História do Brasil e do Mundo
Utopias de um beato qualquer - Parte II
A chegada no Caldeirão:Iniciando uma nova aventura o beato José Lourenço e seus seguidores rumaram para outro sítio, esse de propriedade do Padre Cícero. Segundo as memórias de Henrique Ferreira assim teria ocorrido o fato:
“Me padrinho Ciço deu o Caldeirão a ele. Três léguas de terras. Quer dizer, é uma data. (...) Ele disse onde estavam os marcos e disse: Você vai para lá, Zé Lourenço, agora eu não quero mais você aqui. É uma data de terra, três léguas para você trabalhar por toda sua vida e não ser mais sujeito a homem nenhum. Vá para lá e trabalhe por dez anos.”1
De fato, José Lourenço chega com seus seguidores no ano de 1926 ao local que então era conhecido como Caldeirão dos Jesuítas. Isso se devia ao fato de que, durante o período pombalino houve uma perseguição aos padres jesuítas. Dois desses padres teriam se escondido entre as serras e morros da região do Cariri, e ali teriam sido mortos. Há quem diga que mesmo havia uma árvore nascido no local onde os padres foram assassinados.
A região do Caldeirão tem um terreno acidentado e pedregoso, circundada pela Chapada do Araripe. O local em que José Lourenço organizaria sua nova comunidade pode ser vista como um oásis em pleno sertão nordestino. A formação rochosa ímpar em forma de caldeira é perpassada por um riacho que torna a região belíssima. Chega a ser impressionante a transformação que o beato e seus seguidores fariam naquela propriedade, até então abandonada ao ocaso.
Organização social da comunidade
Até mesmo o tenente José Góes de Campos Barros, Delegado da Ordem Política e Social à época, admitiu em sua obra clássica sobre o tema, publicada em 1937:
“Aliás, faça-se justiça, o espetáculo de organização e rendimento de trabalho, com que deparamos ali, era verdadeiramente edificante. As brocas e os terrenos prontos para a lavoura, delimitadas por cercas admiravelmente construídas, derramavam-se pelos morros e, como uma surpreza [sic] verde, no meio dos taboleiros [sic] nús, apareceu-nos um tapete alegre de vegetação sadia, emoldurando um açude, construído por aquela gente, pelos processos mais simples e rudimentares.”2
Segundo depoimento de Eleutério Tavares – filho de Severino Tavares, que mais tarde se tornaria figura-chave na história do Caldeirão – ele teria chegado naquelas terras em 1926, com sua mãe e dois irmãos. Além disso, havia ainda mais duas famílias de moradores com casas próprias e quatro moças que tomavam conta da casa do beato. O total de moradores no início da comunidade somava 19 pessoas.
Em pouco tempo, a organização e disciplina do beato e seus seguidores transformaria aquela terra abandonada, situada a 20 quilômetros de Crato e com 900 hectares, em uma terra produtiva. É interessante notar que no Caldeirão a terra era de todos e a terra era de ninguém. Não havia propriedade da terra. Esse era um conceito externo àquela comunidade. Os homens plantavam e colhiam coletivamente, mas não eram impedidos de ter cada um seu pedaço de terra, para plantar e criar gados e outros animais.
Sobre essa organização social da comunidade temos o seguinte depoimento: “primeiras e pequenas casas de taipa, e como a terra era seca, iniciaram também a construção de pequenas barragens para as épocas de secas. Nas terras altas deu-se início à plantação de algodão, milho e feijão. Nas terras mais baixas, irrigadas e adubadas por processos primitivos, plantou-se cana-de-açúcar e arroz. Pequena engenhoca levantada nas imediações do pequeno povoado passou a produzir rapaduras, batidas e melaço suficiente para o sustento da comunidade”.3
De fato a organização da comunidade a diferia de outras, com certa estrutura hierárquica, como Canudos. No Caldeirão todos se ajudavam mutuamente, e através do trabalho e da fé transformavam uma paisagem rude sertaneja em um oásis pleno de fartura. Mas o processo foi lento, em termos de crescimento da população, mas a comunidade se auto-sustentava desde seus primórdios. Em um belo poema, Francisco Edésio Batista recria como teria se organizado a comunidade:
“Logo ele se viu cercado
De gente trabalhadora
Disciplinada e ativa
Piedosa e rezadora,
Também muito dedicada
Nos trabalhos da lavoura
(...)
Havia muita fartura.
Tudo ai se produzia
Arroz, feijão, milho, fava,
Andu, melão, melancia.
E no tempo da moagem
Rapadura se fazia
Muitos foram atraídos
Por sua prosperidade
E se sentindo tratados
Com toda dignidade
Deixavam velhos patrões
Pra gozar mais liberdade
Ninguém lá passava fome
Tudo ali era comum,
Um batalhava por todos.
E todos eram por um (...).”4
De fato, o autor nos apresenta as características básicas da comunidade. Uma espécie de comunismo primitivo reinava no Caldeirão, onde todos tinham trabalho, comida e felicidade terrena. Havia práticas religiosas que assustavam os moradores das redondezas, tais como a penitência e os rituais nas orações. Mas não passava disso. Imaginar o Caldeirão como um movimento precursor de movimentos ambientalistas ou de luta pela terra como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) é cometer o grave equívoco do anacronismo5. Ali os homens viviam em comunidade, em paz uns com os outros e em harmonia com a natureza, que através do labor, lhes provia tudo que precisavam.
Mas se aparentemente tudo corria em paz no Caldeirão, nas redondezas os grandes latifundiários começavam a se irritar com aquela comunidade que atraía sua força de trabalho. E não tardaram a aparecer notícias na imprensa cearense difamando o beato Lourenço e seus seguidores. Como na reportagem “Um Grande Núcleo de Fanatismo em Pleno Cariri”, publicada no jornal Gazeta de Notícias em 17 de setembro de 1936. Com uma entrevista com o então Chefe de Polícia do Ceará, Capitão Cordeiro Neto, a reportagem reflete toda a incompreensão das autoridades a respeito da comunidade.
“VERDADEIRO COMUNISMO”6 – O subtítulo da reportagem dá idéia do quanto tendencioso era o jornal referido. Mas a incompreensão da experiência do Caldeirão permaneceria até meados da década de 1980, quando pesquisadores como Oswald Barroso e Rosemberg Cariri7 buscaram compreender a realidade daquela comunidade sem pré-conceitos.
Mas vale lembrar que nem toda a imprensa se posicionou contra O Caldeirão de Santa Cruz do deserto. Num belíssimo trabalho jornalístico, José Alves Figueiredo, amido de José Lourenço, publicou no jornal O Povo, em 7 de junho de 19348. Na reportagem ele desfaz uma série de lendas e boatos acerca da comunidade, como no trecho:
“Sempre as injustiças da vida. O beato irrompia a sua faina honesta e utilíssima para pagar culpas que eram mais daqueles que o perseguiam, enquanto nas grades da cadeia vinham chasqueá-lo gozando plena liberdade os piores bandidos e ladrões que infestavam o nordeste daquele tempo. (...) Mal compreendido nos seus melhores intentos, sem saber defender-se quando acusado, o beato José Lourenço tem sofrido grandes injustiças e sendo perseguido varias vezes, como perigoso a ordem.”9 (grifos no original)
As acusações ao beato vinham não só da maior parte da imprensa, mas também de boatos que circulavam na região do Caldeirão. Como nos conta o depoimento de Maria de Lourdes Melo, contemporânea da comunidade: “Olha home, eu via dizer... eu ouvi dizer que ele gostava de pegar em barriga de mulher, numa tia minha ele pegou”.10
e outro lado havia também os vizinhos que viam a comunidade com bons olhos, inclusive pelos serviços prestados por seus membros à vizinhança. O depoimento Alípio Gomes da Rocha:
“Inventaram que ele celebrava no Caldeirão. Inventavam tudo. Tudo no mundo. Agora eu não sei nada disso que ele faz não. Eu sei foi que ele ensinou o povo a trabalhar e rezar. Outros diziam que ele tinha um girau na casa, de botar o povo para caminhar – as moças – no girau e ele ficava por baixo. Foi mentira...”11
Outra questão importante, se referindo aos boatos que rondavam a comunidade, envolvia a utilização de bebidas alcoólicas. A imprensa perseguidora da comunidade aproveitava desses boatos, que são confirmados por moradores das redondezas:
“Cachaça eu num sei não, mas cerveja vi ele bebendo... e uma amiga minha disse que viu foi ele bêbado, ali, perto dessa entrada onde tinha uma bodega, num era José? Tava bebo, bebo (....)”12
“Uma vez ele vinha bêbado com o cavalo trancelim. ... Ele mandava o cavalo dar dez saltos, três, cinco, e o cavalo dava. E o nego aqui, agarrado. Ô nego seguro, muito forte. Ele era novo nesse tempo”13
Mas de fato o beato parecia ser uma pessoa imantada14, que atraía os pobres e miseráveis sertanejos para o seu redor. Apesar dessas estórias, ele foi um homem comum, homem do povo. Independente se bebia ou não, criou-se uma áurea de que a comunidade era um antro de perdição. Orgias com beatas perpassavam o imaginário conservador dos vizinhos latifundiários. Mas são histórias que nem sempre têm sua dose de verdade, e que contribuem apenas para humanizar a figura de José Lourenço. Apesar de todas essas estorietas a comunidade crescia naturalmente, com a chegada de pessoas de todos os rincões do país.
Mas não era apenas o beato que fazia a comunidade prosperar. Duas figuras notáveis merecem destaque na organização da comunidade: Isaías e Severino Tavares. Olvidados por parte da bibliografia que trata do tema, os dois cumpriam funções fundamentais para o bom funcionamento do Caldeirão. Há poucos indícios da chegada de Isaías na comunidade, mas o fato é que ele se tornou uma espécie de braço direito do beato José Lourenço. Atuava como um secretário ou administrador da comunidade, recebendo as pessoas novas que chegavam e organizando a produtividade da terra. Conforme confirma o depoimento de Marina Gurgel:
“Isaías era assim como um gerente. Ele era dono da chave dos armazéns de legumes. Quando amanhecia o dia Ele ( o Beato), dizia: ‘Isaías mate hoje um cevado, pra mandar botar no fogo pro almoço’ Aí seu Isaías era chamar e matavam, pronto. (...) E o Isaías era encarregado de distribuir mercadorias, comida, tudo era com ele. Tudo que a gente queria, era um par de alpercata, ia pedir a seu Isaías, tudo era Isaías”.15
Já Severino Tavares atuava como uma espécie de propagador das idéias de José Lourenço. Peregrinando pelos sertões do país, falava da beleza do Caldeirão, onde tudo era de todos e havia fartura e bonança. Uma espécie de Antônio Conselheiro, que conseguiu cativar muita gente pobre e humilde com suas prédicas, e aconselhá-las a ir viver na comunidade da Santa Cruz do Deserto. Novamente recorremos ao depoimento de Marina Gurgel sobre a figura de Severino:
“Quando foi no tempo que surgiu esse conselheiro, Severino Tavares. Aí notícias e mais notícias. (...) Assim que disseram, ele chegou, eu corri, saí de casa, não me importei com nada, fui bater onde ele tava: quando cheguei lá ele tava, eu falei com ele, aí eu conversei logo com ele. Ele perguntou: ‘Você sabe ler?’. ‘Eu disse sei, sim senhor’. (...) Aí eu li a profecia, até era aquela ‘A Profecia do padre Desconhecido’, a visão da humanidade que brevemente há de acontecer. (...) Então ele dizia assim: ‘Que tudo que ele tava dizendo tinha sido transmitido a ele pelo Beato e meu Padim Ciço tinha ensinado ao Beato”.16
A Intentona Comunista e a Repressão à Comunidade
Em 1932 houve uma seca violenta que se abateu pelos sertões brasileiros. A Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca (IFOCS) e outros órgãos similares, decidiram pela criação de “Campos de Concentração”. Esses deveriam aglutinar a população rural, protegendo-a contra a miséria da seca e impedindo o grande fluxo do êxodo-rural. Porém criou-se um antagonismo. Enquanto no Caldeirão havia fartura de víveres e animais, nos campos de concentração se via a amarga dureza da seca. Assim, muitos migrantes se dirigiram para a comunidade, que representava como uma saída de escape para a dureza e aridez dos sertões.
No ano de 1934 uma perda significativa para o beato e seus seguidores. Morre o Padre Cícero Romão Batista, padrinho de José Lourenço e grande colaborador da comunidade. Curiosamente, ou não, o testamento de Pe. Cícero não deixava as terras do Caldeirão para a comunidade. A região, segundo o documento, tornar-se-ia posse dos Padres Salesianos. Há uma grande crítica, por parte da historiografia, a essa atitude do Padim Ciço. Não se entende, e nunca se entenderá, o real motivo dele não ter deixado as terras a seu afilhado, o beato Zé Lourenço. O fato é que isso dificultará a vida da comunidade que já estava com um número alto de seguidores.
O ano de 1935 foi marcante para o Caldeirão. Isso porque houve, em Natal, entre outros locais o levante conhecido como Intentona Comunista. Núcleos da Aliança Nacional Libertadora (ANL) levantam-se em Recife, Natal e no Rio de Janeiro. Duramente reprimidos alguns comunistas decidem ingressar na comunidade. Isso ajudaria a imprensa local na perseguição ao Caldeirão e ao beato Zé Lourenço. A onda anticomunista que se abatia por todo o mundo caiu sobre aquelas pessoas. Não que se tratassem de comunistas infiltrados, mas eram sim homens e mulheres que decidiram seguir os passos de José Lourenço. Surgiam na comunidade escolas, que buscavam alfabetizar aqueles pobres sertanejos. Já o beato permaneceria analfabeto até sua morte. O que não diminui, pelo contrário, aumenta o brilho e mérito de suas ações. Foi no labor e na fé que José Lourenço sempre guiou sua vida e a de seus seguidores. Há quem diga que suas relações com seus seguidores seguiam as práticas em voga no nordeste do coronelismo. Falsa hipótese, uma vez que as memórias daqueles que viveram na comunidade demonstram não uma relação mandonista, mas sim movida pela fé e pelo trabalho árduo.
No ano seguinte, em 1936, viria a primeira intervenção policial na comunidade. Comandando a operação, o tenente José Góis de Campos Barros, orientado pelo então Chefe de Polícia: Capitão Cordeiro Neto. O tenente teria observado os mínimos detalhes, que descreveria posteriormente no seu livro-relatório A ordem dos penitentes. Segundo seu depoimento havia ali uma nova Canudos, e um núcleo de fanatismo comunista. O beato, tendo sido avisado previamente, não se encontrava na comunidade na hora da chegada dos policiais. Um espetáculo de barbárie movido pelo anticomunismo. Suspeitando haverem armas escondidas com os membros da comunidade, a tropa invadiu as casas, saqueou-as tentando encontrar o pretenso arsenal escondido. Ao fim acabaram ateando fogo nas casas e ameaçando de morte os quase dois mil homens e mulheres que ali viviam. Tudo o que encontraram foram os instrumentos de trabalho daqueles pobres e humildes camponeses. Uma moça, revoltada, ateou fogo no próprio corpo.
Segundo o tenente Góis, eles mandaram aquela gente juntar seus pertences e voltar para suas terras de origem. Mas não havia o que juntar, uma vez que tudo ali era de todos, nas palavras de Marina Gurgel. As tropas policiais ficariam ali por um mês, prendendo os membros da comunidade em um curral por alguns dias, à espera do líder voltar. Mas ele, sabiamente, não voltaria. Tempos depois, nos idos de 1944, Zé Lourenço tentaria reaver os bens perdidos pela ação policial, movendo um processo contra o Estado.
Nesse mesmo ano, 1936, é preso, sob suspeita de participar dos levantes comunistas de 1935, Severino Tavares. Depois seriam presos Isaías e o filho de Severino, Eleutério Tavares. Isso demonstra como as forças estatais buscavam coibir o avanço da comunidade. O fantasma do Caldeirão assombrava as forças públicas. O medo de um estado paralelo, que atraía os camponeses, levou a uma campanha na imprensa difamando a comunidade. Reportagens como as do jornal O Estado, que acusavam de fanatismo e chamavam de bandoleiros os que viviam ali na região da chapada do Araripe. Era o temor de uma vida em comum e o medo do povo que atiçava os grandes latifundiários.
Fugindo da ação policial e acompanhado de cerca de mil pessoas o beato organiza uma outra comunidade na região, num sítio conhecido como Mata dos Cavalos. As mulheres haviam se dispersado e apenas os homens acompanhariam o beato nesse refúgio. Porém viria o ano de 1937 e com ele um triste fato envolvendo o Caldeirão.
Severino Tavares foi liberado em Fortaleza. Com seu coração tomado pelo ódio e pela vingança reuniria um grupo de seguidores e buscaria na violência seu alívio. No dia 10 de abril José Bezerra informa ao Capitão Cordeiro Neto que seguiria com uma parte da tropa ao local onde se encontrava o beato. Porém no meio da mata foi surpreendido pelo grupo liderado por Severino Tavares e ocorreu um duro combate entre os grupos. No embate acabaram sendo mortos o Capitão José Bezerra e também Severino Tavares. As manchetes não tardaram a surgir, condenando ainda mais a comunidade. E os poderes públicos foram novamente acionados e o então Ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra pôs uma esquadra de três aviões a postos para pôr fim ao Caldeirão. Em mais um espetáculo de barbárie os aviões sobrevoaram a região, dando rajadas de metralhadoras, segundo alguns mesmo jogando bombas, e matando um sem-número de camponeses. Segundo depoimento de José Camilo Lobo eles “levaram trem de carga cheio de gente, pra Fortaleza”.17
Após essa dura chacina o beato ainda tentaria reerguer a comunidade em 1938. Porém, em apenas dois anos, ele e seus seguidores são expulsos por um mandato policial. Com dinheiro obtido pela venda de parte de seus bens e com a ajuda de um advogado de Crato, José Lourenço compra um pequeno terreno em Exú, em Pernambuco.
Ali, querendo evitar ao máximo a exposição da comunidade chamada União, viveria com alguns poucos seguidores, conseguindo a auto-suficiência e manter-se livre das perseguições policiais. Resignado em suas ações o beato seguiu seu destino, montando mais uma comunidade baseada na igualdade e liberdade e conseguiu, por fim seu sossego. Em 14 de fevereiro de 1946 acaba morrendo o beato de peste bubônica, e, sem a sua figura a comunidade se dispersaria. Seu corpo foi carregado por cerca de setenta quilômetros até Juazeiro do Norte, onde ainda hoje é possível ver fiéis visitando seu túmulo. Exemplo daquilo que Euclides da Cunha chamou do heroísmo do sertanejo, o beato representa ainda hoje uma saída ao latifúndio. Ele morreu, mas suas idéias ainda estão vivas nos movimentos de luta pela terra no país. Nas palavras do maior poeta popular do século XX:
“Sempre digo, julgo e penso
Que o beato Zé Lourenço
Foi um líder brasileiro
Que fez os mesmos estudos
Do grande herói de Canudos
Nosso Antônio Conselheiro
Tiveram o mesmo sonho
De um horizonte risonho
Dentro da mesma intenção
Criando um sistema novo
Pra defender o povo
Da maldita escravidão
(...)
Com sua boa gente
Lutava pacificamente
Contra os Latifundiários”.18
Notas:
1 Apud: ALVES, Tarcísio Marcos. A Santa Cruz do Deserto – Ideologia e protesto popular no Sertão Nordestino – A Comunidade Camponesa Igualitária do Caldeirão. P.84
2 BARROS, José Góis de Campos. Fortaleza: Imprensa Oficial, 1937.
3 Apud: ALVES, Tarcísio Marcos. A Santa Cruz do Deserto – Ideologia e protesto popular no Sertão Nordestino – A Comunidade Camponesa Igualitária do Caldeirão p. 92.
4 BATISTA, Francisco Edésio. O Caldeirão e o Beato Zé Lourenço.
5 Entrevista com Oswald Barroso, realizada em junho de 2006.
6 Gazeta de Notícias, 17-09-36
7 CARIRY, Rosemberg. O beato José Lourenço e a Santa Cruz. In: Nação Cariri. Dez/Jan, 1981/1982. Não pode-se deixar de fazer referência também ao filme dirigido por Rosemberg Cariry: O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto.
8 O Povo, 07/06/1934.
9 O Povo, 07/06/1934
10 Apud: CORDEIRO, Domingos Sávio de Almeida. Memórias e Narrações na Construção de um Líder. p.97.
11 Apud: CORDEIRO, Domingos Sávio de Almeida. Memórias e Narrações na Construção de um Líder. p.92
12 Apud: CORDEIRO, Domingos Sávio de Almeida. Memórias e Narrações na Construção de um Líder. p.99
13 Apud: CORDEIRO, Domingos Sávio de Almeida. Memórias e Narrações na Construção de um Líder. p.99
14 Entrevista com Oswald Barroso, realizada em junho de 2006.
15 Apud: ALVES, Tarcísio Marcos. A Santa Cruz do Deserto – Ideologia e protesto popular no Sertão Nordestino – A Comunidade Camponesa Igualitária do Caldeirão. p.97.
16 Apud: ALVES, Tarcísio Marcos. A Santa Cruz do Deserto – Ideologia e protesto popular no Sertão Nordestino – A Comunidade Camponesa Igualitária do Caldeirão pp. 113-114.
17 Apud: ALVES, Tarcísio Marcos. A Santa Cruz do Deserto – Ideologia e protesto popular no Sertão Nordestino – A Comunidade Camponesa Igualitária do Caldeirão. p. 150
18 ASSARÉ. Patativa. O Beato Zé Lourenço. In: Assaré. Patativa. Ispinho e Fulô. p.253.
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