(Jorge Fernando dos Santos - Do Estado de Minas)
Da canção de ninar à marcha fúnebre, a música sempre fez parte da vida dos homens. Na era pós-industrial, não faltam opções de gêneros e estilos musicais para todos os gostos e ouvidos. Da suavidade das composições chamadas eruditas aos estertores do funk, somos diariamente bombardeados por notas e acordes. No entanto, as escolas brasileiras, em sua maioria, insistem em ignorar os benefícios da música no processo de aprendizagem. Numa sociedade cada vez mais individualista, em que o consumismo substitui as ideologias, o cidadão é, desde cedo, afastado da própria harmonia interior.
No livro Musicalizando a escola: música, conhecimento e educação, publicado pela editora Escrituras, Carlos Eduardo de Souza Campos Granja analisa a importância da música em vários momentos da história humana e defende a volta do ensino musical obrigatório no país. Além de contribuir para a auto-estima e estimular a compreensão do outro e de si mesmo nas aulas de educação artística, passando noções de disciplina, hierarquia e respeito às diferenças, a música pode ser uma ferramenta no ensino de matérias como línguas, história, geografia, física e matemática.
Campos Granja parte da premissa de que o homem é um ser musical. Mais que isso, toda a natureza é musical, entendendo-se por música a articulação harmônica entre ruído e silêncio. Seu livro é, na verdade, a ampliação da tese de mestrado defendida na Universidade de São Paulo (USP) e visa demonstrar o quanto a música se relaciona com lógica e matemática. Professor dessa matéria na Escola da Vila e de percussão corporal na Escola HeiSei, em São Paulo, o autor é formado em economia e matemática, mas desenvolveu paralelamente estudos em música. É contrabaixista e mestre em educação.
O livro lembra a origem da música e de seu estudo, desde a Grécia Antiga, sob o olhar de filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles. Campos Granja lembra que a cultura clássica atribuía a origem dos sons aos deuses Apolo e Dionísio. O primeiro teria concebido as grandes harmonias, executadas em instrumentos de corda e identificadas com a música erudita e espiritual. O outro seria responsável pelos sons percussivos e soprados, que levariam aos ritmos profanos e à canção popular. No século 20, a partir do jazz, essas duas concepções se tornariam mais próximas.
Palestra
A tese de Campos Granja foi impulsionada pela palestra proferida, em julho de 2005, pelo psicólogo e educador musical inglês David Hargreaves, intitulada ?Within you, without you: music, learning and identity?, durante simpósio na Universidade Federal do Paraná. O especialista falou do descompasso existente entre a música ensinada nas escolas britânicas e a música praticada pelos alunos fora das salas de aula. Alguém pediu a palavra e ressaltou que, no Brasil, esse descompasso não existe simplesmente porque, aqui, sequer se ensina música na escola.
Musicalizando a escola é indicado a professores e diretores. No entanto, o autor alerta que ?a proposta de musicalizar a escola não pode se limitar à inclusão da música como disciplina. Deve implicar na construção do conhecimento, articulação entre elaboração conceitual e atividades de natureza perceptiva?.
Musicalizando a escola: música, conhecimento e educação
De Carlos Eduardo de Souza Campos Granja, Editora Escrituras, 160 páginas, R$ 18.
Correio Braziliense, 25 fev. 2007.