André Figueiredo Rodrigues
Tiradentes não era uma pessoa pobre, como muitos imaginam. Antes de ingressar na carreira militar, envolveu-se em diversas atividades econômicas: foi mineiro, tropeiro e proprietário de terras.
Em 1781, comandou a construção do Caminho do Menezes, que atravessava a Serra da Mantiqueira. Ao verificar as riquezas minerais de rios e córregos da região, solicitou o direito de explorar 80 datas minerais. Recebeu do comandante do distrito autorização para explorar 43 lavras.
Até ser preso pela devassa da Inconfidência, em 1789, Tiradentes explorava aquelas terras. Foi possivelmente com os lucros obtidos nessa mineração que pôde emprestar ao cadete José Pereira de Almeida Beltrão 200 mil-réis, e a Luís Pereira de Queirós, a quantia de 220 mil-réis, encontrados no seqüestro de seus bens. A dívida do primeiro correspondia ao valor médio de 30 vacas leiteiras ou ao de uma fazenda de médio porte na região dos sertões. Acredito que somente com o soldo de militar (142$350 réis anuais), Tiradentes não se sustentaria. Em 1757, recebeu de sua mãe, Antônia da Encarnação Xavier, uma herança no valor de 965$774 réis.
A devassa descobriu, quase um mês após o seqüestro de seus bens, que Tiradentes era dono de um sítio de aproximadamente 50 quilômetros quadrados na Rocinha da Negra, no porto do Meneses.
Por esses dados, creio que Tiradentes era um homem de posses, e não um homem pobre.
André Figueiredo Rodrigues é doutorando em História pela Universidade de São Paulo e autor do livro O clero e a Conjuração Mineira (Humanitas FFLCH/USP, 2002).
Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional