Átila, O Huno
História do Brasil e do Mundo

Átila, O Huno


Em meados do século V da Era Cristã, um homem, um rei descendente de povos tidos como bárbaros, os quais haviam vindos há muitos anos das estepes centrais da Ásia, cavalgando em seus cavalos por longos anos em direção ao oeste, em direção a Europa. Um povo guerreiro, de atos cruéis e rústicos; eram exímios cavaleiros e se vestiam com peles de animais; foram considerados a última grande praga na Europa antes do fim do Império Romano do Ocidente.

Este povo eram os Hunos. Um povo de origem incerta os quais vieram da região próxima a Mongólia e chegaram por volta do século II na Europa (data ainda não sendo precisa), se estabelecendo na região que hoje compreende a Hungria. Porém aqui estou não para contar a história deste povo, mas sim a história de um dos seus reis, o qual chegou a ser proclamado pela Igreja Católica como sendo o Flagelo de Deus. E este homem era Átila, o Huno.
Átila nasceu em 406, sendo filho de Mundzuk, irmão do futuro rei huno, Ruga. Quanto a infância de Átila e parte do inicio de sua vida não se conhece quase que praticamente nada. Mas sabe-se que já era um guerreiro e líder respeitado por entre seu povo. Ruga se tornou rei em 432, mas dois anos depois veio a falecer, deixando o trono para seus sobrinhos, Átila e seu irmão Bleda. Estes fizeram acordos com Roma, ou melhor dizendo proporam novos acordos, já que há anos os hunos já negociavam com os romanos, e também empreenderam campanhas militares contra o Império Persa, os quais também eram inimigos dos romanos.

"Priscus deixou-nos um retrato daquele que iria tornar-se popularmente o "flagelo de Deus": "Ele avançava orgulhosamente e deixava seu olhar correr aqui e ali, enquanto que a marca do sentimento de sua força dava firmeza a todo o seu corpo. Ele gostava da guerra, mas sabia impor períodos de trégua. Imperioso no conselho, não recuando diante da violência, atendia, no entanto, às súplicas. Embora pouco admitisse entre os seus súditos, era capaz de atos de bondade. De baixa estatura, peito largo, cabeça avantajada, olhos rasgados, barba rara e cinzenta, nariz chato, tez escura, tudo nele denunciava sua origem de huno". (CONRAD, 1976, p. 106).


Átila, o Huno. Provavelmente a ilustração que mais se aproxima da descrição feita pelo historiador Prisco, o qual conheceu Átila. 
Em sua época o Império Huno já havia crescido significativamente nestes últimos anos, e quando Átila assumiu o trono como o único rei, o império ainda aumentaria durante seu reinado, se tornando um dos maiores impérios de sua época. Porém, Átila não é lembrado na história como um grande conquistador, mas como um dos grandes destruidores. Muitas cidades europeias foram arrasadas pelas hordas dos hunos; na maioria das vezes, Átila aplicava a estratégia de "ataque rápido, saquei, mate, queimei e vá embora". De fato, algumas cidades, não foram conquistadas, mas sim saqueadas e depois destruídas, e a população residente ou era exterminada ou era vendida como escravos. Para alguns estudiosos, tais atos, conotam que Átila tivesse um perfil de um psicopata, já que para ele não fazia diferença quantos iriam morrer, apenas importava as riquezas que ele conseguiria naquele lugar. 

O Império Huno em sua máxima extensão. Século V. A estrela representa o centro do império localizado no que hoje é a Hungria.
Com a derrota de Átila e Bleda contra a tentativa de se conquistar os persas, estes retornaram para a Europa e decidiram combater os romanos, de inicio estes lutaram contra os romanos, e aos poucos conseguiram tomar as terras germânicas (equivale a atual Alemanha e Polônia) as conquistando. Durante anos os hunos travaram batalhas contra os romanos chegando ao ponto de estes proporem novos acordos de paz, sendo estes nos quais o romanos passariam a pagar uma indenização anual em várias centenas de quilos de ouro para os hunos, e este se comprometeriam em não atacar as terras do Império Romano. Com isso os hunos passaram alguns anos sem voltarem a causar problemas para os romanos. Somente anos depois os hunos retornaram a ameaçar a integridade tanto do Império Romano do Ocidente e do Império Romano do Oriente, sendo que Constantinopla por pouco na época não fora atacada por Átila, este chegou a cercá-la, mas devido a suas imponentes muralhas e seu exército de arqueiros, postados sobre as muralhas, este desistiu do ataque. Contudo, Átila passou cerca de 3 anos ameaçando as redondezas da grande e rica cidade de Constantinopla, a qual na época possuía cerca de 500 mil habitantes. Sua presença se deveu principalmente ao terror psicológico empregado na região, já que seus exércitos não seriam capazes de ultrapassar as muralhas da cidade, mesmo assim, o medo destes bárbaros sanguinários, fora tamanho, que Átila pelos três anos que ali permaneceu, extorquiu ouro da cidade, ameaçando em caso de não fosse pago, invadiria a cidade.

Em 445, após alguns anos de trégua, Átila voltou a aterrorizar os romanos. Nesse ano, se valendo como pretexto de quebrar a trégua, Átila alegou que os habitantes da vila de Margos, vila sob o domínio romano, profanaram algumas tumbas de comandantes e chefes hunos na região, tal ato fora respondido pelos hunos com a espada. Margos fora destruída, parte de sua população exterminada e outra escravizada, mesmo assim isso não fora o suficiente. Os hunos continuaram sua nova onda de ataques, levando o terror e a destruição para Singnidunum, Sirmium, Naissos, Filipolis e Marcianopolis, todas sucumbiram ao domínio huno. Após três anos de conflitos, uma nova trégua fora acertada, e as ondas de ataque pararam novamente.

Em 448 Átila já era o único rei de todo o império, Bleda havia morrido em 445 devido a causas ainda desconhecidas, acredita-se que Átila tenha ordenado a sua morte. Átila, vivia as custas do ouro pago pelos romanos e pelo comércio empreendido por seu povo nas terras do império. Nesta época surgiu o boato que nestes dois anos que Átila havia permanecido fora, ele havia encontrado uma poderosa arma, um verdadeiro tesouro, a Espada de Marte (mesmo que isso não passasse de uma lenda, muitos acreditavam que esta era a fonte de poder de Átila, por isso ele era tão temido).

Em 450 ele daria inicio as sua últimas campanhas militares e deste ponto ganharia a acunha de o Flagelo de Deus. Neste ano, ele decidira atacar o Reino Visigodo de Toulosse (localizado na Península Ibérica). Nesta época o rei visigodo estava com aliança com o imperador romanoValentiniano III (419-455), contudo Átila não quis saber disso e decidiu atacar o rei visigodo que ameaçava suas terras.

Contudo é nesta parte que a história se complica; Honória  a irmã do imperador Valentiniano III, escreveu uma carta pedindo que Átila desistisse do ataque aos visigodos. Átila acabou fazendo uma nova proposta. Primeiro ele propôs que Honória se casa-se com ele, e segundo ele pediu como dote do casamento, metade de todas as terras do Império Romano do Ocidente. Valentiniano descobriu a proposta e se recusou a aceitá-la. Para completar, ele suspendeu o tributo pago aos hunos, com isso Átila declarou guerra aos romanos mais uma vez. 

Moeda com a efígie da princesa Honória, irmã do imperador romano Valentiniano III. Pivô entre o desentendimento do imperador com Átila. 
Em 451 o rei huno reuniu um gigantesco exército, formado pelos hunos, visigodos e gépidas, ambos os dois, seus aliados. Nesta época o Império Huno era mais extenso e de certa forma mais poderoso do que o Império Romano e o Império Bizantino. Com um gigantesco exército Átila partiu para confrontar os ostrogodos e os francos que haviam unido forças com os romanos, então na chamada Batalha dos Campos Cataláunicos (em algum lugar do norte da atual França), o dois exércitos se confrontaram, e por incrível que pareça o poderoso exército huno fora derrotado, e Átila acabou tendo que fugir. A derrota se deu porque Átila subestimou a estratégia do inimigo; barricadas de palafitas foram construídas ao longo do campo de batalha, isso fora um duro golpe a cavalaria huna, a qual predominava na formação deste exército. Os cavalos se chocaram com os espinhos de madeira, e ao mesmo tempo isso reduziu o espaço de movimentação da cavalaria, os deixando a mercê da infantaria e da artilharia romana. 

"As cargas dos Visigodos de Teodorico foram tão furiosas que os hunos precisaram recuar e constituírem, com suas carroças, um campo entricheirado. Bateram em retirada com os favores da noite". (CONRAD, 1976, p. 107). 

No ano seguinte em 452, Átila voltou com sua fúria, atacando, destruindo e pilhando as cidades do norte da Itália, como ato de vingança pela sua derrota dois anos antes na Gália (França). Chegando ao ponto de que o próprio imperador romano fugiu de Ravenna (capital na época) para Roma. Com isso Átila marchava em direção a Roma, afim de conquistá-la e com isso conquistar o Império Romano. Mas neste caso, algo imprevisível ocorrera. O Papa Leão I, decidira marchar de encontro ao rei huno; junto com sua comitiva e com o apoio de um prefeito e de um cônsul fora falar com o rei huno.

O encontro de Átila e o papa Leão I. O papa conseguiu convencer o huno de desistir de conquistar Roma. 
Neste ponto a história fica desconhecida, até hoje ninguém sabe ao certo o que fora o que o Papa Leão I dissera para Átila para fazer este desistir de sua investida contra Roma. Várias teorias foram formuladas sobre este fato, alguns dizem que uma praga havia atingido o exército huno o deixando abatido, outros falam que os bizantinos haviam enviado um exército para atacá-los, e outros falam que o papa havia oferecido uma enorme quantidade de ouro para Átila. De qualquer forma nunca saberemos o que realmente se passou naquele dia. Contudo o que foi que se passou, bastou para inibir a fúria de Átila. 

Em 453 o grande rei dos hunos veio a falecer. Após ter abandonado a Itália, Átila seguiu com suas tropas para o Oriente, a fim de confrontar os bizantinos que ameaçavam suas terras, contudo ele acabou montando acampamento na região da Panônia, e lá veio a morrer. Novamente sua história volta a ficar  envolta em lendas. Ninguém sabe ao certo o que causou a morte do rei. Alguns relatos da época dizem que ele em sua última noite de vida, se encontrava em uma festa de bebedeira, muita comida, música, dança e orgias, e teria literalmente "farrado" até a morte. 

A Festa de Átila. Mór Than. O autor se baseou no relato do historiador Prisco acerca da última noite de vida do rei huno. O qual teria morrido durante uma festa.
Por outro lado, o historiador Prisco fala que Átila morrera de uma hemorragia nasal, derramando sangue pelo nariz e pela boca, tendo morrido afogado em seu próprio sangue. Porém como eu já havia dito existem vários relatos sobre a morte de Átila, e alguns citados nos livros da Saga de Volsung e na Edda Poética (duas obras nas quais narram lendas de povos europeus e tinham como uma das personagens a figura do próprio Átila, daí o seu caráter lendário ter mais vivacidade) dizem que ele teria sido apunhalado por sua última esposa ou por uma concubina.

De qualquer forma este fica sendo mais um mistério sobre este curioso homem. Um homem que se tornou o mais poderoso imperador da época, que confrontou vários povos bárbaros da Europa e ousou conquistar o Império Romano o qual já se encontrava em decadência há muito tempo. Átila por toda a sua fama de bárbaro, de conquistador, de ter pilhado e destruído cidades, chegou a ser considerado um flagelo enviado por Deus para castigar a Europa na época.

NOTA: No quadro a Festa de Átila, o autor retratou o historiador bizantino Prisco de Pânio, no lado direito da tela, como um homem velho, vestido de branco, segurando um livro.
NOTA 2: Após a sua morte em 453 aos 47 anos, o império huno se desintegrou-se 30 anos depois, já que os descendentes de Átila não conseguiram se manter no poder e manter a coesão entre as províncias e os povos que estavam sob seu domínio. 
NOTA 3: Foram feitos alguns filmes sobre Átila, embora sejam mais romanceados do que históricos. 

Referências Bibliográficas:
CONRAD, Philippe. As civilizações das estepes. Rio de Janeiro, Editions Famot, 1976. (Capitulo III).
THOMPSON, E. A.: A History of Attila and the Huns. Londres: Oxford University Press, 1999.
ROBERTS, Wess: Atila, conquistador en el siglo V, líder en el siglo XX,. Madrid: Maeva, 2001.




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