As teorias sobre a ocupação da Amazônia
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As teorias sobre a ocupação da Amazônia



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Betty Jane Meggers  e o "determinismo ecológico"
A arqueóloga norte-americana acreditava que, durante a Pré-História, a Amazônia não foi capaz de desenvolver uma cultura complexa, a exemplo dos Andes e da Mesoamérica. Para ela, a região era um vazio demográfico devido à enorme acidez do solo que, por sua vez, não permitia uma grande produtividade agrícola. Defende, ainda, que todos os artefatos de civilizações pré-históricas encontrados eram oriundos de outras regiões em função das constantes imigrações, comuns nessa fase da história da humanidade já que as populações eram nômades. 

Donald W.  Lathrop (1927-1990), Estados Unidos da América a tornar-se um fã no Facebook Lathrap: http://facebook.com/DonaldLathrap Antropologia de A Z. para
Da Amazônia para outras regiões da América
Donald Lathrap, em sua grande obra The Upper Amazon (1970), propõe a precedência temporal de cerâmicas policromas na Amazônia central. Do mesmo modo, estabeleceu a hipótese de que essas cerâmicas, associadas à chamada "tradição policroma da Amazônia" (TPA), seriam correlacionadas arqueologicamente à populações falantes de línguas do tronco Tupi, principalmente as línguas da família Tupi-Guarani. Lathrap tentou explicar a distribuição dos grandes grupos linguísticos e estilos cerâmicos na Amazônia através de seu "modelo cardíaco". Esse modelo preconizava que a pressão populacional nas áreas ribeirinhas da Amazônia central, que ele acreditava ter sido o centro mais antigo de desenvolvimento de agricultura e sedentarismo no continente americano (Lathrap 1974, 1977), resultaram em um êxodo populacional contínuo, centrífugo através da colonização das bacias dos principais afluentes do Amazonas, como o Negro e o Madeira, assim como pela colonização do Solimões e do baixo Amazonas.

Anna Roosevelt
Para Anna Roosevelt, já houve uma Amazônia povoada por sociedades complexas e estratificadas, que reuniam dezenas de milhares de pessoas na agricultura de mandioca e talvez milho nas terras inundáveis, fertilizadas com os sedimentos transportados de longas distâncias pelos chamados rios de água branca (na verdade, barrenta), até mesmo dos Andes. Nessas várzeas, que cobrem de 2% a 3% da bacia amazônica (ou até 120 mil quilômetros quadrados, no caso do Brasil, o equivalente a quase um Portugal e meio), e nas suas adjacências, teriam florescido grandes cacicados, como os que legaram as elaboradas cerâmicas marajoara (da ilha de Marajó) e Santarém (nas margens do rio Tapajós). Esses povos guerreiros de cabelos compridos foram descritos nos relatos dos primeiros cronistas europeus, como o religioso Gaspar de Carvajal, que acompanhou a viagem do explorador espanhol Francisco de Orellana à foz do grande rio, dando origem à lenda das amazonas. Segundo Roosevelt, não seriam tão lendários assim - apenas não teriam conseguido sobreviver ao contato com a máquina de guerra européia e às doenças infecciosas que levava consigo.

Dito de outro modo, o padrão atual de ocupação indígena da Amazônia seria fruto do movimento da história, e não a resultante milenar de um processo biológico de ajustamento à baixa capacidade de sustentação do ambiente. "Cometemos uma injustiça contra essas populações quando as vemos, simplesmente, como selvagens afortunados, adaptados à floresta tropical, ao invés de um povo ecologicamente, economicamente e politicamente marginal que vem perdendo controle sobre seus habitats e modos de vida", resumiu Anna Roosevelt em "Determinismo Ecológico na Interpretação do Desenvolvimento Social Indígena da Amazônia".

Seu alvo preferencial é Betty Meggers, que, em parceria com o marido, Clifford Evans, e contando com o beneplácito de governos militares brasileiros, reinou sobre a arqueologia amazônica nos anos 60 e 70. Ainda que incomodada com o calor, a umidade e os insetos, uma referência constante em seus escritos, Meggers comandou os primeiros trabalhos arqueológicos extensos e sistemáticos na região, reunidos em 1971 numa obra clássica, "Amazônia: Homem e Cultura em um Falso Paraíso".

O título já mostra o viés da arqueóloga com relação à floresta amazônica, que da ótica do determinismo ambiental seria incapaz de dar origem a culturas mais complexas. Mesmo as óbvias exceções, como as cerâmicas marajoara e Santarém, teriam resultado de incursões esporádicas de civilizações estranhas ao ambiente amazônico, oriundas do Caribe ou mesmo dos Andes. Uma vez ali instaladas, teriam entrado num processo irresistível de decadência, provocada pelo meio e suas transformações.

Qualquer semelhança com as teorias periodicamente ressuscitadas para "explicar" o subdesenvolvimento brasileiro, com base na sua localização geográfica ou na insalubridade do meio, é mais que simples coincidência. A Amazônia não é necessariamente sinônimo de atraso social e cultural (embora qualquer viagem por seu interior ofereça copiosos e penosos exemplos exatamente disso); é o que pode constatar todo aquele que se despir de preconceitos e contemplar um vaso marajoara em qualquer museu etnográfico do Brasil.




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