Ernesto "Che" Guevara, em Cuba, 1964
Argentina, 1928. Uma embarcação descia o rio Paraná. A bordo, Ernesto Guevara Lynch e Célia de La Serna, sua jovem esposa grávida. Viajavam para Buenos Aires, onde ela planejava parir. Mas foi surpreendida pelas dores do parto, em Rosário de La Fé. O casal desembarcou com pressa.
Momentaneamente, alojaram-se no número 480 da rua Entre Ríos, onde, num quarto improvisado, o menino veio à luz. Recebeu o nome do pai, Ernesto. A história, em seus anais, o registrou de bom grado como o Che. Até aquele momento, sua única herança havia sido um nascimento complicado.
Os Guevara não demoraram para deixar a parada obrigatória. Retomaram o caminho do Atlântico e se fixaram, durante algum tempo, em San Isidro, perto de Buenos Aires, onde Ernesto Guevara Lynch trabalhou como engenheiro civil. Desportista assumida, Célia logo se inscreveu no clube náutico da cidade e cultivou o hábito de levar o filho para as margens do rio da Prata. Numa manhã de maio de 1930, ao sair da água, o garoto manifestou sintomas de resfriado. Contraiu, em seguida, uma pneumonia que degenerou em recorrentes crises de asma. "no mês de maio faz um clima glacial e um vento forte, minha mulher tinha ido banhar-se no rio com nosso filho ernesto. Quando fui procurá-los, a fim de levá-los ao clube para o café da manhã, encontrei o menino com o calção de banho, já fora da água, (...) Trincando os dentes.
Ela ainda era inexperiente e não se dera conta de que as mudanças de tempo se mostravam perigosas naquela estação", comentou o pai.
Os problemas de que o menino padeceu, dali para a frente, condicionaram as migrações da família, em busca de um clima capaz de devolver a saúde àquele que então era chamado de Ernestito ou de Tetê. Em 1933, após alguns anos de nomadismo, os pais decidiram fixar-se em Alta Gracia, ao pé da Serra Chica, perto de Córdoba. Foi lá, numa cidade fundada pelos jesuítas, que o menino cresceu. Mas o ar puro de Alta Gracia, que atraía turistas e tísicos, não bastou para curá-lo. Ainda assim, as crises ficaram mais espaçadas. A débil saúde o impediu de freqüentar regularmente a escola. Preocupada com sua instrução, Célia improvisou-se na função de preceptora: "Ensinei meu filho Ernesto a ler. Ele não podia ir à escola por causa da asma. Freqüentou normalmente a segunda e a terceira séries. Compareceu às aulas da quinta e da sexta somente quando podia. Os irmãos traziam os deveres, e ele trabalhava em casa". Culta, Célia o iniciou na literatura. O garotinho, invariavelmente recluso na biblioteca familiar e nos cantos de um aposento qualquer, mergulhava até onde podia na leitura. Em torno dele, todos se preocupavam. "Então, perdido por perdido, decidiu decretar a própria liberdade e, como um pássaro que abre o cadeado da gaiola, o Che, até então confinado no quarto, descobriu o exterior, a natureza", recordou a irmã Anna-Maria.
Para superar a debilidade de sua constituição, os pais de Ernesto o ensinaram a amar o esporte. Ele se dedicou depois disso a exercícios intensos: equitação, futebol, alpinismo, natação. Aprendeu a vencer suas limitações. A vontade foi seu verdadeiro remédio. Cheio de energia, passou a sair de casa, mas trocava a companhia dos estudantes enfatuados, perfumados e emproados de sua condição social pela dos filhos dos proletários. Indignado com as condições de vida dos amigos índios, cujas famílias amontoavam-se num único cômodo, ele já procurava organizar - ao menos mentalmente - aqueles que a pobreza humilhava. E, enquanto o pai apoiava a República Espanhola, Tetê abria a residência familiar aos seus amigos mais pobres.
Os Guevara mantinham sempre a mesa franqueada. E seria assim também em Córdoba. Ali, sua residência transformou-se visivelmente numa casa do povo. Ernesto tornou-se amigo dos irmãos Granado: Tomás, Gregório e, sobretudo, Alberto, que, preso por ter participado de uma manifestação proibida de estudantes, exercia sobre ele um verdadeiro fascínio. "Sair à rua para ser mobilizado... logo eu, por quem ninguém dava uma figa e que nem podia andar!", dizia. De criança frágil, Ernesto transformou-se em adolescente robusto. Apaixonou-se pelos jogos competitivos e, quando não estava lendo, jogava tênis, golfe e bola basca, sem descurar a natação.
Os irmãos Granado o estimularam a praticar um esporte havia pouco tempo importado da Inglaterra, o rúgbi, e os pais passaram a ter de freqüentar os estádios, estimulando as jogadas de corpo, lamentando os saques errados. Por seus toques, os camaradas passaram a aclamá-lo como o Fuser, contração provocativa de Furibundo de la Serna! Suas irmãs e irmãos Célia (1929), Roberto (1932), Anna-Maria (1934) e Juan-Martin (1934) mais tarde contariam detalhada e prazerosamente suas façanhas.
No início de 1947 - meses depois do acesso de Juan Perón ao poder -, Ernesto matriculou-se na escola de medicina de Buenos Aires. "Quando decidi ser médico (...), a maior parte dos princípios que tenho hoje como revolucionário ainda não compunham meus ideais. Queria vencer na vida, como todo mundo, sonhava ser um pesquisador célebre... naquele momento isso era apenas um projeto pessoal", confessou ele mais tarde. Mas a universidade que Ernesto de fato apreciava era a rua, suas vielas e semblantes. Ele teria uma oportunidade de experimentar o exercício da medicina in situ. Foi quando, orgulhoso de seu título de doutor, Alberto Granado lhe propôs juntar-se a ele na sierra, no leprosário de San Francisco del Chanar, para o qual acabara de ser nomeado. Não haveria outra chance como aquela.
Ernesto improvisou um motor em sua bicicleta. Colocou na valise algumas roupas e um livro de Nehru, A descoberta da Índia. E partiu para a exploração que seria apenas uma forte antevisão de sua vida posterior.
Dois anos depois, ambos concretizariam um projeto mais ambicioso. Empreenderam um périplo de sete meses através do cone sul-americano, após muita hesitação sobre o destino de sua viagem. "Inicialmente pensamos em ir à Europa, o berço da civilização de que éramos, como argentinos, produto. A Grécia, a Itália, a França, país da Revolução, cuja língua Ernesto falava. E também a Espanha, nossa pátria-mãe de qualquer forma. Ou ainda o Egito dos faraós e das pirâmides? (...) Mas, no fundo, Ernesto estava mais atraído pelo nosso próprio continente. Partir em busca de nossas raízes latino-americanas...", recordou Alberto.
No dia 29 de dezembro de 1951, montaram sobre uma potente moto Norton, a Poderosa II (a Vigorosa), e percorreram os Andes numa bela e realística peregrinação que lembrava a busca pela iniciação. Chile, Peru, Colômbia... pontos em que agonizavam revoluções tradicionais que um certo Fidel Castro reavivaria. Em julho de 1952, os companheiros de estrada se separaram. Fiel à promessa que fizera à mãe, Ernesto voltou a Buenos Aires para concluir os estudos. Obteve o diploma de médico em junho de 1953. As sucessivas escapadas, contudo, tinham acabado de forjar sua consciência progressista. Os sonhos do jovem prático tinham se transformado em projetos políticos. Na estação de General Belgrano, a que o acompanhara para uma nova partida, Célia viu o trem distanciando-se. Da janela, herdeiro de seus sonhos igualitários, o filho gritou: "Aqui vai um soldado da América!".
Ernesto corria para os combates imaginados. Ele atravessou a Argentina, a Bolívia, o Peru, o Equador. Passou uma temporada na Guatemala, onde conheceu a militante Hilda Gadéa, com quem, mais tarde, se casou. Na Cidade da Guatemala, apoiou a reforma agrária de Jacobo-Arbenz-Guzman e, quando este depôs as armas, seguiu para o México a fim de encontrar os revolucionários cubanos exilados. Foi em julho de 1955 que teve o primeiro encontro com Fidel Castro. Este "acabara de purgar 22 meses de prisão, por causa do ataque ao quartel de Moncada, em 26 de julho de 1953, e devia sua liberação à imprudente anistia decretada pelo ditador Fulgencio Batista. O jovem advogado viajara imediatamente para o México, com um fim preciso: ali organizar a luta insurrecional contra a ditadura de Batista", descreveu o escritor Jorge Castañeda.
Esse encontro selou os dois destinos. Aconteceu na casa de Maria Antonia Sanchez Gonzalez, uma amiga próxima dos rebeldes cubanos. Os dois homens se observaram, julgaram um ao outro. Um, em seu diário, mandou tudo para o diabo: "É um acontecimento político ter conhecido Fidel Castro, o revolucionário cubano. Ele é jovem, inteligente, seguro de si e tem uma audácia extraordinária. Penso que simpatizamos um com o outro". Fidel reconheceu: "O Che tinha uma formação revolucionária mais sólida que a minha, ideologicamente falando. Do ponto de vista teórico, estava mais bem preparado, era um revolucionário mais adiantado que eu".
Para terminar, o Che - este era o sobrenome de fato que os mexicanos lhe haviam dado, em função de, como bom argentino, pontuar todas as suas frases com a interjeição - decidiu seguir Fidel na sua luta pela libertação de Cuba. Acrescentou, contudo, a seu juramento uma única reserva: "Retomar minha liberdade de revolucionário depois do triunfo da Revolução. Se o triunfo acontecer".
O pacto foi fechado. Che Guevara foi recrutado pelas tropas rebeldes. A partir de 1956, fez o curso de guerrilheiro. No final de agosto, pediu licença à esposa e à filhinha que ela lhe dera para preparar o desembarque na costa cubana. "Eu analisara os caminhos da América. Estive entre os maias, na Guatemala, para descobrir uma revolução. Lá, eu me encontrei com um camarada que se tornou meu guia. Em conjunto vivenciamos a idéia de defender aquele pequeno país contra os ianques.
Agora, para mim, chegou a hora de combater, dessa vez em outro país (...), para derrotar a exploração e a miséria. Com a vontade de construir um mundo melhor, no qual você viverá", explicou ele à filha.
A estrela dourada
Em 26 de novembro, com uma carga além do razoável, o Granma largou as amarras. A sublevação popular estava prevista para o dia 30, em Santiago de Cuba. Mas, surpreendido por uma tempestade, o velho barco encalhou no charco de Beliz, longe da praia Niquero e do dispositivo de recepção que estava previsto. "Não foi um desembarque, foi um naufrágio", abreviou Ernesto Guevara. Para escapar do massacre, só havia uma saída: a Sierra Maestra. O desastre estava claro. Era um maciço hostil e selvagem. Não havia como prosseguir a luta e, menos ainda, vencer sem conquistar o apoio dos nativos. "Nós adiantamos a reforma agrária como ponta de lança do exército rebelde", resumiria o Che.
De fato, graças aos camponeses, que conheciam perfeitamente o terreno, os barbudos retomaram os contatos com os grupos urbanos. Reorganizaram as tropas e retomaram as ofensivas. Em 17 de janeiro de 1957, atacaram o primeiro alvo: o quartel de La Plata. O Che semeou confusão nas fileiras inimigas, correndo, a descoberto, para incendiar um hangar. Sua conduta heróica fez com que fosse condecorado com o grau de comandante da guerrilha por Fidel Castro, que pregou em seu gorro a legendária estrela dourada de José Martí. Em maio de 1958, Fidel Castro reagrupou seus homens e redistribuiu funções. As colunas do Che tomaram Santa Clara, último bastião da ditadura antes da capital, que, em 3 de janeiro de 1959, caiu em mãos dos rebeldes. No sul, o próprio Fidel marchou sobre Santiago.
Os insurretos tinham vencido. A revolução estava em marcha. Proclamado "cidadão cubano de nascimento", Ernesto Guevara foi nomeado para a direção do Banco Nacional de Cuba (novembro de 1959), depois para o Ministério da Indústria (fevereiro de 1961).
A nacionalização das companhias petrolíferas e dos bancos americanos instalados na ilha pôs fogo na pólvora entre o novo regime e Washington. No Congresso da Juventude Latino-americana, que se reuniu em Havana, em 8 de agosto de 1960, o Che terminou seu discurso gritando: "Cuba, sim! Ianques, não!", slogan que encontraria eco retumbante em todos os campi universitários sul-americanos. Foi, contudo, um desafio além do suportável. Os Estados Unidos decretaram um embargo parcial do comércio com Cuba. O então presidente, Dwight D. Eisenhower, rompeu relações diplomáticas. O desembarque preparado pelos Estados Unidos, com o objetivo de trazer os cubanos de volta à razão, aconteceu finalmente em 17 de abril de 1961. Mas os que o promoveram, refugiados cubanos patrocinados pelos serviços secretos americanos, atolaram no pântano da praia Giron, na baía dos Porcos, e a tentativa de recuperação da ilha abortou miseravelmente.
O Che, contudo, estava exasperado pelos adiamentos sucessivos do governo cubano em matéria de reformas. Pouco a pouco, foi se distanciando de Castro: "Fidel, o rei sem arrogância nem cerimônia, sem porte nem distância, como aquele Luís XII da Renascença que recebia o embaixador Maquiavel sem botas. O país é sua castelania, o Estado, seu patrimônio. Ele o administra como um latifundiário a sua fazenda. Proprietário supremo, senhor do tempo e do espaço, alimenta seus sargentos, seus prebostes, seus guardas florestais; oficiais e secretários regionais são os senhores feudais, presidentes e ministros, seus ajudantes de campo".
Ernesto, então, passou a viajar. Muito. Tornou-se o advogado dos países do Terceiro Mundo e o mensageiro da revolução no estrangeiro. Ele principalmente representou Cuba na primeira conferência internacional de comércio, em Genebra. Disciplinado, esteve em Moscou para a celebração do 47.o aniversário da revolução comunista.
Visitou os países africanos em rota de distanciamento com o Ocidente: Argélia, Mali, Congo, Guiné, Daomé e Gana, onde disse claramente que "a África, a América Latina e a Ásia deveriam se unir com os países socialistas para lutar contra o imperialismo".
Escudo sob o braço
Em 24 de fevereiro de 1965, por ocasião do segundo seminário afro-asiático, ele pregou, em seu famoso "discurso da Argélia", que "os países socialistas têm o dever moral de erradicar sua cumplicidade com os países exploradores do Ocidente".
Castro sapateou, Moscou fez careta. Em 14 de abril, ele apareceu em público pela última vez em Havana. E, ao fim de uma entrevista de dois dias com Fidel Castro, desapareceu. Rapidamente o mistério alimentou boatos. Indagavam se estaria internado, se fugira, se fora fisicamente eliminado. A verdade era outra. O Che assim explicou a situação a seus pais: "Retomei meu caminho, com o escudo sob o braço.
(...) Acredito na luta armada como única solução para os povos que querem se libertar, e estou sendo coerente com minhas crenças". Em 3 de outubro, Castro, que previra dias sombrios para o Che, tornou pública sua carta de adeus endereçada aos cubanos antes da partida. Estrategista, com esse ato inviabilizou a eventualidade de uma retratação do único homem que, caso retornasse, poderia fazer sombra ao seu poder.
O comandante tinha escolhido o Congo "para acender [um] Vietnã" na África. Mas, como ele próprio confessaria, o episódio congolês foi "a história de um fracasso". O insubmisso retornou clandestinamente a Havana e, a partir de uma fazenda de Pinar del Rio, fomentou a guerrilha da Bolívia. Ele havia previsto que a cordilheira dos Andes logo se transformaria na Sierra Maestra da América Latina. Na manhã de 8 de outubro de 1967, nas quebradas do Yuro, 327 soldados perseguiam 17 rebeldes extenuados. O Che foi capturado. Com seus companheiros, foi trancafiado na pequena escola de adobe de La Higuera. No dia seguinte, o presidente, general René Barrientos - atendendo orientação da CIA, a agência americana de informação - telegrafou a ordem de execução daquele que, segundo o jornalista Régis Debray, "entrou na lenda para escapar de um impasse!".
-Tradução de Roberto Espinosa
Cronologia
1928
14 de junho: nascimento na Argentina
1947
Matriculou-se na escola de medicina de Buenos Aires
1951
29 de dezembro: partiu com Alberto Granado para a viagem pelos Andes
1953
Obteve o diploma de médico
1955
Primeiro encontro com Fidel Castro
1957
Janeiro: destacou-se no ataque ao Quartel de La Plata e foi condecorado com o grau de "comandante"
1959
Novembro: com o triunfo da revolução, foi nomeado para a direção do Banco Nacional de Cuba
1961
Fevereiro: indicado para o Ministério da Indústria
1965
14 de abril: última aparição pública em Havana
1967
9 de outubro: execução na Bolívia
Como se fabrica uma lenda.
Com o olhar, Ernesto Guevara desafiou o suboficial encarregado de matá-lo. "Atire, não tenha medo, atire!".
Morreu com os olhos abertos. Em circunstâncias que, por força da situação extrema, jamais serão completamente esclarecidas. Os restos mortais do Che foram transportados para o hospital Nossa Senhora de Malta de Vallegrande. Mas, antes de expor o corpo à visitação dos bolivianos, as autoridades deliberaram embelezá-lo. "Ele foi lavado, vestido e preparado segundo as indicações do médico legista, porque nós devíamos provar sua identidade, mostrar ao mundo que o Che fora vencido. (...) Era necessário não deixar nenhuma dúvida possível sobre sua identidade, pois, se ele fosse apresentado como estava, sujo, depauperado, esfarrapado, hirsuto, as pessoas ficariam com dúvidas", explicou o general Prado-Salmon.
Repentinamente, o rebelde andrajoso foi elevado a profeta fulminado. "A metamorfose foi completa: o homem humilhado, em farrapos, furioso, do dia para a noite foi transformado no Cristo de Vallegrande: seus olhos límpidos, grandes e abertos, refletiam a quietude do sacrifício consentido. O exército boliviano cometeu seu único erro tático: após arrebatar seu mais espetacular troféu de guerra, ele transformou o revolucionário extenuado, o homem em apuros do Yuro, atolado numa incontestável derrota, o olhar assombrado pelo terror e a aflição, no Cristo glorioso, símbolo deslumbrante da vida após a morte", comentou Jorge Castañeda. Tão crística quanto a imagem do Che como o comandante vitorioso sob seu gorro estrelado. A partir da foto realizada pelo fotógrafo cubano Alberto Korda, o editor italiano Feltrinelli produziu um cartaz que daria volta ao mundo. "As primeiras fotos apareceram durante os acontecimentos de outubro em Turim. Seriam vistas em seguida na frente das marchas de estudantes das Universidades Columbia e de Nova York e das manifestações de massas do Quartier Latin, em Paris. (...) Sua imagem seria brandida como um exorcismo diante dos tanques soviéticos que rodavam pelas ruas de Praga. E, reunidos sob os estandartes com a sua figura, na praça colonial e pré-colombiana de Tlatelolco, muitos seriam abatidos pelas balas do exército mexicano".
A foto do Che, ainda hoje, tem um valor emblemático. Ela simboliza a hostilidade e a resistência a todas as formas de imperialismo. Mas, por uma ironia da história, na profusão de cartazes com a sua imagem, esse "místico do impossível" não contribuiu também para a prosperidade de numerosas empresas capitalistas?
Pascal Marchetti-Leca é professor na Universidade da Córsega e autor de Innominata (Dcl, 2001).
Revista Historia Viva