O processo de desenvolvimento capitalista, intensificado pela revolução comercial dos séculos XVI e XVII, estava, até então, ligado à circulação de mercadorias. A partir da segunda metade do século XVIII, entretanto, iniciou-se na Inglaterra a mecanização industrial, desviando a acumulação de capitais da atividade comercial para o setor da produção. Esse fato trouxe grandes mudanças, tanto de ordem econômica quanto social, que possibilitaram o desaparecimento dos restos das relações e práticas feudais ainda existentes e a definitiva implantação do modo de produção capitalista.
O início do processo industrial na Inglaterra deve-se, principalmente, ao fato de ter sido esse o país que mais acumulou capital durante a fase do capitalismo comercial. Nos séculos XVII e XVIII, a Inglaterra, graças a seu poderio naval e comercial, conseguiu formar um dos maiores impérios coloniais da época. Esse processo iniciara-se com a vitória inglesa contra a Invencível Armada espanhola de 1588, seguido dos Atos de Navegação de 1651, que atingiram especialmente os Países Baixos, seu maior rival no comércio e nos mares. O coroamento veio com o Tratado de Methuen, de 1703, assinado com Portugal, que abria os mercados portugueses e de suas colônias aos manufaturados ingleses.
O final favorável da Guerra dos Sete Anos (1756-1763) subjugou a França, seu último potencial concorrente na Europa. A situação após as guerras napoleônica do início do século XIX confirmou esse cenário. Assim, passo a passo, a política internacional inglesa foi consolidando sua supremacia mundial, transformando-a na maior potência econômica. Seu domínio se estenderia até o início do século XX.
Internamente, esse período foi marcado por transformações significativas na sociedade e na economia inglesa, como a implantação de um poderoso sistema bancário e as grandes mudanças no meio rural. O Banco da Inglaterra, fundado logo após a Revolução Gloriosa (1688-1689) e associado à Companhia das Índias, fomentou as relações coloniais estimulando a produção de algodão, matéria-prima básica para o processo que levou o país à Revolução Industrial. A mecanização da indústria têxtil logo foi aplicada também ao setor metalúrgico, tendo as instituições financeiras servido de respaldo aos crescentes investimentos.
Inglaterra na Revolução Industrial
No campo, o estímulo à produção com técnicas e instrumentos inovadores e o desaparecimento dos pequenos proprietários, por causa dos cercamentos, integraram o trabalho rural ao sistema capitalista em desenvolvimento. O êxodo rural provocado pelos cercamentos permitiu que grandes empresários e nobres – robber barons (“os barões salteadores”) - se apossassem de pequenas propriedades agrícolas por compra ou processos judiciais. Paralelamente, as levas de camponeses que se transferiram para as cidades formaram um grande contingente de mão-de-obra disponível – o chamado exército industrial de reserva –, essencial para a ocorrência da Revolução Industrial. Londres, por exemplo, de 1700 a 1800 era a cidade mais populosa da Europa. Devido à escassez de emprego, essa volumosa mão-de-obra de baixíssimo preço vinha ao encontro dos anseios dos industriais já que o custo da força de trabalho era muito pequeno, eles podiam aplicar grandes somas de capitais em novas instalações.
Politicamente, a Revolução Gloriosa sepultou o absolutismo ao estabelecer a supremacia do Parlamento e inaugurar o Estado liberal inglês, pré-requisito para a plenitude capitalista burguesa que se instalaria com as maquinofaturas. A própria aristocracia inglesa, por não dispor de pensões como acontecia na França, acabou por ver com simpatia as atividades comerciais e industriais, integrando-se a elas muitas vezes.
Completando o quadro, a Inglaterra contava com abundância de ferro e carvão, matérias-primas fundamentais para a construção e o funcionamento das máquinas e para a produção de energia.
Cláudio Vicentino. Gianpaolo Dorigo. História para o ensino Médio. História Geral e do Brasil.
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