JK - Arte brasileira nos anos 1950
História do Brasil e do Mundo

JK - Arte brasileira nos anos 1950


Maquete do edifício sede do Ministério da Educação e Saúde
(CPDOC/Arquivo Gustavo Capanema GC foto 494-2/CPDOC)

Juscelino Kubitschek visita a exposição do artista francês Georges Mathieu realizada no Museu de Arte Moderna. Rio de Janeiro, novembro de 1959.
(Acervo família Flexa Ribeiro)


Mônica Almeida Kornis

Os ideais construtivistas que desde a década de 1930 influenciavam os arquitetos modernos brasileiros tomaram o cenário das artes plásticas no início dos anos 50. Nesse momento, chegaram ao Brasil os conceitos da arte moderna como investigação centrada na forma, na cor e no espaço. Ao longo da década, as tendências do construtivismo - expressas no concretismo e no neoconcretismo - e da abstração informal iriam consolidar-se, num movimento de renovação da arte brasileira que recusava a figuração e a representação realistas e saía em defesa tanto da linguagem geométrica ou informal quanto da abstração.

A arquitetura e a arte naquele momento aspiravam a introduzir uma racionalidade modernizadora na organização do espaço social. Essa união inspirara em 1919 a criação da Bauhaus, em Weimar, pelos arquitetos Walter Gropius e Mies van der Rohe. No manifesto de fundação da escola, Gropius definia os ideais do projeto, que reuniria professores de arquitetura e arte: "desejemos, inventemos, criemos juntos a nova construção do futuro, que enfeixará tudo numa única forma: arquitetura, escultura e pintura que, feita por milhões de artesãos, se alçará um dia aos céus, como símbolo cristalino de uma nova fé vindoura". A presença de uma arquitetura moderna brasileira já se fazia sentir desde os anos 30, quando o arquiteto suíço Le Corbusier inspirou as linhas gerais do projeto do edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro, que viria a ser desenvolvido por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer entre outros arquitetos de renome, e incluiria jardins desenhados por Roberto Burle Marx. De fins da década de 1930 até os anos 50, surgiriam outros projetos de obras públicas identificados com os princípios da moderna arquitetura, consagrada com a construção de Brasília, no governo JK.

A renovação no campo das artes plásticas foi deslanchada a partir da realização, em 1951, da I Bienal Internacional de São Paulo, que permitiu um maior contato dos artistas e do público brasileiro com o que vinha sendo produzido no exterior. Na época, o crítico Mário Pedrosa já questionava o que vinha sendo realizado no país e apontava os caminhos da renovação. Artistas brasileiros como Ivan Serpa e Abraham Palatnik participaram da I Bienal com trabalhos que se inseriam dentro dos princípios da arte construtiva. Da mesma forma, o escultor Franz Weissman já realizava suas primeiras esculturas geométricas.

Em 1952, formou-se em São Paulo o grupo concretista Ruptura, liderado entre outros pelo artista Waldemar Cordeiro, em clara sintonia com os princípios construtivos valorizados pela ideologia de uma sociedade industrial, racional, ligada a problemas matemáticos, sem interferência da subjetividade. Essas noções, fundamentais para a arte concreta, eram diretamente influenciadas pelo trabalho e as reflexões que fazia desde os anos 30 o artista suíço Max Bill, e pela Escola de Ulm, na Alemanha, criada no início da década de 1950 com o objetivo de promover a integração da arte na sociedade industrial. Entre outros nomes ligados ao movimento concreto, figuravam os poetas Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos. Afinado com os princípios do movimento concretista, esse grupo ligava-se mais ao aspecto material das palavras e à sua ordenação espacial na construção do sentido do que à poesia discursiva. No Rio de Janeiro, o grupo Frente realizou sua primeira mostra em 1954, com trabalhos dos artistas Ivan Serpa, Aluísio Carvão, Lygia Clark e Lygia Pape, entre outros.

As divergências entre os grupos paulista e carioca acabaram por provocar uma cisão entre eles, explicitada no Manifesto Neoconcreto divulgado no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil no início de 1959. Em linhas gerais, o manifesto valorizava a expressão subjetiva contra a supervalorização da racionalidade que estaria sendo feita pelos paulistas, numa atitude considerada mecanicista. O documento foi assinado pelo chamado grupo do Rio, que era composto, entre outros, por Amílcar de Castro, Franz Weissman, Lígia Clark, Lígia Pape e o poeta Ferreira Gullar. Juntou-se também ao movimento o artista Hélio Oiticica. Os concretos paulistas, por sua vez, orientavam seus trabalhos para os segmentos artísticos diretamente vinculados à emergente base industrial: as artes gráficas e o design. Foi assim que Hércules Barsotti e Willys de Castro fundaram, em 1954, o Estúdio de Projetos Gráficos. Na verdade, os dois eram independentes do grupo concreto paulista e desenvolviam trabalhos de natureza construtiva que no final da década viriam a estar mais identificados com os neoconcretos.

O concretismo e a abstração foram duas tendências importantes na arte brasileira daquele momento. Presentes em pinturas, gravuras e esculturas, obtiveram consagração nas bienais internacionais de São Paulo, realizadas, a partir de 1953, no Parque Ibirapuera, projetado por Oscar Niemeyer e outros arquitetos. Outros pontos de atração e difusão dos novos princípios foram os museus de arte moderna de São Paulo e do Rio, que foram criados em fins da década de 1940 respectivamente por Francisco Matarazzo Sobrinho e por Paulo Bittencourt e Niomar Muniz Sodré, e tiveram suas novas sedes inauguradas nos anos 50 - o MAM de São Paulo, no Ibirapuera, e o MAM do Rio, projetado por Affonso Eduardo Reidy, no Aterro do Flamengo. Sob o signo do moderno, a arte e arquitetura brasileiras se fundiam.

Fundação Getúlio Vargas




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