Toda vez que estudamos o processo de formação das primeiras civilizações da Antiguidade, nos deparamos com os feitos e costumes dos povos que se instalaram na região do Crescente Fértil, local que abrange o nordeste africano e vai até as imediações do Oriente Médio. Geralmente, a proeminência dessas populações está intimamente ligada ao domínio da agricultura e a construção de grandes centros urbanos que dependiam de toda a riqueza e prosperidade dos grandes mananciais de água.
Contudo, apesar da relevância dada ao caráter agrícola das civilizações orientais, poucos têm conhecimento sobre as peculiaridades do hábito alimentar desses povos. Até pouco tempo, muitos historiadores acreditavam que o mais antigo relato sobre culinária encontrado nesse período era do século I d. C.. Nessa época, o cozinheiro romano Marco Gavio Apício realizou o registro da obra ?De re coquinaria?, uma espécie de livro de receitas que mostrava vários dos hábitos alimentares dos romanos.
Em contrapartida, recentes pesquisas foram capazes de localizar alguns tabletes de argila que revelam toda a complexidade e refinamento presentes nos hábitos alimentares dos povos mesopotâmicos. Vale lembrar que naquela região onde hoje encontramos uma imensa região desértica, já foi palco para a formação de imensas lavouras que produziam diversos alimentos, como trigo, cevada, cebola, abóbora, grão-de-bico, gergelim, lentilha, tâmara, figo, uva, lentinha, romã e amora.
Já durante o reinado do imperador babilônico Hamurábi (1800 ? 1700 a.C.), temos depoimentos que indicam a existência de um profissional especializado na arte de preparar e embelezar os alimentos. Esse cozinheiro, mais conhecido como ?nuhatimmun?, era bastante prestigiado por conta da sua habilidade em preparar raras iguarias que deveriam aguçar os sentidos das autoridades da época. Em várias situações se fazia uso de água fervente, gordura e brasas para incrementar um prato.
As carnes eram bastante apreciadas, sendo preferido o consumo da carne vermelha retirada de gazelas, cabras, cervos, vacas e carneiros. O preparo dessas iguarias era feito por meio de diferentes utensílios, como caçarolas de barro e grandes caldeirões de bronze. Muitas vezes, algum tipo de molho também era elaborado, sendo comum a utilização de condimentos feitos a partir do marcante sabor do alho. Da mesma forma, os alimentos de origem vegetal sofriam um processo de preparação semelhante.
Além de tais pratos, os povos mesopotâmicos também fabricavam bolos de diferentes tamanhos e sabores que eram acompanhados por cervejas e vinhos produzidos a partir da fermentação de vários frutos e grãos. Outras opções de comida bastante apreciadas eram os queijos, guisados, sopas e frutas cristalizadas. Recentes investigações apontam que as civilizações do Oriente Médio também fabricaram as primeiras pizzas, sendo estas feitas de pão sírio com cobertura de carne e cebola.
Não se limitando ao desenvolvimento de pratos salgados, os mesopotâmicos também inventaram doces que pediam o uso de massas folheadas. O processo de expansão dos povos árabes e o do império turco otomano provavelmente carregou essa milenar tradição gastronômica e até mesmo influenciou no desenvolvimento dos deliciosos pasteizinhos portugueses e outras conhecidas sobremesas européias, como o strudell e o sfogliatelli.
Sem dúvida, os hábitos alimentares dos mesopotâmicos influenciaram profundamente as preferências gastronômicas de todos os povos que hoje habitam a região do Oriente Médio. Além disso, muitas das caras e tão prestigiadas receitas da alta cozinha européia também devem prestar tributo às múltiplas contribuições e invencionices dos antigos povos que um dia ocuparam as férteis regiões localizadas entre os rios Tigre e Eufrates.
Fonte: Mundo Educação