O filme Desmundo, narra à vida cultural do Brasil, no século XVI tendo como enredo principal o destino das órfãs, suas obrigações como mulheres e as concepções cristãs sobre o Novo mundo (com suas bestas e feras, com o paraíso). O filme narra à história de uma órfã especifica, Oribela, órfã portuguesa e muito religiosa que em conflito com o mundo (desmundo, não-mundo é um termo aportuguesado do latim) tentará por varias vezes voltar para Portugal, mas não consegue. Ela é casada com o português Francisco de Albuquerque, que como ele mesmo disse no filme, era pobre e não tinha nem um lugar para dormir direito com sua mãe em Portugal, e que veio pra cá enriquecendo com as terras e escravos que aqui obteve.
Entretanto, o filme nos possibilita além de vermos o padrão cultural da época, nos permite perceber todo o universo da colônia, como os índios (que no filme são chamados de brasis, em referencia a um texto de Aristóteles, que diz que os Brasis seriam vermelhos) escravizados na própria terra, os primeiros escravos negros (que eram poucos, pois nesta época os escravos eram normalmente indígenas), os jesuítas que ora eram cristianizadores, ora corruptos, o cristão-novo (que era um ex-judeu, pois sua fé era menosprezada pela católica), a questão que hoje discutimos muitos sobre a miscigenação, pois Oribela tem um filho, no final do filme, e não sabemos se é do seu marido ou se é fruto de um pequeno romance com o cristão-novo, e na época, essa questão passou a ser normal (portugueses com índias, com escravas).
Outro fator que chama bastante atenção é a pluralidade de linguagem do filme, pois o filme mantém a fala tradicional do português arcaico, e a legenda é transcrita para a linguagem de hoje, mas quando se tem falas de índio e escravos, não se tem tradução, pois na época, não se entendia quase nada que um falava para o outro, isto é, o filme mostra como era difícil a comunicação na época, pelo fato de se ter muitas culturas, povos.
Fazendo uma ponte entre o conteúdo estudado e o filme, podemos ver que as mulheres eram vistas como inferiores, objetos, sendo obrigadas a se subordinarem aos homens; o imenso valor cultural presente nas crenças e nos mitos portugueses sobre o paraíso, o El Dorado, isto é o Novo mundo, os cristão-novos (isto é, os mouros que eram vistos como brutos,valentes); o enriquecimento de agentes que agiam em nome do rei; a questão da emigração que tornava possível a mudança de status(o que era pobre em Portugal, poderia virar nobre aqui); a questão da miscigenação, não sabendo-se ao certo de quem descendemos, a questão do incesto, pois deduz-se que a irmão do português Francisco, na verdade era sua filha, advinda de uma relação sua e de sua mãe. Também, vale à pena a ressalva de que na própria época, já existia o objetivo de se interiorizar e expandir mata adentro a fim de irem explorando a terra para se fazer novas descobertas.
AVALIAÇÃO CRÍTICA
O filme Desmundo mostrou-se muito útil, pois se mostra uma copia fidedigna da retratação cultural, política-social-econômica daquela época, demonstrando ser um excelente meio pedagógico para os educadores trabalharem com seus educandos, e uma excelente fonte histórica para nós historiadores, pois se inspira na carta de Anchieta enviada ao rei D. João, na qual pedia jovens órfãs para serem enviadas para cá, a fim de constituírem famílias.
O filme conta com uma serie de concepções e idéias vindas da cultura cristã típicas da época, que notamos quando lemos os escritos de Cristóvão Colombo sobre o que ele pensava ser o novo mundo. Não aceita a cultura do outro, do desconhecido, vê o índio como um animal, um ser inferior, mas com o coração generoso e valente. O choque de culturas propicia este impacto, os que compreendem continuam a viver, os incompreendidos são mortos. A questão de pensarem que o paraíso, estaria próximo ao equador, de clima temperado, com animais falantes (papagaio) que invadem o pensamento dos europeus, que quando chegam aqui pensam ser mesmo verdade. São questões bem explicitas e outras nem tanto, que o telespectador terá que ler, melhor, ver entre linhas, fazendo algumas analogias como a questão da miscigenação, a questão do saber lidar com o diferente, a questão dos cristão-novos, etc., alguns conhecimentos prévios para que se identifiquem tais aspectos.
O enredo do filme não deixa a desejar em nenhum quesito, não peca em termos narrativos e nem visuais. A única coisa que poderia ter ocorrido de diferente no filme, foi à morte do cristão-novo não ter sido concretizada, para que Oribela tivesse ficado com ele, tendo um fim romântico e idealizado com o qual estamos acostumados.
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