grande derrotado, com a vitória dos partidos de oposição (a essa altura, os grupos de oposição estavam organizados em diversos partidos).
Nelson Piletti. Claudino Piletti. Thiago Tremonte. História e vida integrada.