A reputação da civilização romana […} nunca esteve pior do que hoje[…] Hoje as origens da democracia ocidental costumam ser identificadas em Atenas, mais do que na República romana […]. A arte da retórica (arte de bem falar, discursar), vista no passado como básica para a cultura republicana, passou a ser associada a políticos […] desonestos. Quanto ao Império romano, muitas vezes é visto como a versão antiga da Itália fascista ou da Alemanha nazista do século XX […]. A reputação da literatura romana não vem se saindo melhor do que a do governo romano. Autores romanos como Virgílio, Horácio Sêneca e Plauto são frequentemente descritos […] como imitadores de segunda categoria dos gregos. […] Em dois séculos e meio, Virgílio (70 –19 a.C) passou de mais importante poeta de todos os tempos a imitador pouco convincente de Homero […].
No século XX, os gregos antigos já haviam tomado quase por completo o lugar dos romanos antigos como ancestrais culturais preferidos dos norte-americanos […] Os protestantes americanos viam os romanos da Antiguidade como um povo malévolo (mau) e libertino, cujo passatempo favorito era ver cristãos sendo dados de alimento aos leões no coliseu. Na mente popular, os gregos tinham boa forma e se exercitavam; já os romanos, gordos, passavam seu tempo entre orgias, recostados em divãs e mordiscando uvas.
LIND, Michael. A Segunda queda de Roma. Folha de São Paulo 8/10/2000.