A rebelião que ocorreu no Pará entre 1834 e 1840 pode ser considerada um dos mais importantes movimentos que agitaram o Brasil no período regencial. Setores populares dominaram o poder por algum tempo, numa demonstração de protesto contra o domínio da aristocracia latifundiária. Para se entender a rebelião é preciso rever as condições gerais do Pará.
A província do Grão-Pará era um imenso território que compreendia o atual estado do Pará e a maior parte da Amazônia. Até a proclamação da Independência, essa região mantinha um relacionamento direto com Portugal.
A população era composta por índios destribalizados, chamados tapuios, negros e, principalmente, mestiços. A maioria esmagadora da população vivia em pequenos povoados nas margens dos rios e tinha uma vida miserável, trabalhando para os comerciantes na extração das "drogas do sertão" (especiarias e plantas medicinais) ou na salga do peixe.
Em 1834, os liberais exaltados eram um grupo de forte expressão na província. O cônego Batista de Campos, um de seus mais importantes líderes, estava em constantes choques com o governo provincial, representante do poder central. Esse grupo passou a conspirar na fazenda de outro líder, Clemente Malcher, com a participação dos irmãos lavradores Vinagre e do jornalista Eduardo Angelin, entre outros. Descoberta a reunião, iniciou-se em outubro de 1834 a repressão, resultando na morte de um dos irmãos Vinagre e na prisão de Malcher e de outros rebeldes.
A revolta, no entanto, não foi controlada e transformou-se em rebelião armada. Tropas do próprio governo provincial aderiram aos revoltosos. Com armas e munições, os rebeldes cercaram o palácio e mataram o presidente da província e o comandante militar. Clemente Malcher, libertado, foi proclamado o novo presidente da província, iniciando o governo dos cabanos, nome pelo qual eram identificados os pobres moradores das cabanas das barrancas dos rios da região. Esse é o motivo de esse movimento ter sido chamado de Cabanagem.
Apesar do crescimento do grupo mais radical sob a liderança de Angelin e de Antônio Vinagre, a repressão do governo central, depois de violentos combates, acabou retomando grande parte do Pará. Houve ainda alguma resistência no interior, também reprimida. A repressão aos rebeldes deixou um saldo de mais de 40 mil mortos, em uma população de aproximadamente 100 mil habitantes.
Revolução Farroupilha
A Revolução Farroupilha, iniciada em 1835 e terminada em 1845 foi o mais longo movimento rebelde que já ocorreu em toda história do Brasil. Uma das razões que ajuda a explicar a sua longa duração é a tradição militarizada da região Sul do país. Ela está situada próximo à fronteira, e seus habitantes foram participantes dos conflitos que envolveram o Brasil, a Argentina o Uruguai, e a antiga Província Cisplatina que, fez parte do território do Brasil por um curto período.
A região do Rio Grande do Sul havia se integrado na economia brasileira na época da mineração graças à produção do charque e às tropas de muares, o mais importante meio de transporte no Brasil colonial. Formou-se uma camada de grandes estancieiros, que enriqueceram com essas atividades. No entanto, as oportunidades de ganho dos estancieiros do Rio Grande do Sul tinham um limite, representado pela concorrência do charque argentino. Eles exigiam que o governo central impedisse a entrada do produto estrangeiro e ainda baixasse o preço do sal, importante matéria-prima na produção da carne-seca.
A economia do charque (carne de vaca salgada e seca ao sol) gaúcho sofria, portanto, de uma crise estrutural. Seus produtos não se destinavam à exportação, exigência de uma economia monocultora e colonial como a nossa. No entanto, o charque era produzido segundo uma estrutura colonial, isto é, baseada no trabalho escravo. Era uma economia subsidiária (não era a mais importante) e, por isso mesmo, mais frágil.
A economia sulina gerou também uma nova camada social, com base nas atividades da pecuária e no comércio. Essa nova camada se unia na exigência de participação nas decisões políticas. Havia, portanto, uma coincidência de interesses entre comerciantes da área urbana e proprietários da área rural.
Esse tipo de sociedade e de economia gerou uma autonomia administrativa, cujo poder se encontrava nas mãos dessa aristocracia rural e urbana, gerando fortes tensões com o poder central.
Essa situação latente de crise atingiu o ponto crítico com o clima agitado do período regencial.
Em 1835, Bento Gonçalves, um dos mais importantes líderes estancieiros, lançou um manifesto à província, concitando (incitando) à rebelião contra a intervenção do governo central na província do Rio Grande do Sul. Iniciou-se a Revolução Farroupilha, alusão a farrapo (relativo à falta de uniforme dos participantes da rebelião). Nos combates contra o governo regencial, os rebeldes obtiveram inúmeras vitórias, o que os levou a proclamar a República Rio-Grandense ou de Piratini. David Canabarro, outro importante líder farroupilha, também proclamou a chamada República Juliana, ou Catarinense, na região de Santa Catarina (1839). O movimento ganhou um líder de fama internacional: Giuseppe Garibaldi, revolucionário italiano.
Bento Gonçalves, líder da Revolução Farroupilha, foi presidente da República Rio-Grandense, proclamada em 1836 com capital em Piratini
O governo central, sofreu mudanças drásticas em 1840, com o golpe da maioridade. Era objetivo do governo central pacificar o Sul. Por isso, em 1842, foi nomeado o barão de Caxias para a presidência da província do Rio Grande do Sul, que já possuía experiência anterior em rebeliões de outras províncias. No mesmo momento em que Caxias era nomeado presidente, os uruguaios atacavam o Rio Grande do Sul, e a liderança farroupilha resolveu reconhecer o governo de Caxias e encerrar a luta, mas sob várias condições. Entre elas, destacavam-se a exigência de os rebeldes serem incorporados ao exército, anistia geral para os soldados e alforria para os escravos que haviam lutado na revolução.
Só em 1845, depois de muitos incidentes a região foi enfim, pacificada.
PEDRO, Antônio. História da civilização ocidental. ensino médio. volume único.