"O DOMINGO SANGRENTO RUSSO": um registro falso, mas que não apaga a veracidade do fato
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"O DOMINGO SANGRENTO RUSSO": um registro falso, mas que não apaga a veracidade do fato


Ilustração do episódio conhecido com Domingo Sangrento, ocorrido na Rússia em janeiro de 1905.


A Rússia em 1905 era um império extremamente desigual. A maior parte da população, e falo de cerca de 80% de uma população de aproximadamente 180 milhões de habitantes, vivia em condições difíceis, seja no trabalho pesado do campo ou na estafante jornada de trabalho operária. Além disso, consternava sobre essa mesmíssima população, um governo autocrático que suplantava os direitos naturais inerentes à cidadania. Bom... Não podemos considerar a Rússia como o único mau exemplo da época no que se refere a garantia de direitos, mas era palpável nas principais nações do mundo um avanço nesse sentido desde o século XVII a partir da Revolução Inglesa. Aos russos era vetado o direito ao voto, à manifestação ou reivindicação, também lhes era proibido qualquer forma de organização partidária, dentre outros direitos hoje considerados essenciais.
A imagem acima é facilmente encontrada nos livros didáticos da disciplina de História procurando ilustrar o episódio conhecido como “Domingo Sangrento”. Este evento nada mais foi que “o divisor de águas” na história do czarismo russo (Czar ou Tzar que em português significa imperador). Massacrados pela excessiva jornada de trabalho, uma exorbitante carga tributária, as humilhantes derrotas do exército russo e as suas conseqüências para a população no processo de tentativa de expansão do império no continente asiático, milhares de trabalhadores russos em 9 de janeiro de 1905, marcharam pacificamente em protesto com uma petição em mãos, rumo ao Palácio de Inverno, em São Petersburgo, sede do governo czarista. Nesta petição, algumas reivindicações pontuadas como a redução da carga horária de trabalho para oito horas diárias, o estabelecimento de um salário mínimo, o excesso de impostos, a eleição de uma Assembléia Constituinte sob a forma de sufrágio secreto, igual e universal. Ao final do documento referido, os trabalhadores russos ressaltam:
“Não recusai ajuda ao vosso povo. Destruí o muro que se levanta entre vós e o vosso povo.”
De frente ao Palácio de Inverno, suplicando atendimento do czar Nicolau II, os manifestantes são recebidos com disparos realizados pela polícia czarista. Repare na imagem proposta, o momento em que os oficiais czaristas (na parte de baixo) disparam contra a multidão (na parte de cima) que se dispersa em desespero. Os resultados da estúpida ação tomada pelo governo foram cerca de mil mortes e uma indignação extrema por parte da população que a partir dali, não via mais na figura do czar Nicola II, alguém que merecesse respeito ou obediência, alguém que fosse digno de governar o país. Com a insatisfação generalizada e com alguns grupos revolucionários já organizados, o governo czarista não se perpetuaria por muito tempo.
A imagem aqui proposta foi escolhida de forma proposital. Não seria pela sua simples leitura que eu dedicaria uma postagem a mesma, mas pelo fato desta fotografia esconder uma das maiores falcatruas da história. Gostaria de chamar a atenção dos amigos historiadores e curiosos, para o cuidado que se deve ter ao trabalhar uma imagem em sala de aula, ou até mesmo, nos estudos próprios, principalmente quando estas estão ligadas ao período revolucionário russo. No início da postagem eu disse que essa fotografia é comumente encontrada em livros didáticos para ilustrar o episódio conhecido como “Domingo Sangrento”, aliás, é geralmente apresentada como um registro verídico (fonte histórica primária) deste momento histórico.
Contudo, é preciso ter cautela já que a edição de imagens era uma forte ferramenta usada para a “reconstrução” da história do Josef Stalin, exaltando-o e consolidando-o como um ícone da revolução em si. Diante desta pontuação, afirmo-lhes que esta imagem do “Domingo Sangrento” é falsa, trata-se de um fotograma do filme Nove de Janeiro, dirigido por Vyacheslav Viskovsky, em 1925.
Diante deste problema, sugiro a leitura da reportagem da revista Veja, publicada em 1997, intitulada “O pai da mentira”. Para ler é só clicar aqui
Para encerrarmos, não poderia deixar vocês sem outra sugestão de imagem para se trabalhar tal temática.
O massacre do "Domingo Sangrento" por Ivan Vladimirov

Trata-se de uma pintura de Ivan Vladimirov que também retrata o massacre do “Domingo Sangrento”. Esta sim, não é falsa e dá para se trabalhar os elementos simbólicos ali contidos como, por exemplo, o clima daquele dia, a separação de dois mundos antagônicos, o do poder real e da corja aristocrática que o apoiava e o mundo dos trabalhadores que continuara por vários anos ainda a luta por melhores condições de vida.

Forte abraço e saudações históricas!






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