Foto tirada em 5 de outubro de 1960 mostra Jacqueline Kennedy escrevendo seu semanário 'Esposa do Candidato'
Jacqueline Kennedy não gostava do general Charles de Gaulle, que considerava "desagradável", nem dos franceses, por achá-los egoístas. Essas confissões da mulher do ex-presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy (1961-1963) foram gravadas em 1964 e só reveladas em um programa exibido pela rede de TV americana ABC na noite desta terça-feira.
"De Gaulle era meu herói quando me casei com Jack", declarou Jacqueline ao historiador Arthur Schlesinger. "Mas, na verdade, ele era muito desagradável", acrescentou, ao se recordar da viagem que fez à França em maio de 1961 com John F. Kennedy, que havia assumido a presidência quatro meses antes.
Jacqueline, que falava muito bem o francês por ter estudado um ano na Sorbonne quando tinha 20 anos, também não tinha um bom conceito dos franceses em geral. "Detesto os franceses (...) Eles não são gentis, só pensam em si mesmos", declarou.
Schlesinger gravou mais de oito horas de conversas com Jackie Kennedy quatro meses depois do assassinato de seu marido, em novembro de 1963, em Dallas. Ela tinha na época 34 anos.
Mas De Gaulle não era a única personalidade política que foi alvo de suas críticas escancaradas. Jackie disse também que Indira Ghandi, então futura primeira-ministra da Índia, era uma mulher "amarga, arrivista e horrível", e também não escondeu suas dúvidas sobre Marthin Luther King. Ela teria dito ao seu marido que considerava o líder dos direitos civis negros uma pessoa "falsa".
Além disso, ela revelou que Kennedy estava preocupado com o país caso seu vice-presidente, Lyndon Johnson, viesse a sucedê-lo.
A viúva do presidente disse que seu marido e seu cunhado, Robert Kennedy, haviam comentado a questão. "Bobby me disse isso mais tarde, e sei que Jack falou disso comigo algumas vezes. Ele disse: 'Oh, Deus, pode imaginar o que aconteceria com o país se Lyndon fosse presidente?'", recordou a ex-primeira-dama.
Jacqueline afirmou que seu marido tinha a intenção de manter Johnson na chapa eleitoral em 1964, mas com esperanças de impedir que se candidatasse em 1968, ao final do que poderia ter sido o segundo mandato de John F. Kennedy. "Ele não gostava da ideia de que Lyndon fosse presidente porque estava preocupado com o país", explicou.
Em outros trechos da entrevista, Jackie comentou que Kennedy chegou a brincar sobre seu próprio assassinato depois da crise dos mísseis cubanos.
A viúva recordou que seu marido perguntou uma vez ao historiador de Princeton David Donald se Abraham Lincoln teria sido considerado um grande presidente se não tivesse sido assassinado.
Donald respondeu que provavelmente não, porque, com a Guerra Civil, Lincoln teria que lidar com "o problema insolúvel" de reconstruir o sul devastado pelos combates. "E eu lembro do Jack dizendo que... depois da crise dos mísseis de Cuba, quando tudo acabou tão fantasticamente... ele disse: 'bom, se alguém for atirar em mim, esse seria o dia em que deveriam fazer isso", contou Jackie.
As memórias de Jacqueline Kennedy provêm de uma série de entrevistas realizadas pelo historiador Arthur Schlesinger, que foram mantidas em particular pela família Kennedy até agora.
As transcrições estão incluídas no livro "Jacqueline Kennedy: Conversas históricas sobre a vida com John F. Kennedy", que será publicado este mês. Essas gravações foram divulgadas por iniciativa de Caroline Kennedy pelo aniversário de 50 anos em que seu pai assumiu a presidência do país.
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