História do Brasil e do Mundo
GUERNICA: a materialização de uma obra nazista
Exposta no "Museo de la Reina Sofia" em Madri, capital da Espanha, Guernica é a obra mais famosa de Pablo Picasso. Produzida em 1937, o artista espanhol procurou retratar em sua tela de estilo cubista, a face do horror vivenciado pela pequena cidade espanhola de Guernica (daí o nome da obra). O horror no qual mencionei, refere-se ao bombardeio da força aérea nazista, que apoiou o movimento golpista liderado pelo general Francisco Franco, durante o processo de Guerra Civil Espanhola (1936-1939).
Às vésperas de um segundo conflito mundial, a Guerra Civil Espanhola, serviria naquele momento para os nazistas como uma espécie de laboratório, um teste, ou ainda um ensaio de guerra, onde armas e táticas militares foram devidamente colocadas a prova.
Ao tomar conhecimento da barbárie nazista realizada em Guernica, que na ocasião deixara um saldo desastroso de aproximadamente 7 mil mortos, o artista espanhol Pablo Picasso, ficou estarrecido e acabou utilizando seu pincel para retratar a dor, a agonia e o desespero das pessoas que ali estiveram. Acredito que a obra tenha atingido o seu objetivo ao retratar todo o horror e transmitir-nos de forma tão intensa uma sensação de tragédia, pois neste sentido, Guernica ganharia anos mais tarde, dimensão mundial e se tornaria um ícone da luta contra a guerra.
A obra em si está “recheada” de elementos simbólicos e convido-lhes a fazer uma viagem a este intrigante cenário pintado por Picasso. Sendo assim, partiremos da esquerda para a direita. Então, vamos lá!
No canto superior esquerdo vemos um TOURO, elemento que se faz presente em diversas obras de Picasso, o que é atribuído ao seu fascínio pelas touradas. O touro aí, muito além de ser uma mera representação cultural (touradas espanholas), ilustra a força e a resistência do povo espanhol, entretanto este animal também é lembrado pela brutalidade, relação esta, que faz muitos estudiosos atribuírem à figura deste ao general Francisco Franco. Repare como ele parece observar a cena depois de um possível ataque ao inimigo, ou até mesmo se preparando para um novo ataque.
Logo abaixo do touro, nos deparamos com uma MULHER QUE CARREGA UMA CRIANÇA DESFALECIDA NOS BRAÇOS. É forte a expressão de desespero e agonia desta mãe que acabara de perder seu(a) filho(a) no ataque aéreo nazista, muito bem ilustrado no fato da mulher está olhando para cima.
Ainda na parte esquerda da tela, logo ao chão, apresenta-se UMA PESSOA COMPLETAMENTE MUTILADA. Mesmo despedaçada, um de seus braços agarra-se a uma espada quebrada que parece está unida a uma flor, símbolo da esperança. O fato de portar uma espada, remete-nos a possibilidade de se tratar de um guerreiro e a mensagem ai contida, é a de que "mesmo destruído, ainda haverão de lutar". Além disso, a simbologia existente no item “mutilação” nos conduzirá a sensação de morte, de fracasso e/ou derrota militar. Na verdade, contrapondo-se a idéia de morte/derrota, o fato de agarrar a espada, dá vida ao personagem que através de dois elementos, espada e flor, transmite a mensagem de resistência e esperança.
No centro da tela, temos UM CAVALO AJOELHADO, aparentemente ferido, sua expressão é de dor e raiva. Voltado com a cabeça para o touro (o inimigo), o cavalo parece dar um forte rugido, simbolizando dessa forma, toda a angústia vivenciada pelo povo espanhol.
Passamos ao lado direito da obra. Na parte superior, meio que em uma janela, ou uma abertura acima, saem UM BRAÇO QUE SEGURA UM CADEEIRO E UMA CABEÇA DE UMA PESSOA BOQUIABERTA, com olhar e expressão tristes, parecendo não acreditar naquilo que presencia. O candeeiro clareia mais a cena através de uma suave luz, geralmente relacionada à luz da consciência, da razão humana, como se esta clarificasse aos olhos e a mente dos homens acerca dos horrores da guerra. Perceba que em sintonia à luz do candeeiro, o rosto boquiaberto parece entender e por meio da expressão facial (tristeza), completar a mensagem a ser transmitida em relação à condição humana num cenário de guerra.
Logo abaixo do rosto e do braço segurando o candeeiro, encontraremos uma MULHER QUE PARECE SAIR DO ESCURO, em procura da luz emanada pelo candeeiro. A sua postura, revela um esgotamento, como se ela estivesse carregando um enorme fardo nas costas. Muitos críticos associam a figura desta mulher a de Cristo carregando a cruz.
Na extrema direita da cena, há um homem com os braços erguidos, num gesto de rendição. Observe em seu rosto a expressão de medo e pânico que se une ao olhar para cima, também numa alusão ao bombardeio nazista. Este elemento em especial da cena de Guernica, também é associado ao personagem central da tela “Os fuzilamentos” dos 3 de maio de 1808 de Goya".
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"Os fuzilamentos" |
Por fim, no centro superior esquerdo da tela, vemos uma LÂMPADA. A forma com a qual foi desenhada nos remete a aparência de um sol, o que fica subentendido que Picasso quis retratar este elemento como o “Olho de Deus”, que observa de forma omnisciente todo o cenário desolador. Seria uma testemunha muda, mas que conhece a verdade, a verdade histórica.
Guernica possui dimensões grandiosas, não somente pelo fato de ter se tornado uma das obras mais famosas do mundo, mas no tamanho em si, possuindo cerca 3,5m x 7,76m. Isto nos faz reverenciar ainda mais a genialidade de Picasso que em apenas um mês produziu Guernica.
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Guernica em exposição. Nesta foto dá pra se ter noção do tamanho da tela pintada por Picasso. |
Ainda sobre esta obra existe uma curiosidade que merece nosso destaque. Conta-se que certa feita, numa exposição em Paris, um representante do nazismo perguntou a Picasso se aquela obra o pertencia e/ou se ela era de sua autoria. E que sem titubear, Picasso respondeu: “Não, é obra de vocês!”
E finalizando mais uma postagem, depois de um belo passeio reflexivo sobre o cenário horripilante de Guernica, gostaria de convidá-los a um fantástico passeio em 3D sobre este mesmo cenário. É só clicar e assistir:
Forte abraço e saudações históricas!
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