História do Brasil e do Mundo
Américas na Antiguidade
O continente americano pode ser compreendido como um local marcado por duas histórias. A primeira delas, ainda pouco explorada, remete-se à compreensão da trajetória dos povos que habitaram e formaram as diversas civilizações e constituíram as primeiras civilizações no continente. A segunda, tardia e ao mesmo tempo majoritária, fala de um local descoberto pelo espírito empreendedor dos europeus que “descobriram” as terras americanas no final do século XV.
pintura rupestre sítio arqueológico Parque Nacional da Serra da Capivara
Sabe-se que os fósseis mais antigos foram encontrados na África. Esse fato levou a grande parte dos especialistas a afirmar que o ser humano teria surgido no continente africano e de lá migrado para outros continentes.
Mas, como foi que as pessoas conseguiram chegar tão longe?
A resposta é simples, chegaram caminhando, sim, caminhando, pois não havia avião, carro, trem, e isso todos nós sabemos. Mas, como pode ter acontecido isso, como as pessoas atravessaram os oceanos?
Isso teria acontecido na última Era Glacial, há milhares de anos, quando as águas do mar do estreito de Bering estavam congeladas. Alguns grupos humanos provenientes da Ásia teriam chegado a região do atual Alasca atravessando o estreito a pé. Outra hipótese foi a de que eles podem ter vindo de barco .
Por mar ou por terra
Como e quando os primeiros habitantes da América chegaram ao continente é um dos maiores mistérios da arqueologia. Foi por uma rota costeira ou por um corredor livre de geleiras, no interior do continente? Uma série de trabalhos apresentados na última reunião da Sociedade Geológica Americana lançou mais luz sobre o tema, além de indicar áreas para pesquisas futuras.
"A maior parte dos participantes do simpósio (reunião onde se tratam assuntos literários, filosóficos, científicos) acredita na hipótese da rota costeira, mas há muitos por aí que acreditam na do corredor. A maioria acha que os meios de transportes tenham sido barcos." afirma Charlotte Beck antropóloga.
Outra parte segue a hipótese do corredor, uma ponte de terra ligando Ásia e América do Norte - surgiu durante um período de glaciação entre 70 mil e 50 mil anos atrás, "secando" o estreito de Bering, criando uma rota terrestre, a Beríngia, dando origem a "colonização" das Américas.
Vestígios Humanos
Na década de 1930, cientistas norte americanos (EUA) descobriram vestígios humanos de cerca de 11 mil anos em sítio arqueológico da região de Clóvis , no oeste dos Estados Unidos. A descoberta os levou a afirmar que o sítio de Clóvis é o mais antigo da América. Segundo eles os humanos teriam chegado ao continente há cerca de 11,5 mil anos caminhando pelo estreito de Bering.
Nas últimas décadas, foram descobertos em várias regiões da América sítios arqueológicos mais antigos que o de Clóvis. Um desses sítios é o de Monte Verde, no Chile, com vestígios humanos datados de 12,5 mil anos
Outro sítio muito antigo foi descoberto em Topper, na Carolina do sul, um estado dos Estados Unidos. Foram encontrados vestígios da presença humana há 16 mil anos.
Alguns dos sítios mais antigos da América estão no Brasil. Na caverna de Pedra Pintada, no município de Monte Alegre, Pará, foram encontrados pedações de cerâmica e pontas de lança com data entre 6 a 10 mil anos atrás. No sítio de Pedra Furada , em São Raimundo Nonato, no estado do Piauí, há vestígios ainda mais antigos, como fósseis humanos com mais de 11 mil anos e restos do que podem ter sido fogueiras com mais de 40 mil anos.
inscrições da Pedra do Ingá na Paraíba (3 mil a 10mil anos)
Luzia
A descoberta arqueológica americana mais surpreendente ocorreu no sítio de Lagos Santa, em Minas Gerais. Foi encontrado o fóssil humano mais antigo da América. Trata-se do crânio de uma mulher, com cerca de 11,5 mil anos . Recebeu o nome de Luzia dado pelo biólogo Walter Neves, que a estudou a partir de 1989. Ao medir o crânio e compara-lo com outros fósseis, incluindo europeus e asiáticos, ela apresentava traços negróides. Não se parecia com os indígenas brasileiros atuais, cujos traços mongolóides (pessoa que tem traço semelhantes aos dos mongóis, habitantes da Mongólia, país situado na Ásia, norte da China) os tornaram mais semelhantes a alguns asiáticos.
Para Walter Neves e outros cientistas, essa diferença surpreendente se deve as ondas migratórias, formuladas por pesquisadores norte-americanos (EUA). Segundo essa teoria, a América teria sido povoada por três ondas migratórias provenientes da Ásia. Essas ondas teriam dado origem a todos os povos indígenas que viviam na América antes da chegada dos colonizadores europeus em 1492.
reconstituição das feições de Luzia à partir do crânio encontrado em Lagoa Santa
Hoje no Brasil existem muitos sítios arqueológicos cuja pesquisa pode levar a novas descobertas sobre os antigos habitantes de nosso território. Alguns desses sítios estão localizados em cavernas ou em rochas a céu aberto, Mas há um tipo de sítio bem curioso: o sambaqui.
Os sambaquis são amontoados de conchas empilhadas pelos paleoíndios em várias regiões do Brasil. São encontrados principalmente no litoral e nas margens dos rios Muitos paleoíndios moravam nesses sambaquis e ali enterravam seus mortos. Dentro deles podem ser encontrados ossos humanos e de animais, restos de alimentos, peças de cerâmica e pontas de flecha. Num desses sambaquis localizado no Vale do Ribeira, em São Paulo, foi encontrado o esqueleto de um paleoíndio que viveu na região há 8,8 mil anos. Esse homem tinha traços negróides. Pertencia ao mesmo grupo humano que povoou Lagoa Santa, em Minas Gerais e da qual Luzia fazia parte.
Apesar de sua importância para a ciência, nem sempre os sítios arqueológicos no Brasil são bem preservados. Por falta de fiscalização, alguns sítios vem sendo depredados, e vestígios da presença humana há milhares de anos em certas regiões tem sido destruídos.
Conforme levantamento feito pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e, 1998 existiam 12.517 sítios arqueológicos no Brasil. Hoje, acredita-se que esse número tenha saltado para 20 mil.
Em geral, as descobertas nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste tem contribuído para o esclarecimento de detalhes da história do povoamento do continente americano. Na região Sul, os sítios conservam conhecimentos dos recursos naturais marinhos brasileiros. Na Amazônia, manifestações simbólicas, como as inscrições rupestres e as cerâmicas policromadas ganham destaque nas descobertas, que se concentram especialmente ao longo dos rios.
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