A descoberta de um caminho marítimo para a Ásia intensificou os contatos entre os europeus e alguns povos africanos e asiáticos. Ao conhecer essas sociedades, muitas muitas vezes os europeus se surpreendiam. Em 1510, os portugueses conquistaram a cidade de Goa, na costa oeste da Índia, e aí instalaram uma feitoria (fortificação primitiva onde eram armazenadas e comercializadas mercadorias). Na ocasião, um marinheiro português fez a seguinte observação.
“Estamos convencidos de que somos os homens mais astutos que se pode encontrar, e o povo aqui nos ultrapassa em tudo […] Fazem melhores contas de memória do que nós, e parece que nos são superiores em inúmeras coisas, exceto com a espada na mão, a que eles não conseguem resistir.”
Essa declaração demonstra o sentimento de superioridade dos europeus sendo desfeito pela realidade que encontraram na Ásia do século XVI. Naquela época, as sociedades africanas e asiáticas dominavam muito mais conhecimentos e se organizavam de forma muito mais complexa do que os europeus imaginavam.
Veja nos textos a seguir relatos de viajantes sobre as características das sociedades asiáticas alguns séculos antes do início das grandes navegações européias.
Trecho do livro As Viagens de Marco Polo, 1477 POLO, Marco. O livro de Marco Polo ou A descrição do mundo. Apud: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de História. v. II. Lisboa: Plátano, s.d., p.22-4 |
Marco Polo (1254-1324). Nascido em Veneza (atual Itália), de família de mercadores, escreveu um livro sobre a viagem que teria feito com o pai e o tio à China, pela Rota da Seda. Segundo o relato, os Polo chegaram à corte de Cublai Cã por volta de 1274 e permaneceram na China por dezessete anos. De volta a Veneza em 1295, Marco foi capturado por genoveses e preso junto com um escritor que o ajudou a escrever o livro (trecho acima) que fez sucesso mas que muitos consideraram uma história fictícia e não um relato verdadeiro.
Cublai Cã ou Kublai Khan (1215-1294) Guerreiro mongol, responsável pela dominação e reunificação da China. Como principal conquistador do Oriente, recebeu o título de Grande Cã em 1264. Em 1271, declarou-se imperador da China e fundou a dinastia Yuan.
Rota da Seda
Antiga rota comercial entre a China e a Europa. Originalmente uma rota de caravanas, usada desde c. 100 a.C., esse caminho de 6 400 km começava em Xi’an, na China, acompanhava a Grande Muralha para noroeste, subia os montes Pamir, cruzava a região do atual Afeganistão e seguia para o leste do mar Mediterrâneo, onde as mercadorias eram levadas por embarcações até Roma. A seda era levada para a Europa; a lã, o ouro e a prata para a Ásia. Com o fim do Império romano, a rota se tornou insegura; foi retomada durante o Império mongol, e Marco Polo afirma ter passado por ela no século XII.
Trecho do livro Viagens de Ibn Battuta, 1325-1349 Quando os informadores chegam ao Sultão para informa-lo da chegada de alguém aos seus Estados, ele fica com pleno conhecimento pela carta. Os que lhe escrevem põem nisso todo o seu cuidado, fazendo saber ao príncipe que chegou um homem, com tal aspecto e vestido de tal maneira. Registram o número dos seus acompanhantes, dos seus escravos, dos seus servidores, dos seus animais de carga; descrevem o seu procedimento em marcha e em repouso e contam todas as suas despesas. Não desprezam nenhum pormenor. Quando os viajantes chegam a Moltã, que é a capital de Sind, alojam-se e esperam até que venha uma ordem do Sultão repeitante ao seu recebimento na corte e ao tratamento que lhe será dado. Um indivíduo é aí honrado segundo o que se observa das suas ações, das suas despesas e dos seus sentimentos, pois que se ignoram os seus méritos os seus antepassados. BATTUTA, Ibn. Viagens. Apud: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano, s.d., p. 12-3. |
Abu Abdullah Muhammad Ibn Battuta (1304-1369). Geógrafo e escritor nascido em Tânger, no atual Marrocos. Viajou por mais de 180 mil km, visitando o Oriente Médio, a Índia, a China, o Saara, o Sudão, a Nigéria. Seus relatos são importante fonte sobre as sociedades que conheceu.
CARDOSO, Oldimar. coleção Tudo é História. ensino fundamental.