Contra a escravidão e os maus-tratos, os negros rebelavam-se e fugiam das senzalas, tentando organizar-se para sobreviver nas matas e formando aglomerados, conhecidos como quilombos. O mais famoso foi o quilombo dos Palmares, por ter sido o mais populoso e duradouro.
Palmares era uma uma confederação de pequenas comunidades de quilombolas (habitantes dos quilombos), conhecidas como mocambos. O local era protegido por um sistema de fortificação. O mocambo do Macaco era a fortificação mais importante, podendo ser considerada a capital do quilombo dos Palmares. Esse foi o maior Estado negro da América, onde dezenas de milhares de negros viveram e resistiram as assédio dos brancos por cerca de 65 anos.
A vida em Palmares
Tudo indica que desde o princípio do século XVII já havia na região um aglomerados de negros fugidos das senzalas. Mas o crescimento dos quilombos deu-se com a invasão holandesa, pois os engenhos foram em parte destruídos pela guerra e os negros aproveitaram a confusão para fugir.
Os negros iam chegando e se organizando em mocambos. Caçavam, pescavam e plantavam tudo de necessitavam: milho, mandioca, batata-doce. Essa abundância alimentar das comunidades negras contrastava com miséria da população do litoral.
Os mocambos eram circundados por uma paliçada como proteção a um eventual ataque. O número de habitantes do quilombo dos Palmares no seu auge foi calculado entre 20 e 30 mil negros de várias origens. Além dos negros, o quilombo abrigava também índios fugidos da escravidão e homens livres brancos e pobres.
Politicamente, os quilombolas organizavam-se num tipo de “Estado” baseado na comunidade tribal. Elegiam um “rei”, cujo requisito era coragem e a capacidade de liderança. O primeiro “rei” foi o famoso Ganga-Zumba, que, ao morrer, foi substituído por outro, não menos famoso: Zumbi.
Zumbi dos Palmares
A existência desse “Estado” negro formado ´por escravos fugidos era uma ameaça para a estrutura da ordem colonial e escravocrata. Por essa razão, os brancos, senhores de engenho e as autoridades da metrópole empenharam-se na sua destruição.
Guerra ao quilombo dos Palmares
Os primeiros ataques ao quilombo foram feitos pelos próprios holandeses, que pretendiam recuperar a força de trabalho para pôr em funcionamento os engenhos. Depois do fim do domínio holandês, os colonos luso-brasileiros organizaram em 1667, uma grande operação, comandada por Zenóbio Accioly Vasconcelos, mas que não obteve sucesso.
Alguns centros açucareiros começaram a empregar forças mercenárias para atacar Palmares. Foi nessa época que bandeirantes paulistas foram chamados para participar de incursões contra o quilombo. Os negros, para se defender, usavam a tática de guerrilha, mudando constantemente os mocambos de lugar, o que dificultava muito os ataques dos brancos. Como as operações militares contra o quilombo não davam resultados, o governador de Pernambuco estabeleceu, em 1678, um acordo de trégua com Ganga-Zumba. Pela primeira vez os brancos foram obrigados a negociar com os negros.
Mas a trégua foi logo rompida e os combates recomeçaram. Os negros quilombolas, agora liderados por Zumbi dos Palmares, enfrentaram uma guerra total.
O governador de Pernambuco contratou o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho para destruir Palmares. Famoso e experiente na luta contra os índios resistentes à escravidão, ele chegou a Palmares por volta de 1692 com quase mil homens, entre brancos e índios.
Iniciados os combates, os paulistas encontraram tenaz resistência por parte dos negros, comandados por Zumbi, e foram obrigados a uma retirada forçada.
Em fins de 1694, com quase 3 mil homens e artilharia pesada, Domingos Jorge Velho iniciou outro poderoso ataque a Palmares. A cerca defensiva, de mais de cinco quilômetros de extensão, impedia o avanço dos homens do bandeirante paulista. Mas a munição dos quilombolas esgotou-se e a resistência não durou muito. Mesmo assim, pequenos grupos sobreviveram no mato por mais algum tempo.
Após a morte de Zumbi, é possível que parte do quilombo dos Palmares tenha sido reconstruída, existindo até 1740. Séculos depois, em 1978, o Movimento Negro Unificado transformou a data oficial da morte de Zumbi, 20 de novembro, em Dia Nacional da Consciência Negra.
Atualmente, cerca de 2 milhões de afro-descendentes vivem em áreas remanescentes de quilombos. Eles lutam para que o Estado lhes reconheça o direito sobre as terras ocupadas por seus familiares há várias gerações.
PEDRO, Antônio. História da civilização ocidental: ensino médio:volume único.