Uma característica do ser humano que de modo geral ainda é pouco estudada é o medo. Hi-Fu Tuan em livro Paisagens do Medo faz abordagens brilhantes mostrando as várias facetas do medo do ser humano. Neste post nos ocuparemos com o medo das Bruxas.
"Uma bruxa é uma pessoa que lança injúria por meio da prática de poderes exepcionais. Esses poderes podem ser considerados sobrenaturais porque operam de uma maneira que não podem ser detectada... " pp.167-168.
Nos dias de hoje o medo de bruxas é minimizado, ocorre ainda em regiões mais afastadas com poucas pessoas, em grupos isolados, em locais onde a luz elétrica e demais estruturas sociais não são plenas. Mas, nem sempre foi assim.
No próprio Brasil quando a população era majoritariamente rural esse medo se fazia mais presente. Constatação fácil se dá quando consultamos as gerações que foram crianças ou adolescentes anterior à década de 1950.
O medo de bruxas ganhou destaque na Idade Média, onde a igreja católica perseguiu e matou várias mulheres que levantam alguma suspeita de atos de bruxaria. Porém, na Grécia antiga eles já acreditavam em Hécate - a deusa da lua negra. A ela faziam oferenda nas encruzinhas e não arriscavam sair de casa à noite, pois a escuridão era repleta de atividades ruins e maléficas.
Na África as crianças eram eram educadas para não sairem à noite, as bruxas africanas usavam animais como hienas e a cobra preta. Ao que parece a relação entre bruxas e animais varia de lugar para lugar. É assim que na Europa o bode foi demonizado, mas não só ele, os cavalos também eram usados pelas bruxas. Para os índios navajos as bruxas imitam os sons dos coites e das corujas.
As bruxas, para o povo medieval, nem sempre atuavam sozinhas, podiam se reunir em grupos nos chamados sabás, onde planejavam seu mal. Prática essencialmente noturna. Pois que de dia elas apenas lançavam mal-olhado às vítimas.
Toda essa crença tem reflexo perigoso na sociedade. A ponto de mudar os costumes e os modos de se locomover, de promover morticínios como aqueles conhecidos da Idade Média, podem ocorrer ostracismo de pessoas que apresentam certas diferenças daqueles aceitas e padronizadas pelo grupo; dentre outras coisas.
O reflexo dessa crença, como comentamos no começo, que hoje está menos abrangente, ainda povoa o inconsciente da sociedade. Vale lembrar dos filmes onde uma velha se apresenta como má, velha essa normalmente esteriotipada - sozinha, feia, morando em lugares ermos, etc. - quantos senhoras podem estar vivendo dessa forma nos dias de hoje? Será que, mesmo que inconscientemente, elas não sofrem algum preconceito?
Referência.
TUAN, Hi-Fu. Paisagens do medo. [trad. Lívia de Oliveira] São Paulo: Editora Unesp, 2005. pp. 139-178.