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Fragmento encontrado em Israel: texto guarda semelhanças com lei babilônica
Uma equipe da Universidade Hebraica de Jerusalém descobriu em escavações em Tel Hazor, no norte de Israel, o fragmento de uma tábua cuneiforme que apresenta semelhanças com o conteúdo e o momento da escritura do Código de Hamurabi, um dos mais antigos conjuntos de leis escritas.
O fragmento está escrito na língua acádia, atualmente extinta e usada na antiga Mesopotâmia principalmente por assírios e babilônios no segundo milênio antes de Cristo.
"É a primeira vez que um fragmento de um código de lei é descoberto na Terra Santa e, até mesmo, fora de Mesopotâmia", explicou o chefe da equipe de pesquisas, o arqueólogo Amnon Ben-Tor, da Universidade Hebraica de Jerusalém.
"O texto se refere às regras que regiam as relações entre mestres e escravos", explicou o professor Wayne Horowitz, que decifrou os símbolos. "Essas linhas que evidenciam um conteúdo legal confirmam a ligação entre o reino de Hazor e os reinos da Síria do norte", considerou.
Os arqueólogos dataram a tábua entre os séculos 18 e 17 a.C., o mesmo período do Código de Hamurabi, informou hoje a universidade em comunicado. Ela foi achada recentemente em Tel Hazor, um dos sítios arqueológicos mais importantes de Israel, declarado Patrimônio da Humanidade em 2005.
Localizada no norte da Galiléia, Hazor foi uma das principais cidades do Crescente Fértil durante a idade de bronze. Situada na estrada que liga o Egito à Ásia, Hazor comercializava estanho com as cidades da Babilônia e da Síria para alimentar sua indústria de bronze.
Hazor mantinha ligações políticas e econômicas estreitas com a Mesopotâmia, entre o Tigre e o Eufrates (hoje, Iraque e nordeste da Síria). Hazor prosperou sobretudo durante a metade do período cananeu (1750 a.C) e foi a maior cidade fortificada de Israel durante o período israelita (século 9 a.C.). A Bíblia se refere a Hazor como "a cabeça de todos esses reinos" cananeus (Josué 11:10).
"Leis similares às do Código de Hamurabi são conhecidas pela Torá (corresponde ao Antigo Testamento), mas a diferença de tempo entre as duas escrituras é de mil anos. Agora, temos em nossas mãos o fragmento de uma tábua que contém leis muito similares ao código, mas achada em Hazor e que datam do mesmo período", aponta o professor Amnon Ben-Tor, do Instituto de Arqueologia da Universidade Hebraica.
Os fragmentos encontrados se referem a questões relacionadas com legislação sobre danos pessoais e relações entre amos e escravos, e são esses que guardam similaridades com a peça de Hamurabi descoberta há mais de um século no que hoje é o Irã.
O Código de Hamurabi (por volta de 1750 antes de Cristo) é um dos mais antigos códigos de lei, o primeiro quase completo. Texto babilônio não religioso, mas de inspiração divina, elaborado sob a autoridade do rei Hamurabi, ele prolonga juridicamente a obra militar e política do fundador do reino da Babilônia. Esse código está atualmente no Museu do Louvre em Paris, mas uma cópia também está exposta no museu arqueológico de Teerã.
"Hoje sabemos que em Tel Hazor havia uma escola de escribas que estavam familiarizados com o Código de Hamurabi", aponta Ben-Tor, para quem essa transferência de conhecimento pode ter acontecido na última etapa da Idade do Bronze. Segundo o pesquisador, a descoberta pode ajudar a entender sobre como esse tipo de leis passou para o período israelita.
(Com informações da EFE e da AFP)
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