História do Brasil e do Mundo
Marc Bloch e as bases para uma Nova História
Marc Bloch nasceu na França em 1886 e morreu em 1944 assassinado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1929, juntamente com Lucien Febvre, fundou a Revista dos Annales que se tornou o marco de uma nova perspectiva para a produção historiográfica do século XX. Seus colaboradores transformaram de forma radical o modo de produzir história a partir de então. Dentre as obras mais significativas de Bloch, destacam-se Os Reis Taumaturgos: o caráter sobrenatural do poder régio França e Inglaterra e Apologia da História ou do Ofício de Historiador. Este último pode ser interpretado como um manifesto a uma nova história. Este texto lança as bases do que será discutido pela história ao longo do século XX no que se refere à pesquisa histórica propriamente dita. Bloch discute no seu texto, dentre outros pontos, as relações entre o historiador e as fontes ou para usar os termos de Bloch, entre o historiador e seus “testemunhos”, que para ele devem ser pensados sob a ótica do debate sobre tempo histórico. Para Marc Bloch o passado não se modifica, por outro lado “o conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa”. (Bloch, 2002, p. 75). Este método regressivo proposto por Bloch está intimamente ligado à defesa de uma postura diferenciada frente às fontes. Para ele, estas não podem dizer por si, por isso o historiador não pode se contentar em apenas registrar, “mas, a partir do momento em que não nos resignamos mais a registrar [pura e] simplesmente as palavras de nossas testemunhas, a partir do momento em que tencionamos faze-las falar [,mesmo a contragosto], mais do que nunca impõe-se um questionário. Esta é com efeito a primeira necessidade de qualquer pesquisa histórica bem conduzida”. (Bloch, 2002, p. 78).
Mesmo os textos mais claros, de acordo com Bloch, “mesmo os aparentemente mais claros e complacentes, não falam senão quando sabemos interroga-los”. (Bloch, 2002, p.79). Além deste fecundo posicionamento metodológico sobre as fontes, existe uma defesa da ampliação do horizonte de atuação do historiador, bem como da ampliação da própria noção de fonte histórica, pois “a diversidade dos testemunhos históricos é quase infinita. Tudo que o homem diz ou escreve, tudo que fabrica, que toca pode e deve informar sobre ele” (Bloch, 2002, p.80). Esta nova história francesa que se revitaliza a cada geração de historiadores revolucionou o fazer histórico ao estabelecer uma critica a noção de documento enquanto “verdade”.
Toda esta mudança de rumos na pesquisa histórica já era apontada por Bloch nos Reis Taumaturgos. Obra escrita vinte anos antes de Apologia da História, em 1924, esta já trazia as bases da revolução que as pesquisas do autor promoveriam na historiografia das décadas posteriores. Um dos elementos que evidenciam isto é a presença de uma ciência histórica construída de forma interdisciplinar. Por meio dos antropólogos James Frazer e Lucien Levy- Bruhl. os estudos em antropologia são uma das bases para o trabalho de Bloch.
A obra de Bloch deve ser compreendida a partir de um contexto particular. As experiências da Grande Guerra foram fundamentais para as mudanças historiográficas dos trabalhos do autor. A critica à historiografia anterior que se pautava nas narrativas dos heróis e das nações como fundamento essencialista da história pode ser vista como resultante da crise pela qual passava a própria civilização ocidental a partir do século XX. O sentido da história proposto pelo positivismo era colocado em questão juntamente com sua universalidade. A busca pelo inconsciente, pelas mentalidades pode ser interpretada como parte de sua experiência no front. “Carlo Ginzburg revelou e analisou a maneira pela qual Os Reis Taumaturgos nasceram da experiência da guerra de 1914-18. Marc Bloch viu ali a reconstrução de uma sociedade quase medieval, uma regressão a uma mentalidade “barbara e irracional”. “A experiência da guerra reforçou em Marc Bloch a convicção de que se a incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado, (...) compreender o passado pelo presente”(...) A psicologia dos soldados e dos homens de 1914-18 esclarecerá a atitude das gentes da Idade Média para com o milagre régio.
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