A relação com os deuses em geral é bem complicada para os humanos. Eles são seres superiores que ajudam os homens, lhe dão a luz do Sol, conhecimento e sabedoria. Mas também têm uma cólera divina. Imagens de dilúvios e inundações aparecem em histórias da África, do Oriente Médio, nas Américas, no Sul e no leste da Ásia e na Europa. Punições aos humanos são frequentes, e muitas delas projetam o fim dos tempos, das narrativas astecas às indianas, cada uma à sua maneira.
O estudo da mitologia ganhou um impulso extraordinário no século XX, quando antropólogos, e não conquistadores, tomaram contato com sociedades não contaminadas com histórias alheias. O Brasil teve parte importante nisso. O antropólogo belga Claude Lévi-Strauss (1908-2009), que veio ao país para tomar parte na fundação da Universidade de São Paulo, na década de 1930, estudou os índios bororos no Mato Grosso e tomou nota de toda uma mitologia que seguia viva. Lévi-Strauss, um dois criadores do estruturalismo, registrou mais de 800 mitos de povos da América do Sul e do Norte. É considerado um dos maiores intelectuais do século passado. Para ele as narrativas ancestrais tentam dar resposta às contradições da experiência humana.
Outro gigante do estudo de mitos, o americano Joseph Campbell (1904-1987) acreditava que as narrativas não existiam para dar sentido à vida. “O mito ajuda a colocar sua mente em contato com a experiência de estar vivo. Ele diz o que a experiência é. Casamento por exemplo. O que é o casamento? O mito lhe dirá o que é o casamento. É a reunião da díade separada. Originalmente vocês eram um. Vocês agora são dois no mundo”, explicou ao jornalista Bill Moyers em uma célebre série para a TV pública dos EUA que depois virou livro “O Poder do Mito”. Campbell diz ainda: “Mitologia são histórias sobre sabedoria de vida”.
díade: grupo de dois, um par
fonte: revista Super Interessante, ed. 280-A/Julho de 2010 – ed, especial, por: Wagner Gutierrez Barreira.
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