(Séculos IV-XI)
Janeiro de 1077. É inverno na Europa. Penosamente, os cavalos do imperador Henrique IV e de sua comitiva avançam sobre o campo nevado e se aproximam do castelo de Canossa, na península Itálica, onde se encontra o papa Gregório VII. Henrique desmonta, bate à porta do castelo. Do lado de dentro, alguém pergunta:
__ Quem ousa perturbar o repouso de Sua Santidade, o papa?
Henrique se identifica. O papa manda-o esperar. Durante três dias e três noites, sob a neve e o rigor do inverno europeu, o imperador do Sacro Império romano-germânico aguarda do lado de fora a resposta do papa. Por fim, Gregório o recebe. Henrique ajoelha-se e pede perdão. Num gesto de ostensiva generosidade, o papa lhe perdoa e suspende o decreto de excomunhão que pesava sobre o imperador.
Esse episódio nos mostra o poder da Igreja católica dessa época.
Poder Universal
O episódio envolvendo o imperador Henrique IV e o papa Gregório VII ficou conhecido como a “peregrinação de Canossa” ou “a humilhação de Canossa”. Ele revela a enorme força da Igreja católica durante a Idade Média.
O papa e os reis
De fato, a Igreja Medieval era uma organização que estava acima de todas as outras. Era ela que legitimava o poder dos reis. Era por intermédio do papa que o imperador do Sacro Império romano-germânico recebia a “graça de Deus”. O poder da Igreja era tão universal, isto é, abrangia tantos reinos e grupos sociais que ela poderia até mesmo excomungar governantes, como aconteceu com o imperador Henrique IV.
Segundo a crença da época, os membros da Igreja, que formavam o clero católico, eram os únicos intermediários autorizados entre Deus e as pessoas, pois somente eles eram capazes de compreender as mensagens de Deus e de transmiti-las a seus fiéis.
Depois da morte de Carlos Magno os reis perderam cada vez mais seu poder para os senhores feudais. Não só na França, mas em outros reinos também. Na verdade, o Sacro Império romano-germânico era apenas uma caricatura do antigo Império romano. Não contava com um poder fortemente centralizado como este e seu território era formado por diversos feudos e reinos independentes. Isso fazia com que o poder do imperador fosse bem mais limitado do que o dos imperadores romanos.
Apesar de suas divisões, os reinos da Europa estavam unidos em torno da idéia de que faziam parte da Cristandade, isto é, de um conjunto de povos que seguiam a fé cristã a acatavam o poder espiritual da Igreja. Por isso, dizia-se que a Igreja tinha um poder universal. A idéia de Cristandade constituía uma forma de afirmar a identidade religiosa dos cristãos principalmente diante dos seguidores do islamismo, que ocupavam a península Ibérica, o norte da África e boa parte do Oriente.