Os mitos estão misturados à história. E por vezes acabam influenciando o destino dos povos. A guerra de Tróia, por exemplo. Os deuses tomavam partido dos gregos e troianos, mesmo com a ordem explícita de Zeus para que não se metessem nos destinos humanos. Quando Virgílio escreveu a Eneida, o poeta romano deu um jeito de ligar o derrotado príncipe Enéas à gênese de seus patrícios em seu épico. É do troiano Enéas que vem a descendência que culmina nos gêmeos Rômulo e Remo, que fundam Roma depois de passarem a infância sendo amamentados por uma loba.
Um dos mitos astecas previa o aparecimento de grandes homens brancos. Quando Hernán Cortés chegou ao que hoje é o México, com um punhado de homens acabou confundido com deuses pelos locais, na opinião de muitos especialistas. Talvez seja uma boa explicação para o fato de ter subjugado todo o império com tão pouca gente. As armas de fogo, para os astecas, podem ter sido interpretadas como uma relação com o divino. E a reduzida cavalaria espanhola pode ter derivado numa imagem de seres híbridos , com 4 patas e 2 braços.
A própria lenda do rei Arthur, baseada em antigas histórias orais celtas, foi usada para afirmar o caráter britânico diante de invasores da ilha. Arthur era o símbolo, ao mesmo tempo, de um herói e de um patriota.
Mas o que vale, mesmo, para as narrativas mitológicas , é que passados milhares de anos, o ser humano ainda é, cativado por uma boa história. E é disso que se trata: com suas grandes diferenças para explicar nossa existência, os mitos nos ajudam a organizar a vida, são exemplos. E isso começa já na infância quando ouvimos os primeiros contos de fadas. Para o especialista Joseph Campbell, tais histórias têm grande sentido: “São mitos para crianças”.
fonte: revista Super Interessante. ad.280-A/Julho 2010. ed. especial. por Wagner Gutierrez Barreira
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