A partilha da África foi feita de maneira arbitrária, sem respeitar as características étnicas e culturais de cada povo. Em parte, isso tem contribuído para muitos dos conflitos da atualidade no continente africano.
Veja comentário no texto abaixo:
“Levar a luz e a civilização aos lugares escuros do mundo.” Assim, um contemporâneo do processo de neocolonização da África justificava a ação europeia em 1897. Porém, um século depois, o que se vê em grande parte da África contraria aquele objetivo: massacres entre etnias, guerrilhas, tribalismo, governos opressores, endemias e miséria. A África negra – sobretudo o território ao sul do Saara – forneceu, desde o século XVI, escravos para as colônias norte-americanas. O tráfico negreiro estimulou conflitos intertribais pre-existentes e criou alianças de certos grupos com os europeus.
Foi, porém, no século XIX que as potências da Europa se lançaram à conquista territorial da África. Implantaram-se a dominação política, a exploração econômica e a sujeição cultural, em meio à acirrada disputa, legitimadas pela “missão civilizadora” do homem branco
Na Conferência de Berlim (1884-1885), a África foi partilhada, ignorando-se a complexidade étnico-cultural e a organização tribal. Fronteiras estabeleceram o “dividir para reinar”.
Após a Segunda Guerra (1939-1945), com a descolonização, as fronteiras não foram repensadas. As elites conduziram a independência, que forjou uma identidade nacional e, nos anos 1960 e 1970, constituiu dezenas de países artificiais como entidades políticas.
O caso da África central é bem ilustrativo. Lá as etnias tutsi e hutu (maioria) estão em confronto.
Independente em 1960, a República Democrática do Congo (ex-Zaire) viveu uma guerra civil entre os grupos étnicos diferentes. Mobutu tomou o poder e sufocou levantes separatistas. Em 1997, ele morreu.
Em 1994, violenta guerra civil em Ruanda levou ao genocídio de tutsis por extremistas hutus. A vitória dos primeiros provocou êxodo de civis e combatentes hutus para o leste do ex-Zaire, onde ficaram em campos de refugiados.
Crianças brincando em campo de refugiados Ruanda 2004
Rebeldes tutsi, que queriam derrubar o ditador Mobutu, dominaram a região e expulsaram os refugiados. Civis voltaram a Ruanda; combatentes, temendo a represália tutsi, foram para as florestas. Fome e doenças seguem os sobreviventes.
Diante dessa tragédia, confirma-se a inviabilidade das divisões territoriais. Cabe aos africanos minimizar os males deixados pela colonização e buscar sua verdadeira identidade. Aos europeus, encarar essa herança.
(Adaptado de BRANCATELLI, Maria Odette S. Folha de São Paulo, Fovest, 26 dez. 1996)
O conflito entre as etnias tutsi e hutu, já causou a morte de mais de 1 milhão de pessoas e é responsável pelo grande número de refugiados na região.
fonte: Nelson Piletti, Claudino Piletti, Thiago Tremonte. História e vida integrada. ensino fundamental.
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