Um pequeno recorte de jornal enviado por um bando secreto de terroristas de Zagreb aos seus camaradas em Belgrado foi a tocha que incendiou o mundo com a guerra. Eu fui um dos integrantes do grupo de Belgrado. E o pequeno recorte era do Srobobran, um jornal croata de pequena circulação, tratando de um curto telegrama de Viena, declarando que o arquiduque austríaco Francisco Ferdinando visitaria Sarajevo, a capital da Bósnia, no dia 28 de junho, para dirigir manobras militares nas montanhas dos arredores. O papel chegou ao nosso ponto de encontro, o café Zeatna Moruana, no fim de abril. Sentados a uma pequena mesa, sob a luz de um lampião, vimos a mensagem. Uma data escrita nela foi suficiente para uma decisão unânime sobre o que fazer.
Era o 28 de junho, data que está gravada profundamente no coração de todos os sérvios, tanto que tem até nome próprio - é chamada de vidovnan. Esse foi o dia em que o antigo reino sérvio foi conquistado pelos turcos em 1389. Foi também o dia em que, na segunda Guerra dos Bálcãs, os sérvios enfim se vingaram dos turcos e da nossa escravidão nas mãos deles. Esse não era um dia para Francisco Ferdinando, o novo opressor, se aventurar às portas da Sérvia para uma demonstração da força militar que nos mantinha sob constante ameaça. Nossa decisão foi tomada de forma imediata. Morte ao tirano! Faltava a organização. Foi nessa hora que Gavrilo Princip interveio. Princip entrará para a história sérvia como um de seus grandes heróis. Desde o momento em que a morte de Ferdinando foi decidida, ele assumiu a liderança do planejamento.
"Gavrilo Princip (na foto) entrará para a história sérvia como um de seus grandes heróis"
Logo a manhã fatídica chegou. Duas horas antes da chegada de Ferdinando a Sarajevo, todos os 22 conspiradores estavam em suas posições designadas, armados e prontos. Eles estavam distribuídos ao longo de toda a rota que deveria ser percorrida pelo arquiduque, da estação de trem até a prefeitura. Quando Francisco Ferdinando e sua comitiva saíram da estação, conseguiram escapar dos dois primeiros conspiradores. Os carros eram velozes demais para que um atentado fosse possível, e a multidão era formada por sérvios - lançar uma granada teria matado muitas pessoas inocentes. Ainda assim, quando o automóvel passou por Gabrinovic, um compositor, ele arremessou sua granada. Ela atingiu o lado do carro, mas Francisco Ferdinando se lançou para trás e não ficou ferido. A comitiva correu para a prefeitura, sem interferência dos conspiradores. O general Potiorek, comandante austríaco na região, pediu a Ferdinando que deixasse a cidade, pois previa uma rebelião. O arquiduque foi convencido a tomar um atalho e sair rapidamente da cidade. O caminho traçado era como uma letra V, com uma curva acentuada na ponte sobre o rio Nilgacka. O carro de Ferdinando poderia acelerar até esse ponto, mas ali precisaria frear para fazer a curva. E foi ali que Princip tinha assumido posição. Quando o carro se aproximou, ele caminhou pela calçada, sacou sua pistola automática e disparou dois tiros.
O primeiro disparo atingiu a mulher do arquiduque, Sofia, no abdome. Ela estava grávida e morreu na hora. A segunda bala atingiu o arquiduque perto do coração. Ele apenas balbuciou uma palavra: "Sofia". Sua cabeça caiu para trás. Ele morreu de forma praticamente instantânea. Os policiais pegaram Princip. Bateram em sua cabeça com a bainha de suas espadas. Depois, chutaram e socaram Princip, tiraram a pele de seu pescoço com as espadas, o torturaram. Só faltou matá-lo. Ele foi levado à prisão militar e acorrentado pelos pés. Seu único sinal de arrependimento foi dizer que lamentava ter matado a mulher do arquiduque. Ele havia mirado apenas em seu marido. Preferia que o outro tiro tivesse acertado o general Potiorek.
Borijove Jevtic, um dos 22 conspiradores envolvidos no assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, foi preso pouco depois do atentado em Sarajevo. Ele foi colocado na cela vizinha à de Gavrilo Princip, o autor dos disparos
Revista Veja História