A relação do Estado Romano com o cristianismo sofreu diversas transformações desde surgimento desta religião até o fim do Império. Essas transformações vieram do resultado de vários processos políticos, econômicos e sociais que ora favoreciam a expansão da fé cristã, ora criavam meios de contê-la ou até mesmo eliminá-la.
O Império Romano era marcado pela diversidade, pois os romanos não impunham sua cultura sobre a dos povos dominados, muito pelo contrário eles a sustentavam e até absorviam vários aspectos ao seu próprio modo de vida. Isso fez com que, no princípio, o Estado sequer tivesse uma posição oficial em relação ao cristianismo, pois, segundo eles próprios, além de ser apenas mais uma manifestação cultural de um povo dominado ou mais uma vertente religiosa oriunda do judaísmo, não representava ameaça nenhuma a sua constituição.
Ao contrário do que percebemos hoje, o cristianismo mantinha relações amistosas com o judaísmo e, durante muito tempo, essas religiões até compartilhavam a mesma “bíblia”. Diversos símbolos do catolicismo como o peixe, o pão, a taça, etc. têm origem no judaísmo. A única resistência que o cristianismo enfrentava no começo, juntamente com o judaísmo, era a oposição dos círculos pagãos as essas religiões. Naquele tempo, para a maioria da população, o cristianismo era uma religião exótica envolta em ares de mistério e misticismo. Os pagãos acusavam os cristãos de sacrifícios humanos, práticas mágicas, invocação do espírito de um criminoso (Jesus) dotado de poderes mágicos, canibalismo, relações promiscuas, necromancia etc. O Estado somente tomava uma atitude diante da presença da religião cristã quando, no âmbito das comunidades locais, surgiam focos de insatisfação por parte da população.
Foi dentro deste contexto que Nero foi imperador entre os anos de 54 d.C. e 68 d.C. Ele e provavelmente Domiciano representam uma exceção nesse posicionamento do Estado diante do cristianismo, pois foram os únicos dentro deste período que manifestaram uma atitude oficial contra os cristãos.
Nero Cláudio Augusto Germânico foi imperador romano do ano de 54 a 68 da era cristã. Seu governo foi marcado por violência, insatisfação da ordem senatorial e perseguição aos cristãos.
O início de seu mandato foi coerente ao esperado, pois governava sob orientação de sua mãe Agripina e seu preceptor, o senador Sêneca. No entanto, após alguns “deslizes” governamentais, Nero ficou mal visto, principalmente por ter mandado assassinar sua mãe, Agripina e também por ter “liderado” a “Conspiração Pisoniana” em que ele condenou à morte dezoito acusados, dentre eles vários senadores e seu ex-preceptor, o filósofo e também senador Sêneca. Isto agravou ainda mais sua situação perante os meios dirigentes de Roma.
Em Roma, havia várias vilas que eram constituídas, sobretudo, de casas feitas de madeiras e, por isso, era comum haver incêndios nestes lugares. No ano de 64 houve um incêndio que destruiu quase toda a cidade de Roma. Nero foi culpado por tal feito pelo fato de estar sofrendo acusações constantes e por ser alvo de grande insatisfação popular. Porém não é certa a responsabilidade de Nero, pois o imperador estava em Anzio no momento do incidente e retornou à Roma ao saber do incêndio. Querendo evitar represália por parte da população romana – principalmente da elite senatorial – Nero acusa os cristãos como sendo culpados pelo grande incêndio que devastou a cidade romana.
A atitude de Nero diante dos cristãos foi uma forma que ele encontrou de escapar das pressões políticas que vinha sofrendo, pois ele culpa os cristãos pelo incêndio e pela crise do seu governo, como se os deuses pagãos estivessem punindo os romanos por permitirem que outro deus fosse adorado. Foi dentro desse contexto que ele ordenou a perseguição dos cristãos.
Como foi dito anteriormente, Nero foi um dos únicos imperadores a declarar uma perseguição aos cristãos, mas não por motivos religiosos, uma vez que, de modo geral, os romanos eram tolerantes no que dizia respeito a outras manifestações religiosas – o império romano do século I, período vigente de Nero, abrangia uma extensão territorial que ia da Britânia até o Oriente Próximo da linha do Reino Danúbio até o norte da África, possuindo assim uma heterogeneidade de cultos religiosos – mas sim por motivos políticos, álibi para melhorar sua imagem distorcida diante do senado. Portanto, a atitude de Nero se justifica como uma forma de escapar das pressões políticas que vinha sofrendo.
Referências Bibliográficas:
CORASSIN, Maria Luiza. “Sociedade e política na Roma Antiga”. São Paulo: Atual, 2001.
VARELLA, Flávia Florentino. “A proximidade feminina e a imagem imperial: Nero, Tácito & os Anais, in Revista Eletrônica Cadernos de História”. Ouro Preto, 2006.
SILVA, Gilvan VenTura (2006), “A relação Estado/Igreja no Império Romano”, in SILVA Gilvan (org.), repensando o Império Romano, RJ: Mauad, Vitória: EDUFES, pp. 241-263.
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