Introdução
Os indivíduos estão cada vez mais afastados da natureza, cada vez mais presos e envolvidos nos centros urbanos, que não param de crescer, se multiplicar e ocupar áreas rurais. Esta distância entre o ser humano e a natureza não é somente física e espacial, também representa a ausência de um laço, uma relação, o desconhecimento do meio natural sem a interferência do homem.
Neste novo cenário, ambientes naturais são completamente estranhos às pessoas, que não se sentem como parte daquele meio; os valores de relação com a natureza perderam o sentido para a sociedade moderna, a distância se tornou tão grande que as pessoas não mais percebem como suas ações interferem no meio ambiente e como ele afeta suas vidas. Como resultado, surgem problemas como a poluição; o desmatamento desenfreado; a caça esportiva, ilegal ou irracional; e problemas maiores, como a ocorrência de furações com a intensidade e em lugares nunca antes vistos
Em nome das futuras gerações e do bem-estar do planeta é preciso que a sociedade adote um modo de vida sustentável, ou seja, que vise simultaneamente o crescimento econômico, o desenvolvimento social e a preservação da natureza. Todavia, a sustentabilidade é atingida somente mediante a consciência da população, a educação ambiental.
A educação ambiental é uma forma abrangente da educação. Sua proposta é, através de processos pedagógicos participativos, criar nos cidadãos uma visão sistêmica, fazê-los perceberem-se como parte de um sistema maior para que exista uma consciência crítica sobre os problemas ambientais.
A preocupação do designer é o desenvolvimento do projeto independentemente da metodologia. Tanto os produtos quanto os projetos gráficos são dotados de conceito e preocupações funcionais, semióticas e ergonômicas. Porém, poucos profissionais são capazes de entender esses objetos como mediadores das relações sociais; poucos são os trabalhos que se preocupam em também promover experiências e evocar sentimentos; ou seja, muitos projetos puramente funcionais e estéticos e poucos focam na relação entre os usuários e o entorno projetado.
O fato do projeto gráfico ou do produto evocar sentimentos ou promover experiências no usuário pode servir como ferramenta na educação ambiental ao compor o processo pedagógico; nesta definição, as pessoas assumem um papel central e as decisões visuais envolvidas não provêem de pressupostos estéticos universais: encontram-se entre a realidade dos indivíduos e a realidade a qual se objetiva alcançar após o contato entre as pessoas e as mensagens. Em outras palavras, trata-se da realidade construída através de experiências proporcionadas pelo projeto gráfico ou produto e seus respectivos sentimentos evocados.
A educação ambiental é de responsabilidade da escola, dos meios de comunicação e também de toda a sociedade, e surgiu como resposta a necessidades que não estavam sendo plenamente atendidas pela educação formal tradicional. Em outras palavras, a educação deveria incluir conhecimentos, valores, capacidades e responsabilidades, aspectos que fomentassem relações éticas entre seres humanos, e entre as pessoas e a vida no planeta.
A educação ambiental se tornou necessária por não estar integrada à teoria formal da educação. Segundo a doutora em educação ambiental, Susana Padua, ?Se educação fosse plenamente abrangente, prescindiria de adjetivos como educação ambiental, educação sanitária, educação sexual, e tantas outras. Todas as áreas estariam contempladas, o que facilitaria a formação de cidadãos atuantes e engajados em melhorias que afetam a coletividade.? (PADUA, S. 2007)
Para ser efetivo, um programa de educação ambiental deve promover o desenvolvimento de conhecimento, de atitudes e de habilidades para preservar e melhorar a qualidade ambiental. O processo se inicia nas escolas e expande pela vizinhança até chegar à cidade, a região, o país, o continente e o planeta. A aprendizagem será mais efetiva caso a atividade esteja adaptada às situações da vida da cidade ou do meio em que o aluno e o professor vivem.
Apesar do objetivo ser o mesmo, a preservação do meio ambiente, a educação ambiental entre os países é diferente. Enquanto nos países desenvolvidos a preocupação é a proteção da natureza; nos países em desenvolvimento há um enfoque no desenvolvimento comunitário, visando à inclusão social. Todavia, são os países menos desenvolvidos que, normalmente, abrigam uma maior diversidade de fauna e flora e, infelizmente, não possuem recursos para resguardá-la e acabam sofrendo perdas de áreas naturais entre inúmeros danos ambientais.
Para construir uma sociedade sustentável, Esteva e Reyes (1998:36) estabelecem os seguintes aspectos:
1. Criação e fortalecimento de uma consciência ética capaz de promover o respeito à vida e articular uma visão de mundo onde prevaleçam valores que permitam uma relação harmônica e de longo prazo entre a humanidade e a natureza;
2. Elevação do nível de compreensão entre os cidadãos no que diz respeito à gravidade dos problemas socioambientais para que estes não sejam menosprezados ou percebidos com fatalidade;
3. Adoção de elementos conceituais e práticos capazes de ampliar o nível de participação política e social das sociedades regionais e dos indivíduos para a formulação de propostas de desenvolvimento sustentável;
4. Difusão de conhecimentos e alternativas específicas que permitam os seres humanos, na qualidade de indivíduos e membros de um coletivo, a assumir condutas e adotar tecnologias coerentes para o desenvolvimento sustentável;
5. Contribuição para o estreitamento de vínculos de solidariedade e respeito entre os grupos sociais, na busca de uma justiça econômica para reforçar os esforços que visem o rompimento da relação entre a pobreza e a depredação ambiental. Com tais bases conceituais, a educação ambiental facilita a criação de uma cultura ambiental, intimamente ligada à ética ambiental, por incluir todos os seres e apostar na transformação social baseada em novos modelos de desenvolvimento.
Enquanto muitos autores apontam como marco da Educação Ambiental as grandes crises ambientais da década de 70, é possível afirmar, sob uma ótica elementar, que a temática emergiu na segunda metade do século XIX. Em 1864, o norte-americano Georges Perkins Marsh lançou o livro ?O Homem e a Natureza? e, apenas cinco anos depois, Ernst Haeckel cunhava o termo ?ecologia? como a definição dos estudos realizados sobre as relações entre as espécies e seu ambiente.
No plano internacional, é importante apontar um fato ocorrido no início da segunda metade do século XX que foi um momento relevante para a história educação ambiental.
Em 1952 houve um acidente de poluição do ar ocorrido em Londres por conseqüência da industrialização, causa a morte de aproximadamente 1.600 pessoas.
Diante da necessidade de compreender o ocorrido, organizou- se a ?Conferência de Educação da Universidade de Keele? em 1965 ? onde, pela primeira vez, utilizou-se o termo ?educação ambiental?, apesar de, naquela época, estar associado diretamente à ecologia. Trava-se apenas de conservação ambiental conduzida por biólogos.
As concepções iniciais de educação ambiental emergiram com as primeiras crises ambientais da década de 70, conseqüência das práticas industriais insustentáveis, que indicaram a necessidade de se repensar à educação e a relação do homem com a natureza. A primeira definição de educação ambiental surgiu na referida década, em um workshop da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) em Carson City, no Estado Americano de Nevada.
Novas iniciativas de foco ambiental rapidamente emergiram e, em 1872, é criado na Conferência Intergovernamental do Ambiente Humano, em Estocolmo, Suécia, o Programa de Ambiente das Nações Unidas (UNEP).
Também foi o ano em que estabeleceu-se o primeiro Parque Nacional do mundo; ?Yellowstone?, localizado nos Estados Unidos da América, mostrou-se um exemplo de iniciativa e, em 1896, o Brasil inaugurava seu primeiro parque estadual: o ?Parque da Cidade?, no Estado de São Paulo.
Em 75 ocorre em Belgrado mais um workshop sobre Educação Ambiental, onde é elaborada a Carta de Belgrado sobre educação ambiental e é lançado o Programa Internacional de Educação Ambiental (IEEP) da UNEP/ UNESCO. A Carta de Belgrado atenta para a juventude, dizendo que ela precisa de uma nova educação, um novo tipo de relacionamento entre estudantes e professores; escolas e comunidades; sistemas educacionais e sociedades.
No ano de 77, em Tbilisi, ex-União Soviética, a Primeira Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental, onde foram definidos os objetivos da educação ambiental:
1. O desenvolvimento de consciência e sensibilidade entre indivíduos e grupos sobre problemas globais e locais;
2. O aumento de conhecimentos que permitem uma maior compreensão sobre o meio ambiente e os problemas a ele associados;
3. Mudanças de atitude e valores para encorajar sentimentos de preocupação com o meio ambiente e motivar ações que o melhorem e protejam;
4. O desenvolvimento de capacidades que possam ajudar indivíduos e grupos a identificar e resolver problemas ambientais;
5. A promoção da participação, que significa o envolvimento ativo em todos os níveis da proteção ambiental(Czapski, 1998; Dias, 1993; Pedrini, 1998).
Os princípios definidos em Tbilisi são a base de discussão sobre educação ambiental no mundo e no Brasil. Nenhuma das reuniões que se seguiram contestaram o proposto, optaram por analisá-lo e encontrar meios para colocá-lo em prática. O desafio é sair da generalidade e das visões amplas e adequar os princípios aos diferentes contextos.
Em 1968, a UNESCO ? Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, realizou um estudo interdisciplinar com foco na relação entre o meio ambiente e a escola. Assim, a UNESCO entendeu que a educação ambiental não deve ser limitada, simplesmente, a uma disciplina específica no currículo escolar. Fora essa interpretação que gerou, em 1999, a Política Nacional de Educação Ambiental, instituída pela Lei n.º 9.795/99, que no art. 10, §1º, dispõe: ?A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino?.
A educação ambiental, uma abordagem interdisciplinar, comporta profissionais de distintas áreas, não sendo o design uma exceção.
Segundo o designer argentino Jorge Frascara (2000), o design pode ser uma ferramenta efetiva para lidar com problemas sociais e amenizá-los significativamente, desde que a comunicação esteja pautada na realidade à qual se objetiva que os indivíduos tenham contato. Frascara afirma que, para isso, é necessário um cuidadoso estudo do público quando se tenta gerar mudanças em suas atitudes e comportamentos.
Para melhor perceber o público, o autor afirma que devemos buscar a interdisciplinaridade para entender as deficiências. Na Sociologia, contextualizar a atividade do designer no meio social. Na psicologia, entender os estudos da percepção. Na Antropologia, compreender as noções de cultura e diversidade cultural. Nas Ciências da Educação, entender os aspectos relativos à aprendizagem.
No Marketing, especificamente no Marketing Social, compreender as condutas coletivas do público. Finalmente, na área das Ciências Sociais, Jorge Frascara diz que encontraremos uma experiência multidisciplinar para enfrentar as diversas áreas e os diferentes potenciais de indivíduos distintos.
Ao melhor compreender seu público, o designer conseguirá imergir-se na realidade de seu usuário e causar uma comunicação efetiva. Assim, será capaz de estabelecer experiências e evocar sentimentos através da produção gráfica ou produto.
Como apontado anteriormente, ainda são poucos os profissionais que desenvolvem projetos com enfoque no usuário e nos sentimentos evocados. Para melhor ilustrar este ponto, apresento campanhas com intuito de educar ambientalmente seguidas de breves comentários.
É possível observar nas imagens apresentadas aCIMA conceitos muito bem definidos, assim como preocupações ergonômicas. Todavia, é importante apontar que ambas as campanhas representam realidades muito distantes do público, o que não estabelece uma identificação entre o usuário e a mensagem.
A campanha a direita apresenta um enfoque diferenciado do que, atualmente, é possível observar no mercado.
Os designers em questão focaram-se no sentimento do animal ao estar encarcerado, mas, ainda sim, não construíram junto com o usuário uma comunicação efetiva. Isto ocorre, pois, apesar de abordá-lo momentaneamente, a experiência cumprida não estabelecerá um vínculo de longo prazo por não se tratar de uma realidade próxima ao usuário.
O objeto representado pela figura localiza na parte inferir da página é a síntese do pensamento apresentado. Ele estabelece, junto com o usuário, a mensagem do desperdício de papel. Provavelmente, o público refletirá sobre a questão e evitará retirar papel em excesso.
Considerações Finais
Não basta a educação ambiental estar dentro do modelo formal de educação, pois ele mesmo precisa sofrer alterações para acompanhar a evolução da sociedade. Cabe ao designer, como agente transformador, estabelecer novas relações entre a demanda dos usuários e o método como será transmitido o conteúdo. Assim, tornará um exercício contínuo a imersão no usuário, a criação de uma identificação e o estabelecimento de um vínculo contínuo.
Bibliografia
LEITE, Ailton Santos. O Design, as novas mídias e a Educação na construção de uma cidadania ambiental.
FRASCARA, Jorge. Diseño Gráfico para la gente: Comucaciones de masa y cambio social. Ed. Infinito, Buenos Aires, 2000.
PADUA, Suzana. Educação Ambiental em Destaque. O ECO, 24.04.2006.
____________. Potencial transformador do jovem. O ECO, 14.01.2006.
____________. Pensamentos sobre Educação Ambiental II. O ECO, 30.07.2007.
____________. Perspectivas sobre Educação Ambiental I. O ECO, 17.01.2007.
Marc Dourojeanni. Educação Pública Ambiental. O ECO, 12.08.2006.
ARAÚJO, T. C. d´Ávila. Principais marcos históricos mundiais da educação ambiental. www.ambientebrasil.com.br, acessado em 23/05/2008.
Fonte: www.dad.puc-rio.br