Com a vinda da Família Real portuguesa para o Brasil, diversas mudanças de cunho cultural e tecnológico foram incentivadas. A ciência e as artes até então pouco exploradas passaram a ter espaço, e recursos foram investidos de forma que até grandes nomes da cultura européia da época foram trazidos para o Brasil. De fato, com D. João VI no Brasil a paisagem e a atmosfera política e cultural haviam se alterado muito. Para começar, foi necessário dar ares mais variados à antiga capital brasileira com novas instituições que pudessem auxiliar na criação de um centro metropolitano.
Dom João contribuiu com a disseminação do conhecimento e da informação no momento em que autorizou a circulação de jornais e revistas no país, que até então eram proibidos. Com esses novos meios de divulgação da informação, as novas idéias científicas e também literárias puderam ser difundidas entre os vários grupos que começavam a se formar na sociedade, que não mais se mostrava estamental, mas sim com classes passivas de mudanças – exceto para os negros, é claro. A criação do jornal “O Patriota” pode exemplificar esse fato, uma vez que nele, entre os anos de 1813 e 1814, foram publicados, pela primeira vez, artigos científicos. Culturalmente, o desenvolvimento no período foi enorme: abriram-se teatros, bibliotecas, academias literárias e científicas, para atender não só à própria Corte, mas a uma população urbana em rápida expansão. Durante a estada de D. João, a população da capital dobrou: de 50 mil para 100 mil habitantes.
Como a Coroa não veio sozinha, trazendo consigo a nobreza e parte da burguesia, a educação e cultura também necessitaram de reformas. Para tanto, Dom João incentivou a produção local de conhecimento com a criação de Universidades que eram dotadas de cursos como a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro; criou o Museu Real (que se tornaria, futuramente, o Museu Nacional) e o Jardim de Aclimação (futuro Jardim Botânico); A Escola de Belas Artes, atualmente integrada à UFRJ; a Academia Naval e a Faculdade de Medicina da Bahia, agora da UFBA, as três últimas feitas entre 1810 e 1816. A importação da Biblioteca Real, atual Biblioteca Nacional da Avenida Rio Branco também está neste âmbito. Chegaram ao Brasil cientistas e viajantes estrangeiros principalmente nas missões artísticas que tinham o objetivo de explorar esta terra tão vasta e rica.
Existem várias causas e motivos que explicam essa carência no campo de pesquisa. Os portugueses após ter descoberto as terras americanas (Brasil), não fizeram muitas pesquisas no campo científico, e as poucas expedições e pesquisas que ocorreram não foram publicadas em Portugal e, portanto não eram muito estudadas. Os lusos tomaram essa atitude com medo de uma possível concorrência de outras potências.
Além dos portugueses não ficarem sabendo de nada sobre a ciência daqui, não havia um meio de comunicação que informasse aos próprios brasileiros os artigos científicos que eram produzidos. Não havia na época um periódico que divulgasse assuntos científicos e, portanto a divulgação era feita manual ou oralmente. Não obstante, a infra-estrutura, aqui presente, era muito inadequada e as instituições de pesquisa ou armazenamento de dados eram muito pequenas e precárias. Os cientistas, portanto, coletavam dados e não tinham onde pô-los para estudá-los em um momento posterior. Uma das poucas instituições existentes era a Casa dos Pássaros que era destinada ao trato e depósito de animais para estudo.
Quando a corte portuguesa chega ao Brasil, o príncipe regente D.João trata de cuidar de diversos problemas inclusive o da divulgação de informações. Uma de suas medidas é a criação da imprensa, criada primeiramente para divulgar decretos reais. Além da criação da imprensa, D.João toma a iniciativa de centralizar as informações e pesquisas no RJ para que esses estudos pudessem ser acessados com certa facilidade por cientistas e estudiosos. Previamente houve uma tentativa mal-sucedida de tentar centralizar as informações em Lisboa (logo a metrópole não centralizava somente as riquezas).
Contribuições de Expedições
Missão Artística Francesa
A queda de Napoleão vai propiciar a retomada dos laços culturais entre a França e Portugal. A convite da Corte portuguesa, veio ao Rio a Missão Artística Francesa, chefiada por Joaquim Lebreton e composta por um grupo de artistas plásticos. Dela faziam parte os pintores Jean-Baptiste Debret e Nicolas Antoine Taunay, os escultores Auguste Marie Taunay, Marc e Zéphirin Ferrez e o arquiteto Grandjean de Montigny. Esse grupo organizou, a partir de agosto de 1816, a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios, transformada, em 1826, na Imperial Academia e Escola de Belas-Artes.
Durante os cinco anos em que aqui permaneceu Taunay, o pintor, reproduziu cerca de trinta paisagens do Rio de Janeiro e regiões próximas. Entre elas está "Morro de Santo Antônio em 1816", que compõe o acervo do Museu Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro.
Debret, por sua vez, realizou no Brasil uma imensa obra. Fez vários retratos da família real, aquarelas e desenhos sobre o cotidiano da cidade, retratando as atividades dos escravos, dos grupos indígenas e, também, sobre os fatos da vida da Corte. Pintou cenários para o Teatro São João (atual João Caetano) e realizou trabalhos de ornamentação da cidade do Rio de Janeiro, para festas públicas e oficiais, como a aclamação do rei D. João VI. Além disso, foi professor de pintura histórica na Academia de Belas-Artes criada por D. João, tendo permanecido no Brasil durante quinze anos. Um de seus trabalhos mais conhecidos é o livro " Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil," publicado em três volumes.
No campo da arquitetura, a Missão Francesa desenvolveu aqui o estilo neoclássico, abandonando os princípios barrocos. O principal responsável por essa mudança foi o arquiteto Grandjean de Montigny, autor do projeto do prédio da Academia de Belas-Artes, construído em 1826, da Casa da Moeda (atual Casa França - Brasil) e do Solar da Baronesa, situado onde é hoje o campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, entre outros.
Outras expedições
Novos grupos de estudiosos e cientistas europeus continuavam chegando ao Brasil. Entre 1816 e 1822 o professor francês de botânica Saint-Hilaire percorreu as atuais regiões sudeste e sul, demonstrando, em suas anotações, seu deslumbramento com os recursos naturais aqui encontrados. Mas, se a beleza da natureza brasileira o encantava, não deixava de perceber e criticar os privilégios concedidos à nobreza e aos portugueses, de maneira geral, bem como as injustiças cometidas contra a população mais pobre. Em seu livro " Segunda viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a São Paulo" comentava:
" (...) Era preciso que se distribuísse, gratuitamente, e por pequenos lotes, esta imensa extensão de terras vizinhas à capital e que ainda estava por se conceder quando chegou o rei. Que se fez, pelo contrário? Retalhou-se o solo pelo sistema das sesmarias, concessão que só podiam obter depois de muitas formalidades e a propósito das quais era necessário pagar o título expedido."
Em relação às heranças arquitetônicas e modernização urbana (que não deixam de ser uma forte influência cultural lusitana):
De acordo com os historiadores, a elite fluminense financiou a maior parte das obras que simbolizam o período em que a família real esteve no Brasil. Assim, a família real portuguesa bancou pequenas obras na nova corte, como a construção de três chafarizes, o prédio da Academia de Belas Artes, que hoje se transformou em um estacionamento, e o primeiro prédio do quartel, atual Palácio Duque de Caxias.
Ficou para a elite fluminense a tarefa de transformar o Rio de Janeiro em um lugar digno de capital do reino. Antes, os ricos da cidade não podiam ostentar riqueza. Por isso, as casas eram grandes, mas não tinham luxo. Com a chegada da família real, as regras foram alteradas. Empolgadas com a chegada de D. João, essas pessoas investiram na reforma de praças e até na pavimentação de ruas. Mas a motivação principal foi a possibilidade de morarem ao lado do príncipe regente. Os ricos se mudavam para lá e construíam ou reformavam seus palacetes especialmente em estilo neoclássico. D. João também permitiu a abertura de novos loteamentos, o que aumentou o perímetro urbano. O Palácio da Quinta da Boa Vista e a fazenda de Santa Cruz, outras residências imperiais, passaram por reformas. Mesmo assim não chegavam perto do luzo das edificações portuguesas.
Destino dos Palácios: Hoje, a Quinta da Boa Vista abriga o Zoológico do Rio e o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, administrado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Já no Paço Imperial, tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), funciona um centro cultural com exposições, biblioteca e lojas. A fazenda São Cristóvão teve um destino triste. No terreno doado para o Exército, sobrou apenas a fachada da igreja que existia nos tempos de D. João.