As Guerras Púnicas
História do Brasil e do Mundo

As Guerras Púnicas


Neste texto procurei contar de forma breve a respeito das Guerras Púnicas, intensos conflitos divididos em três grandes guerras, travadas entre as potências mediterrânicas de duas repúblicas, Roma e Cartago, as quais se digladiaram para controlar territórios na Europa e África, além de rotas marítimas. Neste caso, as Guerras Púnicas são um marco para a história romana pois representaram seu primeiro grande passo para a criação de um exército nacional, o qual daria origem as legiões imperiais. 

Cartago foi uma antiga colônia fundada na África, pelos fenícios no século IX a. C, perto do lago Túnis, na atual TunísiaEm poucos anos Cartago se tornou uma potência mercantil, militar e naval, passou a controlar boa parte do comércio no mar Mediterrâneo, no que acabou levando ao confronto com Roma pelo domínio do mar Mediterrâneo e de suas terras. Cartago possuía colônias na Sicília, na Sardenha, na Córsegana Espanha, e na costa africana que hoje compreendem as costas do Marrocos, Tunísia e Líbia. Como este assunto é muito extenso, irei fazer um levantamento geral do que foram estes conflitos. 

Os domínios de Cartago antes da Primeira Guerra Púnica. 
A Primeira Guerra nica (264-241 a.C)

A primeira guerra púnica teve inicio em 264 a.C e perduraria até 241 a.C. Os motivos pelo inicio da guerra, fora o fato de que Roma se intrometeu nos conflitos entre os gregos da cidade de Siracusa (Sicília) contra os cartagineses. Nessa época a Sicília era muito cobiçada por suas excelentes terras para agricultura, o que garantiu a ela como um dos principais produtores de cereais da região. Como Roma havia conquistado a península Itálica, ela voltou seus olhos para Sicília. Então após alguns conflitos entre grupos de mercenários da Sicília, Roma acaba se tornando aliada dos gregos e declarando guerra a Cartago.

Nos primeiros anos da guerra, os romanos, e os cartagineses se confrontaram pelo domínio da Sicília, o que acabou levando a muitas batalhas e das quais os romanos saíram vitoriosos, a ponto de conseguirem que parte dos aliados de Cartago mudasse para seu lado. Cartago insatisfeita pelas derrotas em terra decide atacar por mar. Nesta época em 261 a.C após a Batalha de Agrigentum, os romanos já dominavam grande parte do território siciliano. Contudo suas forças e sua hegemonia eram ameaçadas pela marinha de Cartago. Assim os romanos deram inicio a construção de sua própria marinha. Até então Roma nunca havia participado de uma batalha naval. Eles tiveram a ajuda dos gregos para construir uma frota, mas devido a sua inexperiência foram derrotados várias vezes.

Mas após anos de conflitos, os romanos desenvolveram novas táticas de combate naval e foram ganhando experiência, a ponto de que em 256 a.C, com uma frota de 330 navios os romanos decidiram atacar o norte da África, contudo sua investida fora barrada pela frota cartaginês, a qual acabou sendo derrotada pelos romanos, na maior batalha naval da época. Roma conseguiu atacar as colônias na África, mas acabou por ter que recuar, quando os cartagineses pediram ajuda ao general espartano Xanthippus. Com está derrota eles voltaram para casa, e no caminho grande parte da frota fora destruída em uma tempestade.

Em 247 a.C o general Amilcar Barca assume o controle das frotas de Cartago, aproveitando a fraqueza do inimigo ele decide atacar à costa da península Itálica. Amilcar fundou uma base no território romano, e começou a atacar por terra. Nesta época tanto Roma e Cartago estavam abaladas economicamente, após vinte anos de guerra. Tal condição era tão precária, que o Senado não tinha recursos para construir uma nova frota, e teve que recorrer aos cidadãos ricos, os quais juntos puderam construir uma frota de 200 navios, o qual permitiu que os romanos atacassem a frota de suprimentos de Amilcar, o deixando desamparado.

Em 241 a.C, os romanos vencem os cartagineses na Batalha das ilhas Égadi. Com a derrota Cartago decide assinar um acordo de paz com Roma. Com a vitória de Roma está consegue o total domínio da Sicília, e de outras pequenas ilhas, como também uma indenização anual de 2200 talentos. Com isso Roma se tornara a nova potência naval do Mediterrâneo.

A Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C)

A segunda guerra se da como consequência da primeira, após a sua derrota Cartago ficara abalada financeiramente, e para contornar está situação ela decide explorar pesadamente as minas de prata na região da Hispânia. Nesta época Roma combatia os gauleses ao norte, e os cartagineses expandiam seu domínio pela África, assegurando a posse da Espanha e da Argélia. Contudo Cartago acabou por arranjar um novo confronto com Roma, quando está acabou por invadir a Córsega e a Sardenha, até então territórios de Cartago. Os cartagineses acabaram sendo derrotados pelos romanos.

Então decidiram intensificar o domínio sobre a Hispânia, com o general Amilcar. Amilcar morreu anos depois em 229 a.C em um confronto contra tribos locais, nesta época quase toda a Hispânia estava sobre o domínio cartaginês. Seu cunhado Asdrúbal, continuou a conquista, no que levou a fundação da Nova Cartago, a qual seria a capital da Hispânia. Após seu assassinato em 221 a.C. Cartago entrega o comando para o jovem filho de Amilcar, Aníbal Barca.

Aníbal Barca
Aos vinte e seis anos de idade Aníbal Barca, não somente decide dá continuidade as conquistas de seu pai, ele decide enfrentar Roma. Para isso ela acaba quebrando um dos tratados entre Roma e Cartago que assegurava as fronteiras do domínio romano com o domínio cartaginês na Hispânia. Com este ataque, o Senado romano pede para o governo de Cartago que envie Aníbal para julgamento em Roma, contudo o Conselho dos Cem (Órgão superior em Cartago) se recusa a tal pedido. Em 218 a. C os romanos declaram novamente guerra a Cartago. Aníbal não se pôs a esperar que os romanos atacassem a península Ibérica ou a África, ele decidiu agir primeiro. Em abril de 218 a.C Aníbal parte com cerca de 45 mil guerreiros rumo a Gália, ele pretendia contornar a Gália e atacar os romanos pelo norte. No caminho ele esperava ganhar o apoio das tribos gaulesas, mas isso não acabou por ocorrer inicialmente. Roma soube dos planos de Aníbal, e enviou o cônsul Cornélio Cipião para enfrentá-lo. Contudo Aníbal fizera algo inusitado, invés de avançar para o sul pelas margens do rio Ródano, Aníbal decidiu avançar através dos Alpes, um caminho mais longo e mais perigoso.

Contudo o plano dera certo, e com isso Aníbal conseguiu evitar que os romanos o seguissem pelos Alpes. Porém ele acabou por confrontar outras tribos gaulesas no caminho. Este momento fora um dos mais grandiosos da segunda guerra púnica. 45 mil guerreiros e 50 elefantes cruzavam os Alpes. Cinco meses depois, após uma dura jornada, Aníbal chega ao vale do Pó, com 26 mil guerreiros e 21 elefantes. Porém tal jornada acabara por fornecer os esperados aliados que Aníbal procurava. Após destruir as duas colônias romanas na Gália, ele acabara por conseguir o apoio de algumas das tribos gaulesas. Com a sua chegada a Itália, Roma passaria os próximos anos sendo atacada pelos exércitos cartagineses. Os romanos perderam inúmeras batalhas ao longo de mais de dez anos de conflito. Contudo mesmo o próprio Aníbal não conseguira conquistar Roma e nem a sua rendição. Em 2 de agosto de 216 a. C, os romanos e os cartagineses travaram a Batalha de Canas, a qual representou a maior derrota para os romanos, os quais chegaram a perderem 80 mil guerreiros. Isso permitiu que Aníbal avançasse pelo centro da Itália e ali pudesse se estabelecer. Após os romanos perderem milhares de soldados, várias legiões, cônsules, senadores, terras, recursos, aliados, colônias era chegada a hora de um ataque decisivo as forças de Aníbal.

Em 211 a.C o jovem general Públio Cornélius Cipião, toma a frente dos exércitos romanos na península Ibérica. A qual era a fonte de soldados e recursos das tropas de Aníbal. Lá ele passa os anos seguintes, confrontado o irmão de Aníbal, Asdrúbal Barca, o qual é morto em 207 a.C. Dois anos depois ele retorna para Roma, e é eleito cônsul. Neste momento Públio Cornélio Cipião, propõem um plano ousado, atacar diretamente a própria Cartago. Inicialmente o Senado se recusou a fazer tal ato. Porem eles acabaram por ceder o direito de Cipião ir para o ataque. Cipião reuniu duas legiões e partiu em 204 a.C para a África. Dispondo de poucos guerreiros e recursos, Cipião, o Africano, decidira atacar as cidades vizinhas a Cartago. 

Com suas vitórias ele acabou ganhando o apoio de Roma, a qual lhe enviou reforços. Mas acima de tudo ele conseguira que o próprio Aníbal viesse até ele. Após Cartago ter vários de sues aliados conquistados e derrotados, ela se sentira em perigo, e pediu ajuda a Aníbal, o qual em 202 a.C chegara à África. Cipião decidira não ficar próxima a Cartago e nem confrontar Aníbal de imediato, ao invés disso ele forçou a Aníbal a segui-lo pelo deserto para longe de Cartago e de qualquer outra cidade e fortaleza. Em tais condições Aníbal não teria a quem recorrer ajuda.

Em 19 de outubro de 202 a.C, na planície de Zama, se deu a batalha entre os dois exércitos. Cipíão prevendo que Aníbal usa-se seus elefantes de guerra ordenou que sua infantaria, carrega-se com sigo uma trompa. Ambos os exércitos postos para o ataque, a batalha tem inicio, Cipião envia sua infantaria na frente, e Aníbal envia seu exército de elefantes. Quando os elefantes se aproximaram os soldados começaram a soprar as trompas, o que acabou por assustar os elefantes, os quais se voltaram conta seu próprio exército. Os animais enfurecidos acabaram por atacar e arrasar a cavalaria de Aníbal. Com isso Cipião dera ordem para todo o exército atacar. Aníbal havia perdido seus elefantes, sua cavalaria, e não tinha a quem recorrer, a única solução fora a rendição.

Representação da Batalha de Zama em 202 a.C na Tunísia. 
Roma impôs serias cobranças a Cartago, exigindo que esta entregasse sua frota, suas terras conquistadas e pagasse uma pesada indenização. Aníbal ainda tentou organizar o Estado, porém muitos dos conselheiros, o acusaram pela derrota de Cartago, com isso ele deixou sua pátria e viajou para a Macedônia e depois para a Ásia Menor. Posteriormente se suicidou bebendo veneno. Cipião, o grande herói romano, fora traiçoeiramente enganado por seus inimigos. Ele acabou sendo acusado de corrupção em seu cargo público, para não ser punido por causa disso, ele fugiu e se exilou na Hispânia. Roma agora detinha parte da Gália, a Hispânia, e agora a supremacia do mar mediterrâneo a ponto de estes o chamarem de mare nostrum (nosso mar). Com a vitória romana, a aristocracia se consolidou como grupo dirigente, e o Senado passou a gozar de grande prestigio, por ter liderado com sucesso a guerra contra Cartago e Aníbal.

Após a gloriosa vitória romana na segunda guerra púnica, Roma passara os anos seguintes expandindo seu território para o oriente. Neste tempo Roma confrontava os macedônios nas guerras Macedônicas (211-148 a.C), no que acabou com a vitória romana sobre a Macedônia, a transformando em província romana, e a conquista da própria Grécia. A parti de então Roma continuou sua expansão para o Oriente. Conquistando a Ásia menor, e expandindo seus domínios para a Síria. Contudo nestes anos Cartago mesmo arrasada pela guerra, aos poucos fora se recuperando a ponto de voltar a levantar suspeitas ameaças para Roma. Porém Cartago fora proibida de atacar qualquer outro povo e de formar um exército. Contudo o destino de Cartago não era um dos melhores, em Roma. O censor Marco Pórcio Catão, defendia com unhas e dentes, para que Roma atacasse e destruísse de vez Cartago.

A Terceira Guerra Púnica (149-146 a.C)

Catão, o Censor
De acordo com a história Catão, o censor, um dos mais ilustres e respeitados políticos da época convenceu o Senado a declarar guerra a Cartago. Ele alegava que Cartago estava se recuperando muito rapidamente, e poderia voltar a ameaçar Roma. Então ele terminou seu discurso proferindo a seguinte frase ?Delenda Carthago? (Cartago deve ser destruída). Mas para que tal condição ocorresse o Senado teria que arranjar um pretexto. Já que Cartago fora proibida de lutar contra outros povos, o Senado ordenou que os Numidas atacassem os cartagineses até que após três anos de conflito, e Cartago implorando apoio a Roma, decidira resolver a situação por contra própria. Assim os cartagineses partem para guerra, desobedecendo ao tratado com Roma, a qual lhe declara guerra. Em 149 a.C as legiões romanas atacam Cartago, porem estáa não cederia facilmente, tal fato levou a guerra a se prolongar por três anos. Até que em 146 a. C, liderados por Cipião Emiliano (neto de Cipião, o Africano), os romanos conseguiram invadir a cidade.

Porém estes tiveram que lutar ferozmente com os cartagineses que defendiam sua cidade com todas as suas forças. Tal luta acabou por levar a pilhagem, a milhares de mortes, e a própria destruição da cidade. Os 50 mil prisioneiros partiram vendo a cidade ser engolida pelas chamas. Após a destruição da cidade, reza lenda que toda a terra ao redor fora salgada, para que nada mais ali crescesse. Roma declarou as terras de Cartago como sendo malditas. Assim a poderosa Cartago chegara ao fim. Contudo anos depois outra cidade de mesmo nome fora fundada, e esta passou a pertencer à província romana. Com o fim de Cartago, todos os seus domínios passaram a pertencer aos romanos. A vitória romana consolidava a supremacia dos romanos sobre o Mediterrâneo e sua gradativa expansão territorial até o fim da República e o inicio do seu glorioso Império.

NOTA: Anos mais tarde, o tribuno da plebe, Caio Graco (154-121 a.C) propôs que as terras de Cartago fossem recuperadas e utilizadas para o cultivo. Entretanto o Senado ignorou tal ideia, já que para o orgulho romano, aquelas terras eram malditas. E seria uma afronta utilizá-las. Caio fora o irmão mais novo de Tibério Graco. Ambos ficaram conhecidos por defenderem os direitos politicos da plebe durante a República Romana.
NOTA 2: De acordo com a Eneida, célebre poema de Virgílio; a cidade de Cartago teria sido fundada pela rainha Dido.
NOTA 3: O Conselho dos Cem em Cartago, é comparado ao Senado em Roma.
NOTA 4: O nome púnico, era como os romanos se referiam aos cartagineses. Púnico, se refere a descendente dos fenícios.
NOTA 5: A Fenícia era uma pequena região costeira, que compreendia os atuais territórios da Síria, Líbano e Israel. A Fenicia era dividida politicamente em várias cidades-estados. Na história eles ficaram lembrados como grandes navegadores, comerciantes e exploradores do Mediterrâneo.

Referências Bibliográficas:
BALDSON, J. P. V. D. 1968. O Mundo Romano. Rio de Janeiro, Zahar.
GRIMAL, Pierre. 1988. A Civilização Romana. Lisboa, Ed. 70.
CARASSIN, Maria Luiza. 2001. Sociedade e política na Roma Antiga. São Paulo, Atual.

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