Alguns dos 7 mil guerreiros de terracota de Xian |
Arthur Veríssimo
Pequim, ou melhor, Beijing é uma fonte inesgotável de passeios e descobertas. Conhecer suas entranhas, bairros, museus, restaurantes e sua imensa população é uma tarefa que exige algumas vidas. Lá encontrei o Palácio de Verão, um pedaço da Grande Muralha e a maravilhosa Cidade Proibida. Meu guia, um senhor com mais de 70 anos, insistia que fôssemos conhecer os famosos guerreiros de terracota de Xian, no noroeste da China. Recordava-me de que em 2003 uma exposição trouxera para a Oca, no Parque do Ibirapuera (São Paulo), relíquias como 11 estátuas de soldados, dois cavalos também de terracota e centenas de relíquias do tesouro da Cidade Proibida. O evento foi um sucesso estrondoso, com mais de meio milhão de visitantes.
Convencido por meu anfitrião, parti para Xian para visitar o fabuloso tesouro. Segundo pesquisas de arqueólogos, há evidências de que a cidade, capital do estado de Shaanxi, era habitada há mais de 6 mil anos. Para você ter uma idéia da sua importância, Xian foi capital de 11 dinastias - como Qin e Tang - e foi ponto de partida para a antiga Rota da Seda.
Arthur às portas da Cidade Proibida, em Beijing |
A história do descobrimento dos guerreiros de terracota ocorreu em um dia como outro qualquer. Em março de 1974, um agricultor da região escavava um poço à procura de água e acabou dando de cara com uma imensa galeria. Levou um baita susto quando viu as milhares de estátuas. Sua descoberta causou uma revolução no governo chinês. Desde então, uma megaoperação de arqueólogos e restauradores começou a resgatar e revelar ao mundo as esculturas que reproduziam o exército do grande imperador Qin Shi Huang, unificador da China no ano de 211 a.C.
O maravilhoso tesouro foi aberto ao público em 1979. O complexo encontra-se espalhado por uma área de 20.000 m2. Os arqueólogos encontraram quatro zonas de escavação, sendo uma delas estranhamente vazia. Foram descobertos mais de 7 mil guerreiros, 500 cavalos de terracota e uma centena de carros de combate de madeira. As figuras encontram-se em rígida formação militar, e grande parte das esculturas foi moldada a mão pelos artesões. Esse impressionante exército foi colocado a 1.500 metros a leste da tumba de Qin Shi Huang para acompanhar e proteger o imperador após a sua morte. Sim, caríssimo leitor: os chineses daquela época já acreditavam em vida após a morte. Mais de 700 mil homens teriam trabalhado durante 36 anos para finalizar o complexo.
A restauração feita pelos arqueólogos desde o descobrimento continua sendo exaustivamente minuciosa. Os guerreiros foram encontrados em péssimo estado. Saqueadores, vândalos, incêndios e a umidade destruíram uma parte do tesouro. Com muita perseverança, os restauradores garimparam milhões de cacos e os recolocaram nas esculturas. O sítio arqueológico é um assombro. Turistas de todas as partes do planeta ficam boquiabertos diante do cenário. Centenas de guardas e monitores proíbem os viajantes de fotografar o complexo. Consegui, como por milagre, fazer cinco fotos.
À medida que seu olhar vai se aprimorando diante dos guerreiros, é possível observar que cada soldado foi esculpido com expressões faciais diferentes. Recentes escavações encontraram outros tipos de personagens - artistas, bailarinos e figurinhas da corte -, mas as autoridades temem realizar outros trabalhos no complexo funerário devido à erosão e às chuvas. Só nos resta esperar que as técnicas de escavações se aprimorem para finalmente conhecermos todos os segredos da tumba do imperador Qin Shi Huang.
Arthur Veríssimo, repórter de 48 anos, acumula milhas aéreas e histórias para contar sobre os lugares e as pessoas mais incríveis do mundo