Império Romano - Educação
História do Brasil e do Mundo

Império Romano - Educação



EDUCAÇÃO

Assim que vem ao mundo, o recém-nascido ? menino ou menina ? é confiado a uma nutriz: havia passado a época em que as mães amamentavam os próprios filhos. Porém a "nutriz" faz muito mais que dar o seio: a educação dos meninos até a puberdade é confiada a ela e a um "pedagogo", também chamado "nutridor" (nutritor, tropheus), encarregado de sua boa educação; o de Marco Aurélio ensinou-o a cuidar de si mesmo com as próprias mãos e a não se apaixonar pelas corridas do circo. As crianças vivem com eles, com eles tomam suas refeições, porém jantam com os pais e seus convidados ? jantar que tinha algo de cerimonial. Nutriz e pedagogo sempre contarão [pág. 25]
muito; Marco Aurélio falará com a conveniente devoção de seu pai natural, do pai adotivo e do "nutridor", e o imperador Cláudio conservará um ódio duradouro por seu pedagogo, que abusava do chicote. Quando uma moça se casa, sua mãe e sua nutriz vão juntas, na noite de núpcias, dar os últimos conselhos ao jovem esposo. Pedagogo, nutriz e irmão de leite são uma vice-família, livre para ter todas as indulgências, até mesmo as complacências, e ignorar a lei do mundo; para assassinar a mãe, Agripina, Nero terá seu "nutridor" como cúmplice; abandonado por todos, acuado pelos súditos revoltados, encontrará consolo somente em sua nutriz; ela o sepultará após seu suicídio, com a ajuda de Acteia, concubina do imperador. E no entanto Nero se portou severamente com relação a seu irmão de leite, pelo qual deveria ter sentido também algum afeto. Ao fazer um sermão sobre o amor da família, um filósofo estoico explicou que esse amor corresponde à Natureza, que é também a Razão, e que, por conseguinte, as crianças amavam a mãe, a nutriz e o pedagogo.
Nas casas ricas, a vice-família saudavelmente mora no campo, longe das tentações, sob a direção de uma velha e severa parenta. "A suas virtudes comprovadas e seguras confiava-se toda a progênie da mesma casa. Ela conduzia os estudos e os deveres das crianças e também suas brincadeiras e distrações". Assim foram criados César e Augusto; o futuro imperador Vespasiano "foi criado sob a direção da avó paterna nas terras de Cosa", embora ainda tivesse mãe viva. Com efeito, uma avó paterna devia ser severa, enquanto à avó materna cabia ser indulgente; a mesma divisão existia entre os tios, cujos nomes eram respectivamente símbolos de severidade e de complacência.
A realidade de uma educação pode não corresponder ao desejo dos educadores, e um professor romano nos dá um indício; fala, é bem verdade, com particular severidade, como exige sua profissão (em Roma, os filósofos, e por vezes também os retóricos, têm um lugar à parte na sociedade, um pouco como os padres entre nós). Segundo ele, a criança, que supõe educada na casa dos pais, recebe do ambiente apenas lições de "indolên- [pág. 26]
cia"; usa vestes tão luxuosas quanto as dos adultos e, como estes, desloca-se em liteiras; os pais se extasiam com suas palavras mais impudentes; nos jantares, ela ouve brincadeiras ousadas, canções levianas; percebe que existem na casa concubinas e favoritos. Mais adiante veremos como em Roma as mentes estavam impregnadas de uma doutrina de senso comum que condenava como pervertido e decadente o mundo tal como se encontrava; considerava-se que a moralidade consistia menos em amar a virtude ou em habituar-se a ela do que em ter a energia de resistir ao vício; a base do indivíduo era, pois, uma força de resistência. Teoricamente a educação tinha por objetivo temperar o caráter a tempo para que os indivíduos pudessem resistir, depois de adultos, ao micróbio do luxo e da decadência, que, devido ao vício dos tempos atuais, está em toda parte; mais ou menos como hoje fazemos com que os adolescentes pratiquem esporte porque sabemos que passarão o resto da vida sentados num escritório. Ora, praticamente, o contrário da indolência é a atividade, a industria, que fortifica os músculos do caráter, enquanto a indolência os atrofia; Tácito nos fala, por exemplo, de um senador proveniente "de uma família plebeia, porém muito antiga e considerada; agradava mais por algo de bonachão que pela energia, e no entanto o pai o criara com severidade".
Somente a severidade, que aterroriza os apetites tentadores, desenvolve o caráter. Também, diz Sêneca, "os pais forçam o caráter ainda flexível dos bebês a suportar o que lhes fará bem; podem chorar e se debater que mesmo assim são rigidamente enfaixados, com medo de que seu corpo ainda imaturo se deforme ao invés de crescer direito e em seguida se lhes inculca a cultura liberal recorrendo ao terror, se a recusam". Tal severidade faz parte do papel do pai, enquanto a mãe defende a causa da indolência; uma criança bem-educada só dirige a palavra ao pai chamando-o de "senhor" (domine). Os novos-ricos imitavam bem esse costume aristocrático. A distância entre pais e filhos era vertiginosa. O professor de retórica ao qual já nos referimos perdeu um filho de dez anos a quem adorava e que, conforme escreveu, o preferia às nutrizes e à avó que o educavam; esse [pág. 27]
filho estava destinado à mais bela carreira de eloquência judiciária (tal gênero de eloquência constituía então a parte vistosa, mundana, agitada da vida literária, como o teatro entre nós); os dons excepcionais do filho justificam o luto público do pai. Como se sabe, o pretenso instinto materno ou paterno mistura casos individuais de amor de eleição (que tem tantas oportunidades de se produzir entre pai e filho quanto entre dois indivíduos quaisquer reunidos pelos acasos da existência) e casos sem dúvida mais numerosos de sentimento parental "induzido" pela moral reinante; esta última ensinava os pais a amar os filhos como os continuadores do nome da família e da grandeza da linhagem. Sem vãos enternecimentos. Era legítimo chorar a ruína das esperanças familiares.

História da vida privada, 1: do Império Romano ao ano mil / organização Paul Veyne ; tradução Hildegard Feist; consultoria editorial Jonatas Batista Neto. ? São Paulo: Companhia das Letras, 2009.




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