Unidos em torno de sua crença e estimulados pelo preceito da defesa de sua religião, os muçulmanos expandiram seus territórios para muito além da península Arábica. Em menos de um século, conquistaram regiões que iam da Índia até a península Ibérica, passando pelo norte da África. A conquista de terras e pontos-chave do comércio internacional pelos árabes se deu numa velocidade espantosa. Em cem anos – a contar da morte de Maomé – formaram um império imenso. O comércio árabe cresceu de modo extraordinário. Agindo como intermediários entre o Oriente e o Ocidente, os árabes transportavam e vendiam sobretudo artigos de luxo, como tapetes, sedas, armas, móveis, jóias e especiarias do Oriente (pimenta, cravo, canela, mostarda etc).
Suas caravanas com milhares de camelos, levavam artigos da Índia, da China até os portos do Mediterrâneo, como Alexandria e Trípoli no Egito. De lá as mercadorias chegavam por mar a diversos pontos da Europa.
Além de comerciar, os árabes também produziam. Era grande o número de oficinas nas principais cidades do império. Damasco, na Síria, era conhecida por seu tecido estampado; Marrocos, no norte da África, era famosa por sua produção de couro; Bagdá, a atual capital do Iraque, era especialista na produção de vidros, jóias e sedas. Eles aperfeiçoaram também técnicas de irrigação e conseguiram transformar terras secas, como as de Valência, na Espanha, em áreas férteis de produção diversificada.
Entre os gêneros agrícolas que a Europa medieval conheceu por intermédio dos árabes, estão o café, a cana-de-açúcar, o algodão, o pêssego e o espinafre.
A expansão deu aos muçulmanos o domínio de uma grande extensão territorial. Mas não havia acordo entre eles sobre a forma de governar esse império. Alguns queriam que todos os territórios conquistados estivessem sob o controle do califa, estabelecido na cidade árabe de Bagdá. Outros queriam a autonomia dos novos territórios, como era o caso de Abd-er Rahman, o emir de Córdoba, na península Ibérica, na segunda metade do século VIII. Ele achava que seu governo sobre al-Andaluz, nome dado então pelos muçulmanos à atual Espanha, não devia prestar contas ao califado de Bagdá.
Tais diferenças acabaram levando à divisão do Império islâmico em vários califados (reinos) independentes no decorrer do século VIII.
trecho extraído de : BOULOS JUNIOR, Alfredo.coleção História Sociedade & Cidadania
A cultura islâmica
A civilização árabe foi, sobretudo, urbana. A riqueza das cidades árabes medievais, como Córdoba e Granada, na atual Espanha, Cairo e Marrakech, na África, Damasco e Bagdá, na Ásia, provinha principalmente do comércio. Juntamente com o comércio, os árabes promoveram a circulação de idéias e conhecimentos. Foram eles que introduziram na Europa a bússola, o papel e a pólvora, inventados pelos chineses. Além disso, produziram conhecimento, sobretudo no campo da medicina, da matemática e da química.
Na medicina descobriram o contágio por meio da água, da comida e das roupas e identificaram as causas de várias doenças contagiosas, como a varíola e o sarampo.
Os árabes e a medicina
Ter um filho médico é ainda hoje motivo de grande orgulho para a mãe árabe. O motivo é simples: o gosto pela medicina e o prestígio do médico entre os árabes são milenares. Veja o que diz um historiador.
Os doutores em medicina eram pessoas de grande importância nas sociedades muçulmanas. (…)
Fachada do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo
Os princípios da arte médica islâmica foram expostos em duas grandes obras médicas de síntese – o Hawi (Livro abrangente), de Abu Bakr M. al-Rasi (863-925) e o Quanum (Princípio de medicina), de Ibn Sina (Avicena). Apesar de apoiarem-se nos trabalhos de grandes cientistas, estas obras levaram a arte da medicina mais adiante; o livro de Ibn Sina, traduzido para o latim, iria ser o principal manual de medicina europeu até, pelo menos, o século XVI.
A medicina, como os médicos [árabes] muçulmanos a entendiam, devia ser ensinada não nas escolas, mas nos hospitais que existiam nas grandes cidades. Foi como praticantes da arte da cura que os médicos muçulmanos deram suas mais importantes contribuições. Levaram adiante as técnicas de cirurgia. Observaram o desenvolvimento das doenças e descreveram-nas; Ibn al kathib (1313-1374) foi talvez o primeiro a compreender o modo como a peste se espalhava por contágio. Já se disse que a farmácia como instituição é uma invenção islâmica.
(HOURANI, Albert. Uma história dos povos árabes. p. 209-10. Adaptado.)
Matemática
Na matemática, os árabes desenvolveram a aritmética e divulgaram os algarismos indo-arábicos. Os números que usamos no dia-a-dia são chamados indo-arábicos por terem sido trazidos da Índia pelos árabes. Foi o matemático árabe Al-khwarismi quem primeiramente os utilizou. Imagine como daria trabalho fazer uma simples conta de subtrair usando os algarismos romanos:
CXX – XXXII = LXXXVIII
120 – 32 = 88
Os árabes também foram os criadores do número zero, a partir do qual se construiu o sistema decimal.
Veja o que um historiador diz sobre o assunto:
No mundo moderno é difícil imaginar um sistema numérico sem o zero. Sem ele todo o conceito da matemática abstrata seria impossível, uma vez que nos possibilita expressar a diferença entre duas quantidades iguais, como : 2 – 2 = 0. O zero é também fundamental para muitas outras ciências inclusive a física, a química e a astronomia. Os sábios islâmicos representaram o conceito de zero com um ponto ou um pequeno círculo. Sua palavra para esse círculo era sifr, que indicava algo vazio. Quando passada para o latim, tornou-se zephirum e mais tarde, em italiano zero. O português reteve-se como zero, conservando também a palavra original árabe sifr, como cifra.
Na química descobriram novos compostos, como o álcool e o ácido sulfúrico, que têm várias aplicações na indústria.
Na literatura, os árabes muçulmanos revelaram-se imaginosos como se pode concluir, lendo As mil e uma noites, uma coletânea de histórias mundialmente conhecida.
fonte: BOULOS JUNIOR, Alfredo: coleção História Sociedade & Cidadania