Feéricas celebrações: coroação de Alexandre III, em 1883, foi só uma prévia do que será a festa de Nicolau (na escadaria, à esq.)
Está chegando o dia de Nicolau Alexandrovich Romanov. Depois de um longo período de luto pela morte do pai, Alexandre III, o herdeiro do poderoso império finalmente será coroado czar da Rússia no próximo dia 14 de maio, em uma aguardada cerimônia marcada para a belíssima Catedral da Assunção, dentro das muralhas do Kremlin, em Moscou. Um mês inteiro de feéricas celebrações, com farta distribuição de pão e boa dose de circo, é a receita da nobreza russa para que o jovem monarca, de apenas 28 anos, reverta os incômodos ventos de impopularidade que sopram contra Nicolau desde que ele assumiu, de fato, as funções de governante supremo do país, no fim de 1894.
Novo czar: impopular e despreparado
Milhares de russos já se dirigem a Moscou para tomar parte nos festejos. A chegada de Nicolau II e da czarina Alexandra Fedorovna ao Palácio Petrovsky, nos arredores de Moscou, está marcada para o dia 6. Três dias depois acontece o desfile imperial, que colorirá as ruas da cidade com milhares de fardas dos diversos regimentos militares e acompanhará o casal do Palácio ao Kremlin, a fortificação erguida às margens do Rio Moscou para proteger a cidade dos invasores. Nos dias 10 e 11, estão marcadas recepções para embaixadores e solenidades para figuras proeminentes do império. Quatro dias depois da coroação, o momento de glória reservado para os súditos: o opíparo banquete popular nos campos de Khodynka, em que serão montados bufês, bares e teatros, além da famosa e geralmente generosa distribuição de presentes pela ocasião. Apenas para esse evento são aguardadas cerca de 500.000 pessoas.
O antecessor com a família: mão firme
'Bon vivant' - Espera-se que a coroação oficial e o clima festivo forneçam a Nicolau um apoio que ainda não teve - muito por seus próprios atos, é verdade. Ao chegar ao trono, em função da doença e morte do pai, resistiu a entregar qualquer tipo de poder a representantes eleitos pela população. Teve a chance de realizar uma série de reformas constitucionais reivindicada pelos trabalhadores e camponeses, mas, contrariando os conselheiros da família imperial, decidiu manter a política de Alexandre III. Além disso, repeliu rispidamente as delegações que se encontravam no Palácio de Inverno de São Petersburgo na esperança de terem seus desejos atendidos. Com isso, deu continuidade ao autoritarismo vigente nos tempos do czar Alexandre. Ao contrário do pai, todavia, Nicolau II parece não ter mão firme o bastante para conduzir o gigantesco império russo. A morte inesperada de seu genitor por falência renal, há dois anos, precipitou a ascensão do primogênito. De acordo com todos os conselheiros, o jovem estava completamente despreparado para as funções. O próprio Nicolau, que jamais se interessou pela política (bon vivant, preferia a companhia das mulheres) sabia disso. É célebre a frase que o herdeiro teria professado a um de seus primos quando soube do passamento do pai, Alexandre III: "O que será de mim e da Rússia?" A resposta, o mundo terá a partir de agora.
Revista Veja História