Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro
História do Brasil e do Mundo

Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro


A nomeação do cirurgião Joaquim da Rocha Mazarém para a cadeira de anatomia, em 02 de abril de 1808, é considerada por Lycurgo de Castro Santos Filho (1991, p.45) como o marco da criação da Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro, que funcionou inicialmente nas dependências do Hospital Real Militar e Ultramar. Além de lecionar anatomia, Mazarém deveria ministrar um curso de ligaduras, partos e operações de cirurgia. E foi a partir dessa iniciativa que se instituiu o curso de cirurgia no Rio de Janeiro. A proposta curricular, que inicialmente compreendia somente os conhecimentos de cirurgia e de anatomia, ampliou-se abarcando as disciplinas de anatomia e fisiologia, terapêutica cirúrgica e particular, medicina cirúrgica e obstétrica, medicina, química e elementos de matéria médica e de farmácia.

Até essa época o exercício da medicina era facultado somente a físicos e cirurgiões portadores de um atestado de habilitação, e licenciados pelo cirurgião-mor do Reino, conforme preconizava o regulamento de 23 de maio de 1800. Sua atuação estava restrita à realização de sangrias, à aplicação de ventosas, à cura de feridas e de fraturas, sendo-lhes vetada a administração de remédios internos, que era privilégio dos médicos formados em Coimbra. A criação das escolas de medicina representava o fim de muitas das restrições impostas pela metrópole, possibilitando a formação de médicos no país e transferindo para as mãos destes o exercício da medicina.

Norteava à criação dos primeiros estabelecimentos de ensino superior a necessidade da formação de quadros profissionais para os serviços públicos imperativos naquele momento. Nesta perspectiva foram criados os primeiros estabelecimentos de ensino médico-cirúrgico nas cidades de Salvador e do Rio de Janeiro, "em benefício da conservação e saúde dos povos, a fim de que houvesse hábeis e peritos professores, que unindo a ciência médica aos conhecimentos práticos de cirurgia pudessem ser úteis aos moradores do Brasil”.

Na tentativa de incentivar e qualificar a formação médica no Rio de Janeiro, várias iniciativas foram realizadas. Novas cadeiras foram sendo criadas, na Escola na Corte, por meio de decretos do Príncipe-Regente D.João, como a cadeira de terapêutica cirúrgica e particular, criada em 20 de setembro de 1808, e a de medicina operatória e arte obstétrica em 25 de janeiro do ano seguinte. Ainda nesta perspectiva de qualificação a Ordem Régia de 05 de dezembro de 1810 dispôs que três alunos da Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro fossem enviados a Edimburgo (Escócia) para receberem ensinamentos cirúrgicos, e de lá deveriam se dirigir a Londres para aperfeiçoamento com cirurgiões londrinos. O alvará de 02 de março de 1812 criou a Junta de Direção Médico-Cirúrgica e Administrativa do Hospital Real Militar e Ultramar do Rio de Janeiro, à qual caberia a inspeção das aulas ministradas no Hospital.

Desde 1808 a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro não concentrou suas atividades em um local específico e próprio, ocupando diferentes espaços na cidade do Rio de Janeiro. Inicialmente, ficou sediada no antigo Colégio dos Jesuítas, sede do Hospital Real Militar e Ultramar, no morro do Castelo. Entre 1813 e 1832 seus cursos foram transferidos para acomodações do Hospital da Santa Casa da Misericórida, na praia de Santa Luzia. Posteriormente, em 1836, a Faculdade transferiu-se para o extinto Hospital Militar do Rio de Janeiro, permancendo o ensino das cadeiras de clínica médica e cirúrgica nas enfermarias da Santa Casa da Misericórdia. Em 1844, tendo em vista a reorganização do Hospital Militar, a Faculdade foi alojada em três locais diferentes: no Hospital Militar, no sobrado da praia de Santa Luzia e na Santa Casa. No ano de 1850, a administração e algumas cadeiras, passaram a funcionar num prédio situado na Rua dos Barbonos (atual Rua Evaristo da Veiga). No casarão do antigo Recolhimento de Órfãs da Irmandade da Misericórdia (Rua de Santa Luzia) foram instalados, em 1856, os serviços administrativos, a biblioteca e as cadeiras de laboratório, conservando as clínicas na Santa Casa.





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