Quando a notícia da descoberta do ouro se espalhou pela colônia, os paulistas foram os primeiros a correr para a região, pois para eles era uma das poucas formas de enriquecimento. Atravessavam a serra da Mantiqueira, chegando à região mineradora depois de penosa caminhada. Do nordeste da colônia também chegavam colonos pelo rio São Francisco. De Portugal, começou a chegar uma nova leva de colonos. Todos eram atraídos pela possibilidade do rápido enriquecimento.
Essa gente instalava-se precariamente. Somente mais tarde é que surgiriam povoações, mais ou menos prósperas, como Vila Rica de Ouro Preto. A população de Minas Gerais saltou, de poucas pessoas na época do descobrimento do ouro, para mais de 30 mil em 1709. No fim do século XVIII, Minas Gerais contava com quase 500 mil habitantes.
Essa população, tomada pela “febre do ouro”, não se preocupava com a agricultura ou com a criação de animais. A maioria dos alimentos era importada de outras regiões, o que tornava a alimentação bastante cara. Os suprimentos, além de percorrer grandes distâncias, eram vendidos ou trocados diretamente por ouro. Isso facilitava o contrabando, criando atrito com as autoridades.
Toda a área mineradora converteu-se em centro de tensões. A disputa pelas melhores jazidas e locais que possuíam mais ouro começou a provocar sérios conflitos. Um dos incidentes importantes foi a chamada Guerra dos Emboabas.
A Guerra dos Emboabas
Os paulistas, descobridores do ouro na região de Minas Gerais, começaram a reivindicar exclusividade no direito de exploração do metal. Consideravam os portugueses, mestiços, índios, brancos e negros que chegavam à região como estrangeiros e invasores.
Como a região das minas fazia parte da capitania de São Vicente, a câmara municipal de São Paulo pediu ao rei, em abril de 1700, direitos exclusivos sobre a região de Minas Gerais. O clima começava a ficar tenso. Os paulistas se diferenciavam muito dos outros colonos: sua língua corrente não era o português e sim o tupi-guarani; eram mais pobres, andavam vestidos de forma bastante simples e quase sempre descalços. Por essa razão, chamavam os outros colonos de emboabas, isto é, aqueles que andavam de botas.
Os paulistas concentravam-se entre o rio das Velhas e o rio das Mortes, na região de Vila Rica de Ouro Preto, liderados por Borba Gato, superintendente das minas.
Os emboabas, liderados por Manuel Nunes Viana mantiveram constantes atritos com os paulistas por quase um ano. O episódio mais famoso foi o do chamado Capão da Traição, onde vários paulistas foram massacrados.
A pacificação só se deu quando foi nomeado o novo governador, em janeiro de 1709, que expulsou o líder emboaba e atendeu a algumas das reivindicações dos paulistas, como a de garantir o retorno dos que haviam saído da região.
O governador, D. Antônio de Albuquerque Coelho ainda determinou a proibição de uso de armas por negros, índios e mestiços, instituindo uma campanha de soldados para garantir a ordem. O conflito refletia a pouca organização administrativa em que se encontrava a região mineira. A partir daí, a Coroa começou a esboçar os primeiros sistemas de administração e organização para explorar o ouro.
Os desclassificados do ouro Somando-se aos aventureiros do ouro e aos desclassificados que Portugal despejava nas Minas, toda uma camada de gente decaída e triturada pela engrenagem econômica da colônia ficava, aparentemente sem razão de ser, vagando pelos arraiais, pedindo esmola e comida, brigando pelas estradas e pelas serranias, amanhecendo morta embaixo das pontes ou no fundo dos córregos mineiros. […] Sua presença inquietava os administradores coloniais […], dentre estes, cabe destacar o desembargador Teixeira Coelho. […] [Em] sua instrução para o governo da capitania de Minas Gerais (1780) […] [Teixeira Coelho escreveu]: “ Os vadios são o ódio de todas as nações civilizadas, e contra eles se tem muitas vezes legislado; porém as regras comuns relativas a este ponto não podem ser aplicáveis ao território de Minas; porque estes vadios, que em outra parte seriam prejudiciais, são ali úteis”. Negros forros e mestiços na sua maior parte – mulatos, caboclos, carijós –, serviam para povoar locais distantes como Cuieté, Abre Campo e Peçanha, onde se iam estabelecendo presídios; engrossavam os contingentes que entravam mato adentro destruindo quilombos e prendendo foragidos; cultivavam plantações de subsistência, enfim, realizavam uma série de tarefas que não podiam ser cumpridas pela mão-de-obra escrava. MELLO E SOUZA, Laura de. Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século XVIII. Rio de Janeiro: Graal, 1986, p.71-2. |
CARDOSO, Oldimar. coleção Tudo é História. ensino fundamental.
PEDRO, Antonio. História da civilização ocidental. ensino médio – volume único.